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GOVERNO EM DISPUTA
Para ministro, carga tributária do país já passou do limite
Furlan critica a burocracia do governo e pede ousadia
DENISE CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Luiz Fernando Furlan, fez coro
ontem com os empresários brasileiros. Ele afirmou que a carga tributária no país já "passou do limite" e ainda criticou o "excesso de
burocracia" no governo federal e
a incapacidade da máquina pública de promover mais rapidamente a retomada da economia.
Ele cobrou mais eficiência do
governo e ainda declarou que, hoje, o poder público tem mais espaço para "ousar" do que meses
atrás, quando a grande preocupação era reconquistar a credibilidade do mercado.
Em meio às críticas, Furlan também defendeu o colega Roberto
Rodrigues (Agricultura), que semana passada chamou de "vagabundo" o ministro do Planejamento, Guido Mantega, por causa
de divergências econômicas.
"Burocracia é a coisa mais penosa que o país enfrenta hoje",
declarou Furlan durante encontro com cerca de 200 empresários,
ontem, em São Paulo, promovido
pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais). "Somos um país de
herança burocrática, é uma herança ibérica. Na Espanha e em
Portugal é assim. Se mudássemos
isso, teríamos ganho de competitividade", ressaltou.
Essa foi a segunda censura de
um ministro à política econômica
em menos de uma semana. Na
quarta-feira passada, foi Roberto
Rodrigues quem explodiu contra
Mantega. Ele xingou o colega
num momento de irritação, diante de 30 parlamentares da bancada do Nordeste.
A exemplo de Furlan, Rodrigues acusa o governo de "paralisia" e de promover fortes restrições orçamentárias, que, segundo
ele, podem comprometer o andamento de diversos programas
prioritários, escolhidos pelo próprio governo federal.
Na defesa de Rodrigues, Furlan
disse acreditar que o ministro da
Agricultura fez apenas um "desabafo". "Acho que o ministro [Roberto Rodrigues] teve um momento de desabafo, porque ele é
cobrado pelo presidente dentro
das prioridades", argumentou.
Segundo Furlan, Rodrigues ficou "atolado" na burocracia e na
dependência de outras áreas do
governo. "Esses fatores impediram que ele desse a agilidade que
precisa e que o presidente confia
que ele dê", completou.
Furlan declarou ainda que não
tem nenhuma reclamação contra
Mantega. Mas salientou que sua
preocupação é em relação à "velocidade" com o que o governo decide as questões do país.
"Eu não tenho nenhuma reclamação [contra Guido Mantega].
Agora, a minha preocupação é de
que as velocidades no âmbito da
burocracia de governo são totalmente diferentes das velocidades
do setor privado. E nós precisamos melhorar a eficiência do setor público, porque o tempo não
perdoa. Passa muito rápido", avaliou Rodrigues.
Questionado por jornalistas se
era mais "fácil" ser empresário
-Furlan foi presidente da Sadia
durante muitos anos e já ocupou
cargo de diretoria na Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp)-, o ministro disse
que "gosta do que faz". Porém,
acredita que o espaço para "produzir resultados no governo" é
grande e que não depende de nenhum fator externo.
Para Furlan, "não existe dúvida" sobre a liderança política do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, diz ele, se o presidente estivesse trabalhando em
uma empresa, "talvez não compusesse sua equipe da maneira
como sua equipe de governo foi
composta".
O ministro do Desenvolvimento diz acreditar que essa estratégia, na política, é diferente, porque o governo precisa compor
sua equipe com diversas correntes políticas. "Na política, o governo precisa de sustentabilidade, até
mesmo para votar questões importantes no Congresso Nacional", comparou Furlan.
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