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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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CASO SILVEIRINHA

Advogado afirma que não adianta "negar o óbvio", mas diz que a origem de dinheiro é lícita

Defesa diz que fiscal vai admitir ter conta

FERNANDA DA ESCÓSSIA
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O auditor Sérgio Jacome de Lucena, preso sob acusação de manter conta irregular na Suíça, vai admitir na Justiça que é o titular de uma conta naquele país. A informação foi dada ontem por seu advogado, José Carlos Tórtima.
Desde janeiro, quando veio à tona o escândalo das contas na Suíça em nome de fiscais e auditores do Rio, é a primeira vez que um dos investigados assume a titularidade da conta. "Ele vai assumir a titularidade da conta. Negá-la seria negar o óbvio, porque até as pedras da Lua sabem. A conta é dele", afirmou Tórtima.
Lucena foi intimado a depor na PF (Polícia Federal). Não respondeu ao interrogatório e disse que só faria declarações em juízo.
O Ministério Público suíço afirma, em documentos enviados à Justiça brasileira, que Lucena tem US$ 317,8 mil na conta 182255 ZD no DBTC (Discount Bank and Trust Company, hoje Union Bancaire Privée). O dinheiro está bloqueado na Suíça.
Segundo o Ministério Público suíço, a conta foi aberta em 18 de março de 1999 por intermédio da representação do DBTC no Rio de Janeiro -a Coplac- e, de acordo com informações dessa representação, o dinheiro de Lucena seria originário de herança de família, formada por apartamentos vendidos aos poucos.
Na Polícia Federal, Lucena e mais 11 fiscais e auditores investigados foram indiciados por manutenção de conta no exterior sem comunicação à Receita Federal, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Eles são investigados sob suspeita de pertencer a um suposto esquema de corrupção e envio de dinheiro para o exterior, mantendo US$ 33,4 milhões em contas irregulares na Suíça.
Segundo Tórtima, a origem do dinheiro de Lucena é lícita. O advogado não esclareceu de onde vem o dinheiro e afirmou que esse esclarecimento só será dado na Justiça. Segundo ele, seu cliente é um homem de classe média.
Tórtima não disse como a conta foi aberta e afirmou que seu cliente não teme sofrer represálias dos outros suspeitos. "Ele não vai acusar ninguém", afirmou.
Até agora, todos vinham negando a titularidade das contas.
Ontem, a PF enviou à Polícia Federal Suíça dados cadastrais sobre mais oito pessoas (sendo cinco fiscais e auditores) investigadas naquele país. A instituição brasileira também pediu mais informações sobre esses investigados.
A Polícia Federal deverá indiciar também os donos da Coplac, Ronaldo Adler e Herry Rosemberg, por participação em manutenção de conta no exterior sem comunicação à Receita Federal.
A CPI do "Propinoduto" investiga se os fiscais e auditores do Rio usaram a Libéria, na África, para enviar dinheiro para fora do país. Análise do sigilo telefônico mostra que 18 pessoas ligadas direta ou indiretamente ao suposto esquema de corrupção fizeram 1.200 ligações para o país africano entre 1999 e 2002. Adler e Rosemberg, da Coplac, também telefonaram para a Libéria, diz a CPI.


Colaborou MAURÍCIO THUSWOL, da Sucursal do Rio


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