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JANIO DE FREITAS
Muito além do batismo
Muita coisa é republicação,
alguma coisa é nova, mas dois
aspectos precisam ficar claros
ou, do contrário, resultarão conclusões equivocadas da massa
de reportagens que vários jornais estão publicando a propósito da Operação Condor, na qual
se coordenaram os serviços militares de repressão política do
Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
A data em que o nome Operação Condor começa a ser usado
é imprecisa, sendo aceito que isso ocorreu nos primeiros anos
de 70, quando foi organizada a
conspiração para a derrubada
do presidente chileno Salvador
Allende. Qualquer que seja a
data, porém, é certo que foi apenas um batismo, provavelmente
necessário aos planos dos altos
comandos.
Os serviços militares de repressão já estavam interligados, na
prática, desde muito antes. Os
exilados brasileiros no Uruguai,
na Argentina e no Chile foram
objeto de vigilância e infiltração, tão logo lá chegaram,
orientadas pelos serviços militares dos respectivos países, em
trabalho conjunto com agentes
e embaixadas do Brasil. E, claro,
com a CIA, como tão bem relata
o ex-agente americano Phillipe
Agee em "Inside the CIA".
Estão documentados casos de
brasileiros sequestrados e presos
no Uruguai, em 69/70, e entregues ao Exército brasileiro, sem
que ao menos fossem exilados.
Quando envolvidas, as polícias
locais estiveram sempre agindo
como auxiliares (os que se expunham a possíveis riscos) dos serviços militares de repressão. Foi
assim também o Brasil.
O nome Operação Condor
caiu em desuso, provavelmente
por ter chegado a conhecimento
público, mas a interligação por
ele batizada não cessou jamais.
A queda das ditaduras nos países da operação não mudou, nos
militares, a visão de segurança
como um conceito ideológico -
não só capitalista, mas também
conservador. A doutrina militar
elaborada para a América Latina não sofreu alteração essencial, razão bastante para que
também seus mecanismos não
se alterassem.
O retorno do SNI, sob o nome
de Abin, e outros serviços de espionagem interna e repressão
que o governo está implantando, como ainda os que está discutindo, são todos instrumentos
da doutrina de segurança nacional, que deixou de ser citada,
mas não de ser exercitada. Nem
aqui nem nos outros da Operação Condor, que de efêmero teve
só o nome.
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