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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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Sem-terra diz querer terra, não programas

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A sem-terra Marlene Vieira de Lima, 37, entregou ontem ao presidente Lula uma carta em nome de 12 acampamentos de Goiás pedindo assentamento. Ela estava encostada no cordão de isolamento quando o presidente passou e apertou sua mão.
"Aproveitei e coloquei a carta na mão dele. Ele perguntou pra mim: tem endereço? E eu respondi que sim." Há quatro anos ela decidiu largar o emprego de empregada doméstica em Jandaia (GO), em que ganhava R$ 60, e se mudar para Paraúna (GO), depois de ter a promessa "dos companheiros" de que em dois meses teria um pedaço de terra para trabalhar.
Hoje, ainda mora em um barraco improvisado, sem luz elétrica, num acampamento da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).
"Não podemos ficar com os braços cruzados. A gente quer a nossa terra, não quer depender desses programas como Bolsa-Família, Bolsa-Escola", disse ela. A sem-terra tem três filhos - de 15, 18 e 20 anos.
Maria dos Humildes, 37, mãe de três filhos (um, dois e três anos), varreu parte do centro de convenções à espera do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela mora em Flores do Goiás (GO). "A gente tem que arrumar a casa quando recebe visita."
A chegada de Lula ao Expo-Brasília causou tumulto, empurra-empurra e muita discussão. Lula discursou para 4.000 sem-terra -dezenas deles, de mãos dadas, formaram um cordão de isolamento de cinco metros.
De acordo com organizadores do MST, os repórteres fotográficos e cinegrafistas não poderiam acompanhar a chegada do presidente porque havia crianças pequenas no local. Os jornalistas, porém, ultrapassaram o cordão, e a confusão se instalou.
O presidente do PT, José Genoino, precisou intervir e segurar integrantes dos movimentos e jornalistas para evitar que houvesse briga.
Um cinegrafista machucou o lábio e, segundo o MST, uma criança ficou levemente ferida na boca.

"Gordo"
No início do discurso, Lula fez uma brincadeira com Isabel, 10, que o chamou de "gordo". "Eu não posso me conformar que uma menininha desaforada, como disse dom Tomás Balduíno, depois do sacrifício que estou fazendo para emagrecer, me chame de "o gordo". Não é possível", disse.
Foi dom Tomás Balduíno, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), que, durante a prece, contou que a menina afirmou ter ido ao encontro para "ver o gordo".


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