São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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RUMO A 2002

Ministro e governador declaram apoio mútuo a futuras pretensões presidenciais durante solenidade no Ceará

Lula Marques/Folha Imagem
O ministro José Serra (saúde) e o governador Tasso Jereissati, durante evento de entrega de R$ 170 milhões a prefeituras cearenses


Ensaiados, Serra e Tasso trocam elogios

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O ministro da Saúde, José Serra, e o governador do Ceará, Tasso Jereissati, aproveitaram uma solenidade pública ontem para se declararem "velhos amigos" e trocar elogios, sorrisos e apoio mútuo a futuras pretensões presidenciais. Nem pareciam adversários disputando a indicação do PSDB à Presidência da República.
Foi o primeiro encontro público oficial dos dois na arena de Tasso, o Palácio do Cambeba, sede do governo do Ceará. Mas Serra, apesar dos elogios a Tasso, fez um discurso de candidato ao fazer um balanço de meia hora, evidentemente positivo, de sua gestão na Saúde. Em entrevista, Tasso não descartou a candidatura: "Dizer que dessa água não beberei, eu não não vou dizer".
Elogio de Serra a Tasso no discurso: "É um prazer pessoal fazer mais esse trabalho com o governador, que é meu amigo pessoal, meu companheiro de partido, um exemplo na vida pública. Tasso é alguém cuja convivência sempre nos anima a pensar no futuro, por tudo o que ainda ele poderá fazer não apenas pelo Ceará, mas pelo nosso país".
Foi aplaudido pela primeira vez, mas, na bancada de prefeitos cearenses que participava da solenidade de lançamento do Projeto Alvorada no Ceará, houve algumas ironias anônimas.
Tasso devolveu o elogio no discurso e em entrevista. "Temos, há muitos anos, uma amizade pessoal muito fraterna. Ele é um dos homens públicos deste país por quem eu tenho o maior respeito. Trata-se de uma inteligência brilhante", disse ao discursar.
O governador, porém, não abdicou de seu velho estilo irônico: "Às vezes, (Serra) não é tão simpático, mas faz parte da sua característica. Um homem público tem que ser muito mais competente e ético do que simpático".
Nos bastidores, os dois têm trocado farpas, sobretudo depois que o governador Mário Covas lançou o nome de Tasso e que a candidatura de Serra deslanchou, inclusive com gestos nem sempre tão velados de apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Serra citou duas vezes Covas, morto no dia 6, no seu discurso, e tanto o ministro quanto Tasso elogiaram FHC.

"Vão dar merrecas"
O ministro havia dado bons dados para essa declaração do governador, pois fizera uma longa exposição sobre os principais programas da sua pasta, destacando, quase em tom de campanha, a importância dos prefeitos e da mobilização dos municípios para o sucesso deles.
O Projeto Alvorada, mantido quase todo pelo Fundo da Pobreza, promete beneficiar, até o final do governo FHC, os 2.138 municípios mais pobres do país. No Ceará, serão 60 municípios. Ontem, aconteceu a assinatura para a entrega de R$ 137 milhões a 31 cidades do Estado.
O benefício não contentou a todos. "Parece que vão dar merrecas", disse o prefeito de Croatá, José Antônio (PSDB).
No discurso, o governador elogiou o projeto, sem deixar de lado uma "brincadeira" com o colega rival. "O Projeto Alvorada ataca agora a questão do saneamento, a menos eleitoral, e eu tenho experiência nisso. Aqui em Fortaleza, fizemos uma obra que durou anos e anos, e tivemos muito mais críticas que elogios", disse, rindo. "É brincadeira", complementou, olhando para Serra, que sorria.
Depois de lançar o mesmo projeto em Recife e Aracaju, na semana passada, em clima de campanha, na terra de Tasso, Serra teve de se contentar com uma solenidade sóbria e fechada.
Os únicos eleitores presentes eram os 31 prefeitos beneficiados pelo Projeto Alvorada, mas a grande maioria fez questão de declarar voto para o presidenciável mais à mão, o cearense Tasso.
Serra e Tasso, entretanto, seguiram o roteiro que tentaram acertar com FHC e a cúpula tucana na semana passada. Condenaram a antecipação do debate sucessório. "Antecipar a questão eleitoral é um erro para a população, que quer trabalho dos governantes, e não caraminhola eleitoral", disse Serra. "Já disse e vou repetir que não sou candidato agora e acho essa discussão absolutamente prematura", afirmou Tasso.


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