São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Líder do governo questionará assinatura de peemedebista

FHC age pessoalmente para barrar CPI que Jader assinou

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso entrou ontem pessoalmente em campo para barrar a instalação da CPI da corrupção no Congresso. Ele telefonou para parlamentares de partidos aliados ao Planalto que manifestaram apoio às investigações, como os peemedebistas José Fogaça (RS) e José Alencar (MG).
Interlocutores de FHC disseram que o presidente faria o que fosse necessário para impedir a criação da CPI porque, na sua avaliação, seus trabalhos paralisariam o Congresso. A ação do presidente, combinada com líderes de partidos aliados em reunião anteontem à noite no Palácio da Alvorada, indica que a preocupação do governo cresceu nos últimos dias.
Apesar dos apelos do Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), assinou o requerimento de criação da CPI da corrupção no fim da tarde, conforme havia comunicado a FHC na véspera. José Alencar também confirmou o apoio.
No início da noite, o Planalto avaliou que ainda são remotas as chances de a CPI conseguir o número de assinaturas necessárias - de pelo menos 171 dos 513 deputados e de 27 dos 81 senadores.
""Acredito que não saia, vai prevalecer a sensatez: essa CPI não tem objetivo de investigar coisa nenhuma, é apenas um instrumento de guerra política de facções no Congresso", disse o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira.
O líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), anunciou que vai questionar a assinatura de Jader por meio de uma consulta à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
O deputado argumentou que, como presidente da Casa, Jader terá de decidir algumas dúvidas (questões de ordem) relativas à CPI.
A assinatura de Jader foi a 22ª no Senado. ""Do ponto de vista aritmético, é apenas mais uma assinatura. Mas, do ponto de vista político, o gesto do senador derruba qualquer desculpa dos senadores do PMDB para não assinar", comemorou José Eduardo Dutra (PT-SE).
Esse argumento já foi usado ontem por um grupo de 12 deputados do PMDB para justificar sua adesão. Além desses, outros três deputados peemedebistas se comprometeram a endossar e pelo menos dois pefelistas já assinaram: Paulo Magalhães (BA), sobrinho do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e Affonso Camargo (PR).
""Já que o presidente do partido assinou, não tem por que a bancada não assinar", afirmou a deputada Rita Camata (PMDB-ES).
A oposição não divulgou um número preciso de assinaturas obtidas na Câmara. Ontem, as fichas de coleta indicavam que havia de 128 a 141 assinaturas.
Num dia bastante tenso, circulavam rumores de que deputados do PMDB de Goiás não assinariam porque foram atendidos com a concessão de emissoras de TV e com liberação de recursos para sua base. A Folha não confirmou essa informação.
Na reunião de anteontem à noite com os líderes do PMDB, PFL, PSDB, PPB e PTB no Senado, FHC insistiu em que a CPI é política e paralisaria o país. Há duas semanas, o presidente deixou claro que a assinatura de aliados no pedido de CPI seria uma ""deslealdade" com o governo. ""O papel da bancada governista é impedir a CPI", disse o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL).

Disputa
A coleta de assinaturas para a CPI está deixando de lado uma outra disputa entre os que defendem as investigações: quem vai ter o comando dos trabalhos.
ACM, que já assinou a CPI, alertou para o risco de o PMDB querer controlar as investigações, colocando relatores ligados a Jader. Na opinião dele, deve haver um relator para cada caso. Isso ainda não está decidido.
Há dificuldade em conciliar no comando das investigações os diversos interesses dos envolvidos nas denúncias.
Entre os casos que a CPI pretende investigar, há denúncias contra Jader e seu maior rival, ACM. A lista inclui também o presidente do PSDB, senador Teotonio Vilela Filho (AL) por supostas irregularidades nos repasses do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) à Fundação Teotonio Vilela. A mesma denúncia atingiria entidades sindicais.
O líder do bloco na oposição do Senado disse estar otimista com a criação da CPI. Segundo ele, na próxima semana poderão ser obtidas as assinaturas necessárias.
(RAQUEL ULHÔA, DENISE MADUEÑO e MARTA SALOMON)


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