|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPO MINADO
Líder do movimento diz que "abril vermelho" foi impressionante e que governo sabe que, sem pressão, não há mudanças
Stedile afirma que há "impaciência" no MST
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Idealizador do "abril vermelho", rotulado por ele como uma
mobilização "impressionante", o
economista João Pedro Stedile,
50, da coordenação nacional do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), afirmou
ontem que o movimento vai prosseguir "impacientemente" com as
suas ações pelo país.
"Não muda nada [após o "abril
vermelho']. Nossa missão como
movimento social é seguir impacientemente para conscientizar os
pobres do campo, organizá-los e
mobilizá-los para ter força social
suficiente para que haja mudanças de forma mais rápida."
No início da semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
aproveitou seu programa quinzenal de rádio para cobrar responsabilidade dos movimentos sociais e pedir que evitem a radicalização das manifestações.
"Quem quiser fazer suas manifestações, este é um país democrático, é um país livre, as pessoas
podem fazer. O que as pessoas
não podem é perder o senso de
responsabilidade", disse Lula.
Stedile fez um balanço da atuação do movimento, ocorrida entre a última semana de março e o
dia 19 deste mês, data em que
completou oito anos do massacre
de Eldorado do Carajás (PA),
quando 19 sem-terra foram mortos por policiais militares durante
a desobstrução de uma estrada. A
maioria das ações ocorreu por
meio de invasões de terra.
"A mobilização social que houve durante todo mês de abril [...]
foi impressionante e refletiu o que
nós já vínhamos sentindo na base
havia algum tempo", afirmou o líder sem-terra. Segundo Stedile, a
"herança" do governo Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e
a continuidade do modelo econômico na gestão Lula obrigam os
movimentos a se "mexer".
"Nós recebemos uma herança
perversa de acúmulo de problemas sociais durante oito anos e,
agora, com a continuidade da política econômica, os trabalhadores e os pobres estão percebendo
que, se não se mexerem, não haverá mudanças." As invasões de
propriedades rurais, segundo ele,
não são para exigir determinada
área de "qualquer maneira", e sim
para que "o governo se mexa e faça as desapropriações".
Há um acordo com o Planalto,
disse Stedile: o governo assenta
400 mil famílias até 2006, e o MST
organiza essa quantidade de pessoas nos acampamentos. "Sem os
pobres do campo organizados,
não há nenhuma possibilidade de
se fazer a reforma agrária."
Até dezembro o governo promete assentar 115 mil famílias,
sendo 47 mil delas até junho. No
primeiro trimestre, o Ministério
do Desenvolvimento Agrário afirma ter assentado cerca de 11 mil
famílias. No ano passado, Lula
prometeu 60 mil, mas só assentou
36 mil, de acordo com a pasta.
Stedile afirma que o governo
tem ciência de que, sem as mobilizações, "não terá força" para promover as mudanças. "Será sempre refém da vontade das elites."
Para ele, a "classe dominante" e a
imprensa em geral utilizaram a
"jornada de lutas" para "criminalizar" os movimentos sociais.
Texto Anterior: Outro lado: Governo diz que está investigando suposto problema Próximo Texto: Sem-terra deixam área produtiva logo após invasão Índice
|