São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Para ministro, carga tributária do país já passou do limite

Furlan critica a burocracia do governo e pede ousadia

DENISE CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, fez coro ontem com os empresários brasileiros. Ele afirmou que a carga tributária no país já "passou do limite" e ainda criticou o "excesso de burocracia" no governo federal e a incapacidade da máquina pública de promover mais rapidamente a retomada da economia.
Ele cobrou mais eficiência do governo e ainda declarou que, hoje, o poder público tem mais espaço para "ousar" do que meses atrás, quando a grande preocupação era reconquistar a credibilidade do mercado.
Em meio às críticas, Furlan também defendeu o colega Roberto Rodrigues (Agricultura), que semana passada chamou de "vagabundo" o ministro do Planejamento, Guido Mantega, por causa de divergências econômicas.
"Burocracia é a coisa mais penosa que o país enfrenta hoje", declarou Furlan durante encontro com cerca de 200 empresários, ontem, em São Paulo, promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). "Somos um país de herança burocrática, é uma herança ibérica. Na Espanha e em Portugal é assim. Se mudássemos isso, teríamos ganho de competitividade", ressaltou.
Essa foi a segunda censura de um ministro à política econômica em menos de uma semana. Na quarta-feira passada, foi Roberto Rodrigues quem explodiu contra Mantega. Ele xingou o colega num momento de irritação, diante de 30 parlamentares da bancada do Nordeste.
A exemplo de Furlan, Rodrigues acusa o governo de "paralisia" e de promover fortes restrições orçamentárias, que, segundo ele, podem comprometer o andamento de diversos programas prioritários, escolhidos pelo próprio governo federal.
Na defesa de Rodrigues, Furlan disse acreditar que o ministro da Agricultura fez apenas um "desabafo". "Acho que o ministro [Roberto Rodrigues] teve um momento de desabafo, porque ele é cobrado pelo presidente dentro das prioridades", argumentou.
Segundo Furlan, Rodrigues ficou "atolado" na burocracia e na dependência de outras áreas do governo. "Esses fatores impediram que ele desse a agilidade que precisa e que o presidente confia que ele dê", completou.
Furlan declarou ainda que não tem nenhuma reclamação contra Mantega. Mas salientou que sua preocupação é em relação à "velocidade" com o que o governo decide as questões do país.
"Eu não tenho nenhuma reclamação [contra Guido Mantega]. Agora, a minha preocupação é de que as velocidades no âmbito da burocracia de governo são totalmente diferentes das velocidades do setor privado. E nós precisamos melhorar a eficiência do setor público, porque o tempo não perdoa. Passa muito rápido", avaliou Rodrigues.
Questionado por jornalistas se era mais "fácil" ser empresário -Furlan foi presidente da Sadia durante muitos anos e já ocupou cargo de diretoria na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)-, o ministro disse que "gosta do que faz". Porém, acredita que o espaço para "produzir resultados no governo" é grande e que não depende de nenhum fator externo.
Para Furlan, "não existe dúvida" sobre a liderança política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, diz ele, se o presidente estivesse trabalhando em uma empresa, "talvez não compusesse sua equipe da maneira como sua equipe de governo foi composta".
O ministro do Desenvolvimento diz acreditar que essa estratégia, na política, é diferente, porque o governo precisa compor sua equipe com diversas correntes políticas. "Na política, o governo precisa de sustentabilidade, até mesmo para votar questões importantes no Congresso Nacional", comparou Furlan.


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