São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Grupo da prefeita, que não mantém boas relações com o chefe da Casa Civil, está próximo de indicar vice na chapa pela reeleição

Marta se fortalece com crise de Dirceu

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo petista atrelado a Marta Suplicy saiu fortalecido do escândalo de corrupção envolvendo o ex-funcionário da Casa Civil Waldomiro Diniz e está próximo de fechar questão quanto à indicação de Rui Falcão como candidato a vice na chapa para a reeleição da prefeita de São Paulo.
Ao respingar na imagem do ministro José Dirceu, as denúncias contra Waldomiro acabaram por enfraquecer a tentativa da Casa Civil de "emparedar" a prefeita, impondo a ela um vice de outro partido -no caso o PMDB.
Dirceu, que não mantém relações muito cordiais com Marta Suplicy, era o principal defensor da tese dentro do PT e negociava a indicação do vice na chapa diretamente com o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia.
A estratégia é dificultar uma possível candidatura de Marta, caso ela seja reeleita, ao governo do Estado em 2006. Com um vice de outro partido, a petista dificilmente abandonará a prefeitura para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, seu principal projeto político. Ela já foi candidata em 1998, quando acabou derrotada.
Dentro do PT, no entanto, outras "estrelas" também acalentam o sonho de governar o Estado: o senador Aloizio Mercadante, outro petista que não está entre os mais próximos da prefeita, o presidente do partido, José Genoino, e o próprio José Dirceu.
Com o controle do diretório municipal do PT, restam a Marta poucos empecilhos para fazer de Rui Falcão, secretário de Governo de São Paulo, o seu vice. Entre eles, a resistência do PMDB, dono de um considerável tempo de TV, de compor a chapa com a petista sem indicar o vice-prefeito.
Mas, sem o impulso do ministro, principal articulador político do governo Lula e do próprio PT, a força do PMDB na negociação se reduz drasticamente.
No PMDB, que integra a base de apoio ao governo federal, a bancada paulistana de vereadores aceita fechar o acordo eleitoral para este ano sem o posto de vice, contentando-se com uma chapa proporcional de vereadores e a promessa de cargos em uma futura administração.
A Quércia, que controla boa parte do PMDB paulista, caberá agora aceitar a indicação de Falcão, secretário de Governo de Marta, como vice ou lançar um candidato próprio.

Divisão
Durante o ano passado, houve uma polarização no PT paulistano entre os petistas ligados à prefeita e aqueles próximos de Dirceu, hegemônicos até o final dos anos 90. A desarticulação teve reflexo na oposição exercida pelo PT na Assembléia Legislativa, onde a influência de Marta não é tão forte como na Câmara Municipal.
De um lado, deputados estaduais fiéis à prefeita, como Ítalo Cardoso, presidente do Diretório Municipal do PT, trabalhavam pela candidatura de Falcão. De outro, nomes mais ligados a Dirceu, como Cândido Vaccarezza, tentavam fazer valer a tese da composição com o PMDB.
Mesmo um deputado petista que não faz parte do grupo de Marta afirmou à Folha que, com o caso Waldomiro Diniz, a prefeita passará a ter controle quase total do PT paulistano.

Tucanos
Enquanto não define seu pré-candidato a prefeito, o PSDB busca munição para enfrentar o PT. O partido montou dois grupos de trabalho para "investigar" o caso Waldomiro Diniz e o caso Santo André -denúncias de corrupção na prefeitura da cidade do ABC administrada pelos petistas.
Deputados tucanos estiveram, inclusive, com o procurador-geral do Estado, Luiz Antonio Marrey, em busca de informações sobre as investigações do Ministério Público no caso da cidade paulista. Ouviram que a evolução da apuração depende da Polícia Civil.


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