São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOIÁS

Documento do Banco Central enfraquece versão de que Valdemar Zaidem Sobrinho foi beneficiário do desvio de R$ 5 milhões

Relatório ajuda advogado no caso Caixego

RONALD FREITAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório do Banco Central descrevendo o caminho percorrido pelos R$ 5 milhões devolvidos aos cofres da Caixego (Caixa Econômica do Estado de Goiás) desde o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) enfraquece a versão de que o advogado Valdemar Zaidem Sobrinho foi o grande beneficiário do desvio, ocorrido em 1998.
O dinheiro sacado a mais teria sido gasto na campanha para o governo do Estado do senador Iris Rezende (PMDB), de acordo com denúncia do Ministério Público. Iris nega ter sido beneficiário do desvio.
Nos últimos dois anos, Zaidem foi acusado por Edivaldo Andrade, ex-liquidante da Caixego, de ter ficado com o dinheiro. A versão era reforçada por Isaías Carlos da Silva, ex-subprocurador-geral do Estado, que acusava o advogado de lhe ter entregue o dinheiro devolvido de surpresa aos cofres da Caixego, em março de 2000, após o desvio tornar-se público.
Zaidem sempre admitiu ter recebido o cheque de R$ 5 milhões, com a ressalva de tê-lo endossado na presença e a pedido de Andrade. "Endossei e entreguei ao Edivaldo", diz. O advogado afirma que o cheque foi emitido em seu nome a pedido de Andrade.
Na época, Zaidem era assistente de Élcio Berquó, representante de 124 ex-servidores da Caixego que cobravam indenização trabalhista do banco estadual. Como pagamento por seu trabalho, Zaidem recebeu R$ 460 mil. "Um valor inferior aos 10% do valor da indenização que eu tinha acertado com o Berquó", diz o advogado.

Empresa
A versão de Zaidem ganha credibilidade com o relatório do BC. O documento informa que o dinheiro devolvido à Caixego saiu dos cofres do BNDES na forma de empréstimo para uma conta bancária da empresa Alstom do Brasil Ltda., que manteve contrato de fornecimento de equipamentos de geração de energia elétrica com o governo de Goiás na primeira gestão de Iris (1983-1987).
Da Alstom, o dinheiro foi para uma conta da metalúrgica mineira Indústria Ferroviária Nacional antes de chegar na conta do doleiro Joaquim Elias de Andrade, de onde saiu para a Caixego.
O desvio foi planejado às vésperas do pagamento da indenização trabalhista. O valor original era de R$ 14 milhões, confirmado posteriormente pela Justiça do Trabalho, mas um acordo com os ex-servidores reduziu o montante.
O saque de R$ 10 milhões foi fruto de "um acerto entre representantes do governo e da Caixego", segundo Zaidem. "Para justificar a sobra, disseram que o dinheiro seria usado para recolhimento de impostos e encargos trabalhistas", diz o advogado.


Texto Anterior: Livros: Algodões entre a cruz e a espada
Próximo Texto: Outro lado: Acusados de envolvimento não são localizados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.