São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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CONTAS PÚBLICAS
Presidente usa Joaquim Silvério dos Reis, da Inconfidência, para criticar quem não fez o ajuste fiscal
FHC compara governadores a traidor

Sérgio Lima/Folha Imagem
Manifestante é preso durante ato de protesto realizado ontem pela CUT e pela Contag em Vila Velha (ES)


DANIELA FALCÃO
enviada especial a Vila Velha (ES)


O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem em Vila Velha os governadores que se recusam a enxugar a máquina administrativa, comparando-os a Joaquim Silvério dos Reis, traidor da Inconfidência Mineira (leia ao lado sobre o movimento).
FHC não citou nominalmente o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, que em janeiro decretou moratória da dívida do Estado, iniciando crise com a União.
"Tem muita gente cuja corda na mão é de Silvério dos Reis e não de Tiradentes. Não tem coragem de enfrentar seus próprios problemas e busca refúgio na falsidade, buscando ginásticas mentais para fazer de conta que está fazendo", disse, no discurso para celebrar o início do ano letivo na Escola Municipal João Medeiros Calmon.
Durante entrevista coletiva, o presidente retomou o tom crítico referindo-se aos governadores que se recusam a implantar as medidas do ajuste fiscal. Afirmou que as atitudes desses governadores terminam prejudicando a população do Estado. "Tem gente que faz demagogia e enforca o povo. Isso não é uma coisa boa... Tem é que criar condições para o povo avançar."
Itamar disse que não comentaria as afirmações de FHC.

Elogio
O governador do Espírito Santo, José Ignacio Ferreira (PSDB), foi elogiado por FHC por seu esforço em reduzir os gastos com medidas como o bloqueio de 20% dos salários dos servidores estaduais.
"O Brasil precisa de determinação, de gente não apenas que fale, mas que faça. Gritar é fácil, construir é que é difícil. José Ignacio não precisa gritar, ele está construindo, está marcando o Brasil."
FHC responsabilizou o antecessor de José Ignacio, Vítor Buaiz (PV), pelo caos financeiro em que se encontra o Espírito Santo, sem, entretanto, citar o nome de Buaiz. Segundo FHC, o Estado "sofreu muito" quando era governado "pelo maior partido de oposição" (Buaiz foi eleito pelo PT). "O Espírito Santo naufragou, porque se enforcou com a própria corda."
Nem mesmo os parlamentares ficaram livres das críticas do presidente, que reclamou das barganhas que atrapalham a aprovação de medidas importantes. "Não vou atender a grupos de pressão nem a pedidos de deputados." Segundo FHC, esses pedidos "entorpecem" o projeto mais forte do país. "Vou tomar medidas de longo prazo."
O presidente disse não ter fundamento a crítica dos governadores quanto à indefinição da pauta para a reunião da próxima sexta-feira em Brasília. "A pauta existe. Quando o presidente convida os governadores, em primeiro lugar, basta isso para que nós possamos conversar pelo Brasil", disse.
FHC disse que vai mostrar quais são os limites da ação da Presidência e ouvir os governadores para saber "o que pode ser feito através de ações reais, compatíveis." Também comentou a possibilidade de Itamar não ir à reunião. "Quando a gente recebe um convite, pode ir ou não ir. A decisão é dele."


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