São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2000


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GOVERNO
Demissão do presidente do BNDES teria sido acertada há uma semana; Gros é cotado para o cargo
Tápias pede a demissão de Calabi

Ichiro Guerra/Folha Imagem
Andrea Calabi (esq.) e Alcides Tápias, após reunião do Conselho Nacional de Desestatização


ELIANE CANTANHEDE

Diretora da Sucursal de Brasília


DAVID FRIELANDER

da Reportagem Local


O ministro Alcides Tápias (Desenvolvimento) demitiu ontem o presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Andrea Calabi.
O ministro vinha reclamando há tempos, inclusive com o presidente Fernando Henrique Cardoso, do estilo de Andrea Calabi. O ministro fala de menos e o presidente do BNDES falava demais. Tápias afirmava que não tinha afinidade com seu subordinado.
A demissão de Calabi estava praticamente acertada entre Tápias e FHC há uma semana, mas até ontem à noite não havia confirmação do Planalto.
O substituto de Calabi deve ser o ex-presidente do Banco Central Francisco Gros, nome indicado por Armínio Fraga, atual presidente do BC, que também não simpatizava com Calabi.
As últimas declarações de Calabi que irritaram Tápias foram em relação à reestruturação do setor petroquímico. Tápias reclamou que era um setor muito delicado, que envolve muito dinheiro e que as declarações de Calabi poderiam atrapalhar toda a operação. Calabi apoiava as pretensões do Grupo Ultra par adquirir o controle da Copene, com o apoio do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).

Serra
Calabi foi indicado para o cargo pelo ministro José Serra (Saúde) e participa do grupo considerado "desenvolvimentista" ou "nacionalista". Queria limitar os financiamentos a empresas estrangeiras que comprassem estatais brasileiras.
Calabi e Tápias participaram ontem da reunião do Conselho Nacional de Desestatização (CND) no Palácio do Planalto, cuja pauta foi a privatização do setor elétrico. Depois eles discutiram investimentos com o presidente da Volkswagen e deram entrevista juntos. Saíram dali e foram para o Ministério do Desenvolvimento. No gabinete do ministro, tiveram a conversa definitiva. A demissão de Calabi, que já reclamava de desconforto na sua relação com Tápias, foi considerada como conflito de estilos. O ministro se sentia desautorizado por Calabi, que, teoricamente, era seu subordinbado.
Ontem à noite, Calabi declarou: "Formalmente, eu hoje estou presidente do BNDES. Qualquer pergunta deve ser dirigida ao ministro Tápias, porque o cargo pertence a ele. Qualquer decisão pertence a ele". Calabi volta hoje para o Rio, onde tem almoço marcado com o comitê empresarial da América Latina.
Muitos, entretanto, acham que o BNDES tem mais poder político e econômico do que o próprio Ministério do Desenvolvimento.
O ministro trabalha com três nomes para o cargo, mas não abriu nenhum deles nem para seus assessores mais diretos.
Desde que foi idealizado pelo ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, que era das Comunicações e seria transferido para a nova pasta, o ministério já trocou de nome e está no terceiro ministro.
Seria Ministério da Produção e virou Ministério do Desenvolvimento. Seu primeiro ministro foi Celso Lafer. O segundo foi Clovis Carvalho, e o terceiro é Tápias.
O BNDES é um órgão cada vez mais estratégico para o governo FHC, porque dispõe de muitos recursos para financiar projetos de estímulo sobretudo à indústria nacional.
Calabi, que foi cotado para o Ministério do Desenvolvimento quando Tápias assumiu, queria dar uma guinada "nacionalista" no BNDES.


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