|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESQUERDA NO DIVÃ
Do Fome Zero à rendição econômica, governo petista vai ocupar o centro das discussões em Porto Alegre
Dividido, Fórum Social critica e assimila Lula
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
Dois anos depois do início do
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, o Fórum Social Mundial
volta ao Brasil polarizado pelo petista. De um lado, ONGs brasileiras e estrangeiras organizam
eventos e palestras relacionados à
sua principal bandeira social, o
combate à fome. De outro, movimentos sociais e sindicais farão
balanços críticos da gestão Lula.
Sob títulos como "Segurança e
Soberania Alimentar x Acordos
Comerciais", "Segurança Alimentar entre Indígenas e Quilombolas" e "Desenvolvimento da Agricultura Familiar: garantindo a Soberania Alimentar", o combate à
fome ganha espaço na esquerda
internacional e no fórum impulsionado por Lula, avalia Oded
Grajew, integrante do Conselho
Internacional do encontro e um
de seus idealizadores.
"Essa é uma bandeira do governo Lula que ganhou o mundo e foi
colocada na agenda mundial", declarou Grajew.
Ao mesmo tempo, a partir da
quarta-feira que vem até a segunda seguinte, quando a reunião
que nasceu como contraponto ao
Fórum Econômico Mundial e à
globalização acontece em Porto
Alegre (RS), também serão debatidos temas como "As Reformas
Neoliberais do Governo Lula", "O
Governo Lula e o Rumo das Esquerdas" e "Dois Anos de Lula:
onde estávamos, onde estamos e
para onde vamos".
O tom das palestras e eventos
promete ser claramente distinto
do clima vivido em 2003 (em
2004, o Fórum aconteceu na Índia, e a política brasileira perdeu
centralidade nas discussões),
quando o encontro se deu menos
de um mês após a posse. Embora
já houvesse clareza sobre a linha
ortodoxa da política econômica,
uma parte maior da esquerda
acreditava à época na possibilidade de mudança de rumos.
Para o economista Plínio de Arruda Sampaio Jr., que participará
na capital gaúcha de um debate
sobre a administração petista, "o
fórum de 2003 foi muito influenciado pela vitória de Lula", o que
gerou, ele diz, boa dose de esperança e também de "ilusão".
"Passados dois anos, esse é um
fórum mais cindido. Esse é o fórum da desilusão", declara.
Essa cisão, ele diz, manifesta-se
numa "versão" do fórum com
uma pauta mais próxima ao governo e noutra, mais crítica.
"A organização sempre foi muito tensionada por essa disputa entre governo e crítica do governo",
diz o economista.
Já Grajew afirma que a crítica e o
balanço da administração petista
são "fundamentais" e que o Comitê Organizador não interfere
na seleção de palestras e debates,
propostos independentemente
pelas diferentes organizações e
pelos movimentos sociais.
"A única seleção segue a nossa
carta de princípios -não há
evento de governo nem a presença de organizações de forças armadas", ele diz.
Mesmo entre os debates ligados
à bandeira social de Lula, no entanto, alguma crítica é esperada.
Vilmar Schneider, coordenador
para a América do Sul da ONG
Foodfirst Information & Action
Network, que participará em Porto Alegre de encontros sobre segurança alimentar, elogia a iniciativa do Fome Zero, mas diz que
Lula criou expectativas na esquerda mundial que ainda não foram
concretizadas.
Para ele, não há dúvida de que
existe um problema de fome no
país, apesar da recente pesquisa
do IBGE que mostrou apenas 4%
de pessoas adultas abaixo do peso
ideal no Brasil, e que só os programas assistenciais não serão suficientes para sanar a questão.
Schneider afirma que a política
econômica tende a ampliar a fome no país. "O Fome Zero responde a um aspecto desse direito
à alimentação para pessoas em situação de fome, mas o Estado não
deveria se limitar a isso", diz.
Texto Anterior: Reforma sem fim: Ida de Ciro ao PMDB enfrenta resistências Próximo Texto: Organização espera até 2 mil voluntários Índice
|