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AGENDA PETISTA
Presidente diz que reforma tributária só sai com concessões
Lula pretende dividir perdas fiscais com governadores
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar aprovar a reforma
tributária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer dividir com
os governadores as perdas inevitáveis de arrecadação com uma
reformulação do sistema de impostos. Anteontem, em encontro
com governadores do Nordeste,
Lula deu esse recado claramente.
"Vamos fazer logo uma reunião
em fevereiro sobre reforma tributária. Essa reforma só vai sair se
vocês quiserem e aceitarem perder alguma coisa", afirmou Lula,
ao receber em seu gabinete cinco
governadores do Nordeste e um
vice-governador da região.
Num tom bem-humorado, segundo os governadores, Lula disse: "Precisamos tentar aprovar a
reforma tributária porque, se o
assunto ficar só por conta dos secretários estaduais da Fazenda e a
Receita Federal, não sai. Esse pessoal só pensa em arrecadar mais".
Lula disse ainda que, se necessário, seu encontro com todos os
governadores poderia durar dois
dias. "A gente faz um churrasco",
brincou ele, que inaugurou um
estilo informal na Presidência,
bem diferente do modelo mais cerimonioso adotado pelo antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Já é um ritual de Lula a "reunião-churrasco", e esse deverá ser o
formato do encontro com governadores previsto para fevereiro.
A Folha apurou que a idéia é
iniciar a discussão em fevereiro,
enviar um projeto ao Congresso
no segundo semestre e aprovar
completamente a reforma tributária na primeira metade de 2004.
A ressurreição dessa reforma
como prioridade ocorreu depois
de a equipe econômica ter ensaiado um recuo no tema que foi uma
das principais promessas de campanha de Lula.
O fracasso na realização da reforma durante os dois mandatos
de FHC também foi alvo de crítica
dura do PT. A suspeita que levou
Lula a recolocar o tema na pauta é
a de que, com a chegada do PT ao
poder, seria mais cômodo não reformular o sistema tributário, assunto que desperta muita resistências nos Estados, municípios e
empresariado.
Por isso, após a posse, Lula passou a colocar a reforma previdenciária em primeiro plano. Na reunião com governadores tucanos
no final de 2002, o então presidente eleito recebeu sinal claro de que
os governadores preferiam realizar primeiro a previdenciária.
Na época, os governadores eleitos Aécio Neves (MG) e Lúcio Alcântara (CE) defenderam a priorização da reforma previdenciária, argumentando que a tributária seria mais complicada.
"O presidente foi bastante sincero no seu desejo de fazer a reforma tributária. Se depender dele, sai. O problema é chegar a um
denominador comum, porque
ninguém quer perder receita",
disse Alcântara, que esteve anteontem com Lula na companhia
dos governadores Wilma Faria
(PSB-RN), Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB), João Alves (PFL-SE)
e Ronaldo Lessa (PSB-AL). O vice
do Piauí, Osmar Júnior (PC do B),
também foi ao Planalto.
Do ponto de vista dos Estados, o
principal ponto de discórdia é a
idéia da União de fixar por lei federal limites para a guerra fiscal.
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, propõe a redução
das atuais 44 alíquotas diferentes
de ICMS para quatro ou cinco. O
problema é que a diferenciação de
alíquotas se tornou a principal arma da guerra fiscal. Para atrair investimentos, Estados diminuem a
alíquota, gerando efeito cascata
de perda de arrecadação.
Outro ponto polêmico é a eventual fixação de alíquota maior do
que a atual (27,5% ao mês) para o
Imposto de Renda das Pessoas Físicas. No PT, há quem defenda
alíquota de 35% como teto.
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