São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Presidente ainda tenta minimizar efeitos negativos do caso Waldomiro no governo

Lula volta a falar da crise em seu programa de rádio

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na tentativa de minimizar o desgaste do caso Waldomiro Diniz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usará hoje o seu programa quinzenal de rádio para defender o governo. Está prevista para depois de amanhã a primeira reunião de Lula com os principais ministros a fim de avaliar o efeito do Carnaval sobre a crise política.
No programa "Café com o presidente", Lula fará a segunda menção pública ao caso Waldomiro. Esse programa tem grande repercussão em pequenas e médias cidades, atingido principalmente camadas mais populares.
O governo, que já tem pesquisa mostrando que a maioria dos entrevistados acha "importante" uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o caso Waldomiro, reage à crise de forma mais agressiva desde que proibiu os bingos de funcionar na sexta-feira passada via medida provisória.
Para rebater o discurso da oposição de que há crise de governabilidade, Lula tentará mostrar que a rotina administrativa continua intocada. Exemplo: abordará no rádio os problemas causados pelas enchentes. Deverá dizer que o governo já anunciou a liberação de R$ 339 milhões para o combate aos prejuízos provocados pelas chuvas, bem como a possibilidade de liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para pessoas cujas casas foram danificadas ou destruídas
Em relação ao caso Waldomiro, Lula deverá seguir a linha adotada na sexta, quando declarou: "O presidente tem de ser o pai de uma grande família. Não pune ninguém. Não castiga ninguém sem ter certeza do que está fazendo". Deverá repetir que demitiu Waldomiro e que mandou a PF (Polícia Federal) investigar o caso. Voltará a afirmar que não deixará suspeitas sobre o seu governo sem apuração firme.

Homem de confiança
Homem da confiança do ministro da Casa Civil, José Dirceu, Waldomiro aparece em vídeo gravado em 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo do bingo, Carlinhos Cachoeira. Na época, Waldomiro presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio), no governo Benedita da Silva (PT). Em 2003, Dirceu o nomeou para a Subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil. Nesse cargo, ele se reuniu com Cachoeira e representantes de empresa interessada em renovar contrato com o governo federal.
Há alguns auxiliares fazendo um monitoramento de rotina sobre a repercussão do caso Waldomiro durante o Carnaval. É considerada natural a diminuição do espaço dado ao escândalo pelos órgãos de mídia. O Senado, onde há pedido de CPI, prolongará o recesso de Carnaval até o início de março, contribuindo para a tentativa de diminuir a temperatura política, especialmente em relação a Dirceu -cuja cabeça é pedida pela oposição.
Por ora, a decisão de Lula e da cúpula do governo é manter Dirceu no cargo. No entanto, nas análises sobre cenários de evolução da crise, o presidente deixa claro que a prioridade é preservar o governo. Ou seja, não descarta afastar Dirceu temporariamente. O próprio Dirceu, em conversas na semana passada, colocou o cargo à disposição do presidente.
O governo também avalia que, depois de amanhã, terá mais clara a repercussão da proibição dos bingos. Terá também medida da reação dos bingos, que deverão iniciar batalha judicial para manter as portas abertas.


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