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CELSO PINTO
O custo social da crise
Washington - O pior da crise deve ter passado, mas os custos sociais foram e continuam altos. Para cada 1% a menos de crescimento do PIB, no Brasil, de 600 mil a 1
milhão de pessoas são jogadas
abaixo da linha da pobreza, disse
à coluna o vice-presidente do Bird
(Banco Mundial), Javed Burki.
O Bird tem procurado fixar um
espaço próprio na discussão sobre
a crise mundial, olhando o lado
dos custos sociais gerados por ela
e como atenuá-los. Como disse o
presidente do banco, James Wolfensohn, numa entrevista ontem à
imprensa, "existe uma enorme
pressão sobre os gastos sociais" no
Brasil, em função da crise, sobre
"educação, saúde, sobre os Estados, sobre gastos sociais gerais e
sobre o desemprego".
Ele ressalvou que o presidente
Fernando Henrique está fazendo
um esforço para preservar estes
gastos e se disse "esperançoso" em
relação a uma retomada do crescimento no Brasil. A situação, hoje, "embora frágil, parece boa".
Burki acha que houve uma "notável melhora na confiança no
Brasil". Uma questão crítica a superar será, a seu ver, o valor do
reajuste do salário mínimo. Se for
razoável, a mensagem será clara
sobre a preocupação do governo
com o ajuste econômico.
Ele admite que existe uma certa
dúvida, no mercado, que ele não
compartilha, sobre o comprometimento do presidente em relação à
continuidade do ajuste fiscal.
Burki não espera problemas, inclusive dos Estados -exceto Minas Gerais.
A moratória de Itamar Franco
foi, claramente, o fator que precipitou a crise, diz ele. O Bird acabou de renovar, por mais 60 dias,
a suspensão dos empréstimos a
Minas Gerais e ela será mantida
até que o Estado volte a pagar
seus débitos.
No caso do Rio Grande do Sul, o
Bird desbloqueou os empréstimos
e Burki não espera mais problemas. O Bird tem um programa de
US$ 4,5 bilhões de empréstimos ao
Brasil este ano, dos quais US$ 1 bilhão já foi desembolsado. Está dividido entre apoio à reforma administrativa, à reforma previdenciária e à "proteção social".
O Bird anunciou em outubro do
ano passado uma nova "abordagem abrangente para o desenvolvimento". Um programa-piloto
está sendo montado com a Bolívia.
A idéia é discutir um conjunto
de metas e programas sociais, junto com o governo, em vez de projetos específicos, para um período
amplo, que pode ir de 10 a 20 anos.
O governo terá mais flexibilidade
para aplicar o dinheiro.
O sucesso será medido por indicadores gerais (no caso da Bolívia, inclui, por exemplo, melhora
na mortalidade infantil e na pobreza). É uma abordagem que
tem levantado controvérsias dentro do Bird, mas que pode, em
princípio, servir como base para
programas com qualquer país no
futuro, inclusive o Brasil.
Burki está se aposentando em
junho. Seu substituto será o americano David de Ferranti.
Fundo para dívida privada
A idéia de se criar um fundo para reestruturar a dívida externa
de empresas brasileiras, por meio
da Corporação Financeira Internacional, o braço do Banco Mundial para o setor privado, deve
avançar nesta reunião do banco e
do FMI, em Washington.
A proposta original era criar o
Brazil Corporate Trust, com capital de até US$ 500 milhões da CFI
e do BNDES, para ajudar a reestruturar a dívida externa de empresas brasileiras, afetadas pela
desvalorização cambial. Existe
um fundo semelhante para os países asiáticos afetados pela crise,
que já envolveu US$ 1,6 bilhão.
A intenção original era que o
Bird desse garantias de até US$ 1
bilhão contra o risco de interrupção de qualquer problema de pagamento gerado por restrições a
remessas pelo governo brasileiro.
Com estas garantias e o fato de o
risco deixar de ser o "risco Brasil",
esperava-se conseguir levantar
até US$ 4 bilhões em empréstimos
que seriam repassados às empresas.
Desde que a idéia foi levantada
pela primeira vez, há um mês,
houve fortes discussões dentro do
governo brasileiro sobre a conveniência de levar adiante a proposta. O receio era que um fundo como este pudesse ser entendido pelo mercado como um sinal de dificuldade do Brasil em levantar recursos sem a ajuda do Bird.
Uma fonte qualificada disse à
coluna que estas resistências foram superadas e que haverá discussões sobre o novo fundo, nos
próximos dias, em Washington.
Um fato novo, contudo, terá que
ser considerado: o bem-sucedido
lançamento dos bônus brasileiros
no mercado internacional.
O Brasil ofereceu US$ 1 bilhão e,
dada a demanda para até US$ 4,5
bilhões, colocou, ontem, US$ 2 bilhões. Hoje anunciará o total para
outra parcela da mesma emissão
destinada a trocas por antigos títulos da dívida brasileira ("bradies"), que alguns estimam entre
US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão.
Não só o volume foi maior do que
o esperado, como os juros foram
razoáveis, com um prêmio de 675
pontos de porcentagem acima do
rendimento dos títulos do Tesouro americano.
Dado o sucesso do lançamento e
a reviravolta do sentimento do
mercado em relação ao Brasil, talvez o valor do fundo de reestruturação, ou mesmo a necessidade de
lançá-lo, sejam rediscutidas.
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