São Paulo, segunda, 23 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REDE FEDERAL
Produção da parte arrendada da estatal RFFSA fica abaixo de marcas anteriores e acidentes aumentam
Ferrovias privatizadas não atingem meta

BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local

As empresas que venceram os cinco primeiros leilões de arrendamento das linhas da estatal RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) estão tendo um desempenho insuficiente. A produção e o índice de acidentes ficaram abaixo de marcas anteriores obtidas pela estatal. No ano passado, duas das cinco concessionárias estavam operando no vermelho (com despesa maior do que a receita).
Os resultados são de relatórios trimestrais de acompanhamento feitos pela RFFSA e obtidos pela Folha. Eles compreendem o período de janeiro a setembro de 97. Os números foram compilados por Raul de Bonis, professor do Programa de Engenharia dos Transportes da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
As concessionárias avaliadas são a Novoeste, a Ferrovia Centro-Atlântica S.A., a MRS-Logística S.A., a Ferrovia Sul-Atlântica S.A., e a Ferrovia Tereza Cristina S.A., que, somadas, assumiram 17.415 km de linhas -78,9% do sistema que era operado pela RFFSA. O arrendamento, que ocorreu entre março e dezembro de 96, incluiu locomotivas, vagões e oficinas.
Segundo editais de privatização, as concessionárias teriam que obter, no primeiro ano, aumento de 5% no volume de carga transportada e, até setembro, de acordo com relatórios de acompanhamento, dificilmente conseguiram cumprir a exigência.
Um exemplo é a Ferrovia Centro-Atlântica, a maior em extensão de linhas, que, no período de janeiro a setembro de 97, transportou 4,05 bilhões de toneladas x quilômetros úteis (TKU), abaixo dos 4,66 bilhões de 96 e dos 4,75 bilhões de 95 (veja quadro abaixo).
A Sul-Atlântica também "patinou" na produção nos primeiros nove meses de 97. Transportou 5,48 bilhões de toneladas x quilômetros úteis, pouco acima do resultado de 96 (5,45 bilhões) e abaixo do de 95 (5,7 bilhões).
Em acidentes, o resultado mais negativo foi o da Novoeste, que atingiu 177 casos por milhão de trens x km (índice que considera a quantidade de operações de transporte e a distância percorrida). No período de 90 a 96, o pior índice registrado pela RFFSA no trecho hoje operado pela Novoeste foi de 129, em 95. A taxa ficou abaixo de 100 em 90, 91 e 92 (veja quadro).
A MRS-Logística S.A., que assumiu o trecho mais rentável da RFFSA, basicamente direcionado para o transporte de minério de ferro e aço, também não evoluiu na área de segurança. Fechou o período janeiro-setembro de 97 com uma taxa de 66 acidentes por milhão de trens x km, acima do índice de 56 registrado pela RFFSA em 96 e igual à taxa de 95.
A privatização das primeiras cinco áreas da RFFSA foi marcada por um brutal corte de pessoal. Juntas, as cinco concessionárias demitiram, até 1º de janeiro de 98, 10.996 empregados, quase 50% dos 22.303 absorvidos da RFFSA quando as privatizações foram concluídas. As maiores taxas de demissões ocorreram na Centro-Atlântica (58,1% do quadro original) e na Novoeste (56,8%).
Em números absolutos, a campeã foi a Centro-Atlântica, com 4.520 demissões de setembro de 96 a janeiro de 98. A própria RFFSA foi responsável pela demissão de 19.998 empregados, a título de ajuste para a privatização. O corte foi de 44,8% em relação a janeiro de 95, quando a RFFSA tinha 44.601 empregados. Grande parte desse enxugamento foi feito por meio de incentivo à aposentadoria de empregados com tempo de serviço suficiente e de programas de demissão voluntária.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.