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CASO CC5
Segundo extratos, dinheiro saiu de uma conta em nome da Cutty, que tem o ex-prefeito e sua ex-mulher como responsáveis
Pitta transferiu US$ 1 milhão da Suíça
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em menos de três meses, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta
transferiu aproximadamente US$
1 milhão de uma conta em Zurique, na Suíça, para outras contas
no exterior. Desse total, US$ 92
mil foram depositados em nome
da "offshore" Yukon River, em
Nova York. Outros US$ 930 mil
foram sacados em março de 1999
e transferidos para Guernsey, paraíso fiscal do canal da Mancha.
O nome da Yukon River não é
novo. Em maio de 2000, a ex-mulher de Pitta, Nicéa, afirmou à Folha que a Yukon, com sede nas
Ilhas Virgens (paraíso fiscal no
Caribe), era uma sociedade do ex-prefeito com o especulador financeiro Naji Nahas.
Pitta, prefeito de São Paulo entre 1997 e 2000, sempre negou
possuir contas no exterior. No último ano de seu governo, afirmou
que, se tivesse algum dinheiro no
exterior, "o primeiro que chegasse poderia pegar e usar". Nahas
também diz que a sociedade nunca existiu.
Os extratos e a titularidade da
conta em nome de Pitta estão documentados nos papéis bancários
enviados pela Suíça à juíza da 14ª
Vara da Fazenda Pública, Simone
Casoretti, e repassados a promotores, procuradores e senadores
da CPI do Banestado, que investigam possíveis crimes de evasão de
divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
A Folha teve acesso ao procedimento sigiloso de abertura da
conta nº 40.248 em nome da Cutty
International Limited no Multi
Commercial Bank de Zurique.
Um documento intitulado "Identificação dos beneficiários" revela
que a Cutty tem como seus responsáveis Celso Pitta e Nicéa.
De acordo com extratos da conta nº 40.248, a Cutty fez quatro
transferências importantes entre
dezembro de 1998 e março de
1999, que alcançam US$ 1 milhão.
A primeira movimentação, de
dezembro de 1998, aconteceu cerca de 20 dias depois de estourar
em São Paulo o escândalo da
"máfia dos fiscais" -esquema de
cobrança de propina envolvendo
secretários municipais, vereadores e agentes públicos.
O caminho
Nas duas primeiras transferências internacionais feitas pela
Cutty, no final de 1998, foram enviados cerca de US$ 92 mil para
uma conta em nome da Yukon.
Além da versão apresentada por
Nicéa, de que a Yukon é de Pitta e
de Nahas, o Ministério Público
trabalha com a hipótese de se tratar de uma "offshore" com "conta-ônibus" nos EUA -modalidade de conta usada por doleiros para remeter dinheiro de diferentes
clientes para o exterior.
Segundo os documentos da CPI
do Banestado, a Yukon River recebeu aproximadamente US$ 63
milhões de mais de 23 contas diferentes mantidas nos EUA.
No início de 1999, a Cutty repassou cerca de US$ 1.600 para outra
"offshore", cujo nome é mantido
em sigilo. A quarta e última transferência é de março daquele ano e
serviu para esvaziar e encerrar a
conta conta em Zurique. US$ 930
mil foram enviados para o paraíso
fiscal de Guernsey, para uma conta também em nome da Cutty.
Guernsey é vizinha da ilha de
Jersey, onde o ex-prefeito Paulo
Maluf (PP) teve bloqueados cerca
de US$ 200 milhões -ele nega
possuir contas no exterior.
Maluf e Pitta, segundo os procuradores Pedro Barbosa e Denise
Abade e os promotores Sílvio
Marques e Sérgio Turra Sobrane,
alimentaram as contas no exterior
com dinheiro de superfaturamento de obras públicas. Não há,
porém, nenhuma condenação no
Brasil contra os dois por desvio de
dinheiro em obras. Ambos sempre negaram as acusações.
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