São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI NA MIRA

Presidente elogia Palocci e afirma que país "navega com tranqüilidade, sem tsunamis"

Lula diz que política econômica é do governo e não de ministro

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em tom de desabafo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem em solenidade no Palácio do Planalto a atuação de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, disse porém que a política econômica é uma responsabilidade de todo o governo federal e afirmou que o país está crescendo mesmo diante de uma "crise do denuncismo". Disse ainda que a "pequenez eleitoral" não vai tirar a seriedade de sua administração.
Diante de ministros, empresários e parlamentares, mesmo admitindo "não entender muito de economia", Lula disse durante a sanção da chamada "medida provisória do bem" que os rumos dessa política não mudam nem por razões eleitorais e que -numa comparação do Brasil com um navio em alto-mar- o país navega com tranqüilidade sem a possibilidade de ser atingido por um "tsunami".
"Que país e que governo cresceriam no ano de 2005 subordinados à crise de denuncismo que nós estamos vivendo neste país? Quem suportaria, qual interesse de um empresário alemão, inglês ou francês, sueco ou finlandês, venezuelano, argentino, iria querer investir no Brasil, se ele acessar a internet e vir a quantidade de matérias negativas contra o país como ele vê?", questionou o presidente, que completou: "Entretanto, mesmo com a profundidade da crise, mesmo com o denuncismo, até agora não provado, o dado concreto é que a economia brasileira continua funcionando".
Em seu discurso, que durou meia hora e no qual por seguidas vezes socou o púlpito à sua frente, o presidente disse que a "política econômica é muito menos mágica e muito mais seriedade".
A solenidade de ontem reuniu pela primeira vez num evento público os ministros Palocci, Paulo Bernardo (Planejamento) e Dilma Rousseff (Casa Civil) desde que as discordâncias entre eles sobre gastos do governo se tornaram públicas. "Como uma boa celeuma não é bom apenas na política e no futebol, ela vale também para a prática da governabilidade", afirmou o presidente.
Em outra referência às discordâncias entre Palocci e Dilma, disse que, em seu governo, "há espaço para que os ministros possam ter pensamentos diferenciados".
Diante de Dilma, Lula elogiou Palocci em pelo menos dois momentos de sua fala improvisada. Na primeira vez, quando atribuiu ao ministro o êxito na aprovação da "MP do Bem": "Eu quero aproveitar para dizer a todos vocês que esta medida não seria possível de acontecer se não fosse o trabalho do companheiro Palocci". Depois, já no final de seu discurso, manifestou seu desejo de manter o ministro no comando da economia: "Quero dizer para vocês que o ministro Palocci é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim".
O presidente fez questão de ressaltar, porém, que a política econômica é do governo, e não de Palocci. "Neste governo, não tem política econômica do ministro Palocci, tem política econômica do governo, que envolve toda a complexidade do que significa o governo."

Eleições
Nos primeiros dez minutos, ele leu o discurso preparado por sua assessoria, em que dizia que não mudará sua conduta por conta de razões eleitorais. "Continuarei fazendo na economia, como em todas as áreas de governo, aquilo que é melhor para o país. Não mudarei em nada a minha conduta por razões eleitorais. Estamos governando para as atuais e para as próximas gerações, não cortejei nem cortejarei o êxito fácil."
A seguir, já de improviso, saiu em defesa da política econômica e deu novas alfinetadas na imprensa, quando disse ter ficado "estarrecido" ao ver seus elogios a Dilma, na semana passada, nas manchetes dos jornais.
O discurso também foi todo recheado de ataques à oposição. Em diferentes momentos, em meio a raciocínios econômicos, o presidente criticou seus antecessores e ligou a atual crise política a um clima eleitoral motivado por seus adversários. Na semana passada, num "lapso", segundo ele, admitiu sua candidatura à reeleição.
Ontem, negou preocupação com as eleições: "Não estou preocupado. Até porque muita mentira tem perna curta. E o povo brasileiro é mais sábio e mais inteligente do que aqueles que pensam pequeno podem compreender".


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