São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Ex-presidente do BC sabia que documento havia sido descoberto quando pediu nova data para depor
Carta sobre conta no exterior abala Lopes

da Sucursal de Brasília


Ao pedir na última segunda-feira o adiamento do seu depoimento à CPI dos Bancos, o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes já sabia que o Ministério Público Federal conhecia o bilhete de seu ex-sócio Sérgio Bragança, da consultoria Macrométrica.
Na carta -que estava em um envelope dirigido à mulher de Lopes, Araci Pugliese-, Sérgio Bragança afirmava ter sob custódia US$ 1,67 milhão pertencente do ex-presidente do BC e depositado em conta no exterior.
José Geraldo Grossi, advogado de Lopes em Brasília, afirmou ontem que a informação sobre a apreensão do documento chegou ao ex-presidente do BC na manhã de segunda. O depoimento estava marcado para as 16h daquele dia.
Lopes enviou então uma carta aos senadores, pedindo um adiamento de 20 dias e criticando a apreensão de documentos em sua casa.
Os integrantes da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) concordaram em transferir o depoimento para a próxima segunda.
Segundo Grossi, no sábado, Lopes estava decidido a depor na CPI. Ele teria ficado "abatido" a partir das informações divulgadas pela imprensa no fim-de-semana.
Na segunda, seus advogados obtiveram a informação de que os procuradores estavam de posse da carta que citava o depósito de US$ 1,67 milhão no exterior.
"Os fatos que se atribuem a ele são graves. É natural que um homem honesto, correto, tenha ficado abatido", comentou Grossi.
Ele informou que Lopes viajou para São Paulo na terça-feira à noite, mesmo tendo alegado à CPI que precisava ficar no Rio. "Está descansando na casa de parentes", disse o advogado.
A existência do bilhete de Bragança foi relatada à CPI pelos procuradores do Ministério Público Federal ainda na segunda, depois de aprovado o adiamento.
Grossi já tem experiência em CPI. Foi o primeiro advogado de José Carlos Alves dos Santos, testemunha-chave da CPI do Orçamento, que resultou na cassação de vários parlamentares.
"Eu só pego casos cabeludos, que balançam com o país", brincou o advogado.
Questionado se haveria semelhança entre os dois casos, respondeu com outra brincadeira: "Neste caso não há mulher morta".
José Carlos foi condenado como mandante do assassinato da sua mulher, Ana Elizabeth Lofrano.
Grossi esteve ontem no gabinete do presidente da CPI dos Bancos, senador Bello Parga (PFL-MA), para se credenciar como advogado de Lopes na CPI. (LUCIO VAZ)


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