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Perito do caso defende laudo elaborado na época
da Sucursal do Rio
O perito Elson Rangel Lopes, 55,
trabalha desde 71 no Instituto Carlos Éboli. Ele diz ter assinado mais
de 10 mil laudos nesse período.
Os três casos de maior repercussão em que atuou foram os das
mortes de Zuzu Angel, da cantora
Maysa Matarazzo, que bateu o
carro na ponte Rio-Niterói, e do
radialista carioca Waldir Vieira,
que morreu devido a um escapamento de gás no motel Ebony.
Leia abaixo entrevista concedida
por Rangel à Folha:
(MM)
Folha - Por que o laudo não tem
data de emissão?
Elson Rangel Lopes - Ele tem a
data do evento. Uma peça técnica
nunca tem a data da confecção,
mas do evento. Nesse caso, admite-se que o laudo foi feito nesse dia.
Na verdade, foi concluído alguns
dias depois.
Folha - O laudo é detalhado. Era
esse o padrão da época?
Rangel - Olha, já não se faziam
laudos tão detalhados. É que foi
um caso especial. Quando vai dar
repercussão, explica-se bem.
Folha - Houve algum tipo de
pressão para que fosse concluído
rapidamente?
Rangel - Eu fui informado que
o governo da França pediu o laudo
porque estava interessado em saber se Zuzu Angel estava envolvida
em subversão, como seu filho, se
havia panfletos ou coisas assim no
carro. Não havia.
Folha - Mas não há relatos públicos de que a França tenha pedido
ao governo brasileiro o laudo da
perícia do caso Zuzu Angel.
Rangel - Talvez tenham dito isso só para me apressar. Pode ser.
Folha - Pelo laudo, há marcas nas
rodas dianteiras direita e esquerda
provocadas por choque com o
meio-fio da avenida, em ambos os
lados. Por que não há nenhuma fotografia que comprove isso?
Rangel - Vai ver que essas fotos
estavam em outra parte do filme.
Folha - Mas o laudo descreve as
16 fotos anexadas.
Rangel - É possível que a iluminação não estivesse boa, era de
noite, o flash poderia estar fraco.
Não foi feito detalhe de nada. De
dia, quando voltamos, o carro não
estava mais lá.
Folha - O laudo diz, na página 3,
que "eram boas as condições de
visibilidade e iluminação pública
no local, durante os exames". O sr.
disse que a visibilidade era boa o
suficiente para concluir que "a
acurada pesquisa, em toda a extensão da carroceria do veículo,
não mostrou qualquer outra avaria que implicasse colisões que
não as já citadas".
Rangel - Eu tenho fé pública.
Concordo que a fotografia ajudaria, mas tão importante quanto a
foto é o que está descrito.
Folha - Uma foto mostra o asfalto iluminado sem as marcas de 28
m de "arrastamento de rodas
pneumáticas" (pneus), entre os
meios-fios esquerdo e direito da
pista, descritas pelo sr.. Por quê?
Rangel - (Vendo a foto) É estranho, não tem. Não é preciso ter foto. Eu tenho fé pública.
Folha - Por que o sr. anexou então 16 fotografias ao laudo?
Rangel - Não se é obrigado a
fotografar tudo.
Folha - O laudo afirma que a vítima aparentava "ter atingido
quando em vida a idade de 55
anos". Como o sr. acertou a idade?
Recebeu informações sobre Zuzu
Angel antes de escrever?
Rangel - Não. Eu, normalmente, digo a idade aproximada, costumo acertar.
Folha - O sr. disse que procuraria
no caderno em que fez as anotações do caso alguma novidade.
Encontrou?
Rangel - Anotei que a marcha
estava em quarta.
Folha - Por que o sr. não informou no laudo? Não lhe pareceu
importante, para confirmar a tese
de que estava a mais de 80 km/h?
Rangel - Eu já tinha colocado
muitos elementos. Não gosto de
fazer laudo longo. Esse laudo poderia ter sido a metade do que foi.
Folha - O noticiário da época registra que o sr., no dia do acidente, considerava a possibilidade de
o carro ter sido fechado ou de ela
ter tentado se desviar de um objeto, como um pedestre. O laudo
descarta essas hipóteses. Por quê?
Rangel - Jornalista pode escrever qualquer coisa. O que vale é o
laudo. Quando há interceptação
de trajetória (fechada), o carro
deixa avaria lateral no outro, o que
não aconteceu.
Folha - O laudo diz que o Instituto Carlos Éboli foi chamado pela
Polícia Civil às 3h10. Quando o senhor chegou ao local?
Rangel - Às 3h20.
Folha - O laudo afirma que a perícia chegou depois de o corpo de
Zuzu ter sido retirado do carro. Isso prejudicou o seu trabalho?
Rangel - Não houve prejuízo
para a dinâmica da perícia. O pessoal chega, a intenção é socorrer.
Não sei quem tirou o corpo.
Folha - Testemunhas dizem que
houve um atentado de órgãos de
segurança do regime militar.
Rangel - Isso é criação, montagem deles. Por que não falaram logo após? Isso é testemunha de viveiro. Há algum interesse por aí.
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