|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REDE FEDERAL
Produção da parte arrendada da estatal RFFSA fica abaixo de marcas anteriores e acidentes aumentam
Ferrovias privatizadas não atingem meta
BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local
As empresas que venceram os
cinco primeiros leilões de arrendamento das linhas da estatal
RFFSA (Rede Ferroviária Federal
S.A.) estão tendo um desempenho
insuficiente. A produção e o índice
de acidentes ficaram abaixo de
marcas anteriores obtidas pela estatal. No ano passado, duas das
cinco concessionárias estavam
operando no vermelho (com despesa maior do que a receita).
Os resultados são de relatórios
trimestrais de acompanhamento
feitos pela RFFSA e obtidos pela
Folha. Eles compreendem o período de janeiro a setembro de 97. Os
números foram compilados por
Raul de Bonis, professor do Programa de Engenharia dos Transportes da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
As concessionárias avaliadas são
a Novoeste, a Ferrovia Centro-Atlântica S.A., a MRS-Logística
S.A., a Ferrovia Sul-Atlântica S.A.,
e a Ferrovia Tereza Cristina S.A.,
que, somadas, assumiram 17.415
km de linhas -78,9% do sistema
que era operado pela RFFSA. O arrendamento, que ocorreu entre
março e dezembro de 96, incluiu
locomotivas, vagões e oficinas.
Segundo editais de privatização,
as concessionárias teriam que obter, no primeiro ano, aumento de
5% no volume de carga transportada e, até setembro, de acordo
com relatórios de acompanhamento, dificilmente conseguiram
cumprir a exigência.
Um exemplo é a Ferrovia Centro-Atlântica, a maior em extensão de linhas, que, no período de
janeiro a setembro de 97, transportou 4,05 bilhões de toneladas x
quilômetros úteis (TKU), abaixo
dos 4,66 bilhões de 96 e dos 4,75
bilhões de 95 (veja quadro abaixo).
A Sul-Atlântica também "patinou" na produção nos primeiros
nove meses de 97. Transportou
5,48 bilhões de toneladas x quilômetros úteis, pouco acima do resultado de 96 (5,45 bilhões) e abaixo do de 95 (5,7 bilhões).
Em acidentes, o resultado mais
negativo foi o da Novoeste, que
atingiu 177 casos por milhão de
trens x km (índice que considera a
quantidade de operações de transporte e a distância percorrida). No
período de 90 a 96, o pior índice
registrado pela RFFSA no trecho
hoje operado pela Novoeste foi de
129, em 95. A taxa ficou abaixo de
100 em 90, 91 e 92 (veja quadro).
A MRS-Logística S.A., que assumiu o trecho mais rentável da
RFFSA, basicamente direcionado
para o transporte de minério de
ferro e aço, também não evoluiu
na área de segurança. Fechou o período janeiro-setembro de 97 com
uma taxa de 66 acidentes por milhão de trens x km, acima do índice de 56 registrado pela RFFSA em
96 e igual à taxa de 95.
A privatização das primeiras
cinco áreas da RFFSA foi marcada
por um brutal corte de pessoal.
Juntas, as cinco concessionárias
demitiram, até 1º de janeiro de 98,
10.996 empregados, quase 50%
dos 22.303 absorvidos da RFFSA
quando as privatizações foram
concluídas. As maiores taxas de
demissões ocorreram na Centro-Atlântica (58,1% do quadro
original) e na Novoeste (56,8%).
Em números absolutos, a campeã foi a Centro-Atlântica, com
4.520 demissões de setembro de 96
a janeiro de 98. A própria RFFSA
foi responsável pela demissão de
19.998 empregados, a título de
ajuste para a privatização. O corte
foi de 44,8% em relação a janeiro
de 95, quando a RFFSA tinha
44.601 empregados. Grande parte
desse enxugamento foi feito por
meio de incentivo à aposentadoria
de empregados com tempo de serviço suficiente e de programas de
demissão voluntária.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|