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CONGRESSO
Novo teto do funcionalismo pode ir a R$ 12.720, beneficiando com aumento de 59% a cúpula dos Três Poderes
Reforma ajuda ministros e congressistas
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Antes de proporcionar qualquer economia
aos cofres públicos, o projeto de
reforma administrativa já
produz constrangimento aos integrantes da cúpula dos Três Poderes -a conta a ser apresentada ao
contribuinte para pagar o reajuste
de seus próprios salários.
Assim que a emenda constitucional for promulgada (provavelmente em março), os presidentes
da República, do STF (Supremo
Tribunal Federal), da Câmara e do
Senado terão de definir, em projeto de lei, o valor do novo teto salarial do funcionalismo público.
Esse valor beneficiará com um
aumento de até 59% mais 582 parlamentares, 22 ministros de Estado, o vice-presidente da República
e, pelo menos, mais dois ministros
do STF. A grande maioria do funcionalismo continuará com os salários congelados. O último reajuste geral já completou três anos.
Entre parlamentares e magistrados, a expectativa é que o novo teto atinja R$ 12.720 -valor pago
atualmente a 3 dos 11 ministros do
STF, que recebem gratificação por
acumular temporariamente serviços ao Tribunal Superior Eleitoral.
A opção é a seguinte: aumentar o
salário de mais de 600 autoridades
ou encolher os contracheques de
ministros do STF.
A emenda constitucional permite que o presidente Fernando
Henrique Cardoso, o ministro
Celso de Mello (do STF), o senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) e o deputado Michel Temer (PMDB-SP) arbitrem qualquer valor para o teto.
O texto diz que o novo teto equivalerá ao "subsídio mensal em espécie" pago aos ministros do Supremo, que atualmente recebem
entre R$ 9.600 e R$ 12.720.
Preocupado com a repercussão
do aumento em pleno ano eleitoral, FHC ainda tenta evitar o aumento de gastos, pelo menos em
seu próprio contracheque. Ainda
não sabe como fazer isso sem abrir
uma crise com os outros Poderes.
"O Congresso deveria ter ampla
liberdade para fixar o novo teto:
isso nos pouparia de algo extremamente constrangedor", avalia Celso de Mello.
O único consenso até agora é
que, depois da reforma, os salários
deverão ser idênticos na cúpula
dos Três Poderes.
"É óbvio que o presidente, os
ministros de Estado e do Supremo
e os parlamentares terão de ganhar o teto. Isso é pacífico", sustenta o ministro Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração). Para
ele, o custo do reajuste, ainda não
calculado, "dá para absorver".
Pressões
Foi o ex-presidente do STF Sepúlveda Pertence quem levou ao
debate da reforma administrativa
o teto de R$ 12.720. Em abril de 97,
ele mandou uma carta ao presidente da Câmara informando que
esse era o valor da maior remuneração paga a um ministro do STF.
A expectativa de um aumento
salarial animou parlamentares da
base governista a aprovar a reforma, que quebra a estabilidade do
funcionalismo no emprego.
O atual presidente do STF questiona, porém, a contabilidade do
colega. "Não existe base para dizer que o teto será de R$ 12.720,
pode ser menor", avalia Mello.
"Não vou me valer dessa ocasião
para reivindicar um aumento,
mesmo com o desgaste brutal que
estamos sofrendo pela carga de
serviço", disse, com a ressalva de
que não levará uma opinião pessoal à negociação.
Há quase três anos, quando o
governo enviou ao Congresso sua
proposta de reforma administrativa, o salário do presidente (de R$
8.500) serviria de teto para o funcionalismo. Como os ministros do
STF já ganhavam mais que o presidente, o Congresso decidiu mudar
a regra. "Não teve jeito. O presidente concordou", disse Bresser.
Ele afirmou que o projeto de lei
com o valor do teto salarial seguirá
ao Congresso logo após a promulgação da reforma, que só depende
de um último turno de votação no
Senado. A emenda permite o corte
de salários, aposentadorias e pensões que ultrapassarem o teto.
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