São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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Perito do caso defende laudo elaborado na época

da Sucursal do Rio

O perito Elson Rangel Lopes, 55, trabalha desde 71 no Instituto Carlos Éboli. Ele diz ter assinado mais de 10 mil laudos nesse período.
Os três casos de maior repercussão em que atuou foram os das mortes de Zuzu Angel, da cantora Maysa Matarazzo, que bateu o carro na ponte Rio-Niterói, e do radialista carioca Waldir Vieira, que morreu devido a um escapamento de gás no motel Ebony.
Leia abaixo entrevista concedida por Rangel à Folha: (MM)

Folha - Por que o laudo não tem data de emissão?
Elson Rangel Lopes -
Ele tem a data do evento. Uma peça técnica nunca tem a data da confecção, mas do evento. Nesse caso, admite-se que o laudo foi feito nesse dia. Na verdade, foi concluído alguns dias depois.
Folha - O laudo é detalhado. Era esse o padrão da época?
Rangel -
Olha, já não se faziam laudos tão detalhados. É que foi um caso especial. Quando vai dar repercussão, explica-se bem.
Folha - Houve algum tipo de pressão para que fosse concluído rapidamente?
Rangel -
Eu fui informado que o governo da França pediu o laudo porque estava interessado em saber se Zuzu Angel estava envolvida em subversão, como seu filho, se havia panfletos ou coisas assim no carro. Não havia.
Folha - Mas não há relatos públicos de que a França tenha pedido ao governo brasileiro o laudo da perícia do caso Zuzu Angel.
Rangel -
Talvez tenham dito isso só para me apressar. Pode ser.
Folha - Pelo laudo, há marcas nas rodas dianteiras direita e esquerda provocadas por choque com o meio-fio da avenida, em ambos os lados. Por que não há nenhuma fotografia que comprove isso?
Rangel -
Vai ver que essas fotos estavam em outra parte do filme.
Folha - Mas o laudo descreve as 16 fotos anexadas.
Rangel -
É possível que a iluminação não estivesse boa, era de noite, o flash poderia estar fraco. Não foi feito detalhe de nada. De dia, quando voltamos, o carro não estava mais lá.
Folha - O laudo diz, na página 3, que "eram boas as condições de visibilidade e iluminação pública no local, durante os exames". O sr. disse que a visibilidade era boa o suficiente para concluir que "a acurada pesquisa, em toda a extensão da carroceria do veículo, não mostrou qualquer outra avaria que implicasse colisões que não as já citadas".
Rangel -
Eu tenho fé pública. Concordo que a fotografia ajudaria, mas tão importante quanto a foto é o que está descrito.
Folha - Uma foto mostra o asfalto iluminado sem as marcas de 28 m de "arrastamento de rodas pneumáticas" (pneus), entre os meios-fios esquerdo e direito da pista, descritas pelo sr.. Por quê?
Rangel -
(Vendo a foto) É estranho, não tem. Não é preciso ter foto. Eu tenho fé pública.
Folha - Por que o sr. anexou então 16 fotografias ao laudo?
Rangel -
Não se é obrigado a fotografar tudo.
Folha - O laudo afirma que a vítima aparentava "ter atingido quando em vida a idade de 55 anos". Como o sr. acertou a idade? Recebeu informações sobre Zuzu Angel antes de escrever?
Rangel -
Não. Eu, normalmente, digo a idade aproximada, costumo acertar.
Folha - O sr. disse que procuraria no caderno em que fez as anotações do caso alguma novidade. Encontrou?
Rangel -
Anotei que a marcha estava em quarta.
Folha - Por que o sr. não informou no laudo? Não lhe pareceu importante, para confirmar a tese de que estava a mais de 80 km/h?
Rangel -
Eu já tinha colocado muitos elementos. Não gosto de fazer laudo longo. Esse laudo poderia ter sido a metade do que foi.
Folha - O noticiário da época registra que o sr., no dia do acidente, considerava a possibilidade de o carro ter sido fechado ou de ela ter tentado se desviar de um objeto, como um pedestre. O laudo descarta essas hipóteses. Por quê?
Rangel -
Jornalista pode escrever qualquer coisa. O que vale é o laudo. Quando há interceptação de trajetória (fechada), o carro deixa avaria lateral no outro, o que não aconteceu.
Folha - O laudo diz que o Instituto Carlos Éboli foi chamado pela Polícia Civil às 3h10. Quando o senhor chegou ao local?
Rangel -
Às 3h20.
Folha - O laudo afirma que a perícia chegou depois de o corpo de Zuzu ter sido retirado do carro. Isso prejudicou o seu trabalho?
Rangel -
Não houve prejuízo para a dinâmica da perícia. O pessoal chega, a intenção é socorrer. Não sei quem tirou o corpo.
Folha - Testemunhas dizem que houve um atentado de órgãos de segurança do regime militar.
Rangel -
Isso é criação, montagem deles. Por que não falaram logo após? Isso é testemunha de viveiro. Há algum interesse por aí.



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