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ELIO GASPARI
Um pedaço da
reforma é tunga
Reforma coisa nenhuma.
Está em andamento uma
tunga na classe média. Tanto
na reforma da Previdência como na reforma tributária.
Começando pelo caso da Previdência, ao exemplo: o sujeito
que trabalha numa empresa
privada e ganha R$ 2.400 por
mês paga R$ 171 à Previdência.
Pagará R$ 264. Esse cidadão nada tem a ver com o carnaval de
impropriedades das aposentadorias públicas. Perderá R$
1.000 anuais.
Ao mesmo tempo em que a reforma pretende estimular os
funcionários públicos a buscar
planos de previdência privados,
os sábios petistas avançam no
bolso dos trabalhadores que já
compraram essa proteção. Se o
sujeito do exemplo resolveu reforçar sua aposentadoria entrando para um plano privado no qual paga R$ 200 por mês,
vai-se criar uma superposição
de despesas obrigando-o a desembolsar R$ 464. Quase 20%
do salário. De um lado querem
reduzir o que pagam aos servidores. De outro querem tungar
os demais trabalhadores.
Há o argumento de que o cidadão do exemplo vai se aposentar com R$ 2.400 e não mais com R$ 1.561. É autoritário. Esse
cidadão é dono de suas contas e
tem todo o direito de não querer
negócio com a previdência pública. Se o que se está fazendo é
uma reforma racional e não
mais um caso de canibalismo
fiscal, basta anunciar que a passagem para o teto de R$ 2.400
será optativa para os trabalhadores da iniciativa privada.
No caso da reforma tributária,
faz-se de conta que não existe a
mais selvagem das mordidas do
tucanato: o congelamento da
tabela do imposto de renda das
pessoas físicas. O ministro Antonio Palocci Filho já deu sinais de
que vai preservar a herança
maldita.
Quem ganha acima de R$
1.058 por mês, paga imposto de
renda. Pela conta do Unafisco,
esse piso deveria estar em torno
de R$ 1.400. A diferença jogou
6,6 milhões de trabalhadores na
boca do Fisco. Pode-se dizer que
é justo cobrar-lhes o imposto.
Pode ser, mas o imposto não está sendo cobrado por justo, mas
porque a tabela foi congelada.
É um truque aritmético a serviço da voracidade do Estado.
Voracidade esquisita. Entre
1996 e 2002 a arrecadação sobre
a renda trabalhada subiu de
41% para 59%. Já arrecadação
sobre a renda capitalizada (a
dos juros) caiu de 59% para
41%.
O cidadão que ganha R$ 2.400
mensais e, pela reforma da Previdência, tomará a tunga de R$
1.000 anuais continuará sendo
garfado nuns R$ 200 pelo congelamento de sua faixa no imposto de renda. Perderá algo como
R$ 1.200 anuais. É mais ou menos a quantia que Lula autorizou que seja descontada mensalmente de seu salário como
presidente e repassada ao PT.
Assim, pode-se imaginar um
quadro no qual 12 pacóvios que
ganham R$ 2.400 mensais serão
tungados pelas reformas de Lula (na sua forma atual). O dinheiro deles irá para a bolsa da
Viúva e, dela, para o contracheque do presidente, que, por sua
vez, o repassará ao PT, que é
contra o aumento da carga tributária, a penalização da classe
média, a taxação abusiva do
trabalho e blá, blá, blá.
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