São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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CASO CC5

Segundo extratos, dinheiro saiu de uma conta em nome da Cutty, que tem o ex-prefeito e sua ex-mulher como responsáveis

Pitta transferiu US$ 1 milhão da Suíça

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em menos de três meses, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta transferiu aproximadamente US$ 1 milhão de uma conta em Zurique, na Suíça, para outras contas no exterior. Desse total, US$ 92 mil foram depositados em nome da "offshore" Yukon River, em Nova York. Outros US$ 930 mil foram sacados em março de 1999 e transferidos para Guernsey, paraíso fiscal do canal da Mancha.
O nome da Yukon River não é novo. Em maio de 2000, a ex-mulher de Pitta, Nicéa, afirmou à Folha que a Yukon, com sede nas Ilhas Virgens (paraíso fiscal no Caribe), era uma sociedade do ex-prefeito com o especulador financeiro Naji Nahas.
Pitta, prefeito de São Paulo entre 1997 e 2000, sempre negou possuir contas no exterior. No último ano de seu governo, afirmou que, se tivesse algum dinheiro no exterior, "o primeiro que chegasse poderia pegar e usar". Nahas também diz que a sociedade nunca existiu.
Os extratos e a titularidade da conta em nome de Pitta estão documentados nos papéis bancários enviados pela Suíça à juíza da 14ª Vara da Fazenda Pública, Simone Casoretti, e repassados a promotores, procuradores e senadores da CPI do Banestado, que investigam possíveis crimes de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
A Folha teve acesso ao procedimento sigiloso de abertura da conta nº 40.248 em nome da Cutty International Limited no Multi Commercial Bank de Zurique. Um documento intitulado "Identificação dos beneficiários" revela que a Cutty tem como seus responsáveis Celso Pitta e Nicéa.
De acordo com extratos da conta nº 40.248, a Cutty fez quatro transferências importantes entre dezembro de 1998 e março de 1999, que alcançam US$ 1 milhão.
A primeira movimentação, de dezembro de 1998, aconteceu cerca de 20 dias depois de estourar em São Paulo o escândalo da "máfia dos fiscais" -esquema de cobrança de propina envolvendo secretários municipais, vereadores e agentes públicos.

O caminho
Nas duas primeiras transferências internacionais feitas pela Cutty, no final de 1998, foram enviados cerca de US$ 92 mil para uma conta em nome da Yukon.
Além da versão apresentada por Nicéa, de que a Yukon é de Pitta e de Nahas, o Ministério Público trabalha com a hipótese de se tratar de uma "offshore" com "conta-ônibus" nos EUA -modalidade de conta usada por doleiros para remeter dinheiro de diferentes clientes para o exterior.
Segundo os documentos da CPI do Banestado, a Yukon River recebeu aproximadamente US$ 63 milhões de mais de 23 contas diferentes mantidas nos EUA.
No início de 1999, a Cutty repassou cerca de US$ 1.600 para outra "offshore", cujo nome é mantido em sigilo. A quarta e última transferência é de março daquele ano e serviu para esvaziar e encerrar a conta conta em Zurique. US$ 930 mil foram enviados para o paraíso fiscal de Guernsey, para uma conta também em nome da Cutty.
Guernsey é vizinha da ilha de Jersey, onde o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) teve bloqueados cerca de US$ 200 milhões -ele nega possuir contas no exterior.
Maluf e Pitta, segundo os procuradores Pedro Barbosa e Denise Abade e os promotores Sílvio Marques e Sérgio Turra Sobrane, alimentaram as contas no exterior com dinheiro de superfaturamento de obras públicas. Não há, porém, nenhuma condenação no Brasil contra os dois por desvio de dinheiro em obras. Ambos sempre negaram as acusações.


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