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ELIO GASPARI
Se o PT morrer, viva o pt
O massacre da diretoria da
Embrapa mostra que o
mandato de Lula entrou na sua
segunda metade. Na primeira o
companheiro aparelhou a máquina do Estado, travando-a. Na
segunda, prossegue o expurgo iniciado no último trimestre de
2004. Antes do remanejamento
da Embrapa foram para o espaço
o presidente do BNDES, Carlos
Lessa (um lulista de coração), o
secretário-executivo do Ministério da Saúde, Gastão Wagner, e
sua similar da Fome, Ana Fonseca.
É significativa a ênfase com que
se informa que Silvio Crestana, o
sucessor de Clayton Campanhola
na Embrapa, não é do PT. O que
era condição passou a ser estorvo.
Da mesma forma, é significativo o
esperneio do PT maranhense contra a ascensão de Roseana Sarney
ao ministério.
Há um PT sobrando e outro,
novo (nem por isso melhor), mostrando vigor e determinação. Ele
pode ser percebido na vitalidade
da candidatura do deputado Virgílio Guimarães à presidência da
Câmara. É um PT que conhece
também as minúcias da Comissão de Orçamento e as relações
com fornecedores do governo. Seria injusto dizer que esse PT encanta as empreiteiras. Graças às
PPPs elas se aninharam junto ao
altíssimo clero do governo.
É possível que a mudança da
Embrapa tenha ocorrido para o
bem de todos e felicidade geral da
agricultura brasileira. Nesse caso,
o erro teria sido aparelhá-la.
Ana Fonseca e Gastão Wagner
deixaram os ministérios da Fome
e da Saúde, mas não há notícia de
melhora do desempenho dos
companheiros Patrus Ananias e
Humberto Costa. Continuam desastrosos.
Boca livre
Dificuldades para planejar suas
férias? Procure a PhArma, entidade que congrega os grandes
laboratórios americanos. Ela está arrebanhando um grupo de
parlamentares brasileiros para
um seminário sobre patentes na
Universidade de Georgetown. O
roteiro levará o grupo a diversas
cidades, inclusive Nova York.
Entre os patrocinadores do programa estão os laboratórios
Merck, Pfizer e Johnson. Inicialmente, só estão incluídos nessa
boca-livre oito ou dez parlamentares. Nenhum deles está
convidado para falar no seminário de Georgetown. CPI vai, CPI
vem, os laboratórios não aprendem a defender seus interesses
sem se meter nesse tipo de romance. Como Deus é global, o
Merck, o Pfizer e o Johnson deveriam oferecer a pelo menos
dez eleitores (e clientes) brasileiros uma boca-livre semelhante à
que dão aos eleitos.
Cadeado
A liderança do PT na Câmara fez
saber aos comissários do Planalto que, no quadro de hoje, a medida provisória 232 não passa.
Ela aumenta de 32% para 40% a
carga tributária de milhares de
empresas de serviços.
A vez dos EUA
A ekipekonômica obteve de Lula uma atitude de distância no
caso da renegociação da dívida
argentina. O companheiro negou a Kirchner até mesmo um
apoio condicional, como o que o
presidente francês Jacques Chirac ofereceu na semana passada.
Tudo bem, porque o Brasil agradou ao FMI e aos americanos. A
banca gostaria muito que Lula
condenasse a proposta argentina durante a reunião de Davos.
Os aprendizes de feiticeiro correm o risco de ver os americanos
atraindo o governo de Néstor
Kirchner para a negociação da
Alca, isolando o Brasil. Como
dizia o presidente Calvin Coolidge (1923-1929): "O negócio
dos Estados Unidos
são os negócios".
Um ou três
O comissário José Genoino tem
sido leal ao deputado Luiz
Eduardo Greenhalgh, candidato do PT à presidência da Câmara, mas na semana passada
disse o seguinte: "O PT não terá
dois candidatos e não existe
possibilidade de recuo da decisão da bancada. Vamos manter
o apoio a Greenhalgh para o
que der e vier". De duas, uma:
1) Genoino não quis dizer nada;
2) Genoino ainda acredita que
Virgílio Guimarães retire sua
candidatura; 3) Genoino insinua que Virgílio poderá ser
desligado do PT. Fora isso, só se
no dia da votação o candidato
do PT for só um, mas nenhum
dos dois.
Grande doido
Hugo Chávez pode ser doido,
mas o Brasil já precisou de um
maluco como ele. Os colombianos seqüestraram um cidadão
em território venezuelano e
Chávez chutou o pau da barraca. Pois em 1978, durante o governo do general Ernesto Geisel, uma patrulha da polícia
uruguaia invadiu e ocupou o
apartamento de um casal de
militantes de um pequeno partido esquerdista, em Porto Alegre. Manteve os dois (e duas
crianças) presos no apartamento, como iscas, esperando que
outros militantes os procurassem. Os uruguaios trabalharam
com apoio material e pessoal
do Dops gaúcho e da Polícia Federal. O casal (Lilian Celiberti e
Universindo Diaz) foi levado
para Montevidéu. Gramaram
cinco anos de prisão, e ela ficou
incomunicável por quatro meses. O governo brasileiro fingiu
que não viu. Se não fosse a gritaria de Raymundo Faoro, presidente da OAB, o caso teria
passado despercebido. Geisel
foi substituído pelo general
João Figueiredo e jamais se admitiu que a polícia uruguaia invadiu o território brasileiro para praticar um seqüestro. Hoje,
Celiberti é uma destacada militante feminista no Uruguai.
Internet cara é coisa de pobre
Quando a competição funciona, o capitalismo vive melhor.
Dentro de poucos anos (dois, no
máximo) algumas cidades americanas e européias terão custos
de acesso à internet menores que
as brasileiras. Filadélfia (5 milhões de habitantes) promete cobrir toda sua área pública urbana com uma rede de acesso grátis, veloz e sem fio. O sujeito senta na praça em frente ao sino que
em 1776 chamou o povo para
ouvir a Declaração da Independência, liga seu computador e
acha esta coluna na rede, sem
desembolsar um ceitil. Os escritórios e residências continuarão
pagando a tarifa da banda larga,
e a prefeitura promete um serviço a custo zero para quem precisa de ajuda.
As redes de internet sem fio já
funcionam em cerca de 20 cidades americanas. O prefeito de
Nova York, Michael Bloomberg,
quer cobrir toda a cidade. São
Francisco também. Do outro lado do Atlântico, Bruxelas deverá
ser a primeira capital européia a
oferecer a mesma facilidade. Na
Califórnia, a empresa SBC cobrará dos seus clientes US$ 2
adicionais por mês pelas conexões de rua, sem limite de tempo. Atenderá até nas barracas de
camping dos 85 parques públicos do Estado.
Em Filadélfia a rede custará
entre US$ 7 milhões e US$ 10 milhões, cerca de US$ 30 mil por
quilômetro quadrado. De onde
virá esse dinheiro? De uma Parceria Público-Privada. Em vez de
sair por aí vendendo concessões
de serviços velhos, a PPP dos capitalistas de verdade estabelece-se em cima de um serviço inovador, que contraria os interesses
estabelecidos dos concessionários. É a tal "destruição criativa".
A Verizon, que opera em Filadélfia, aderiu ao projeto.
Uma cidade coberta pela internet sem fio poderá arquivar boa
parte da sua infra-estrutura telefônica. Isso porque a comunicação de voz pela rede fará brutal
concorrência aos sistemas conhecidos hoje. É a tal "voz sobre
IP", do qual os concessionários
de telefonia brasileiros não gostam nem de ouvir falar.
O governo de Lula conseguiu
um avanço ao negociar uma tarifa para microempresas e famílias sem recursos. As operadoras
cobrarão R$ 5 por 15 horas mensais de conexão. É pouco tempo,
mas é muita coisa. Indica a vontade de tirar o pé do Brasil da lama.
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