São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

A mudança do reformista

Quinhentos dias de governo merecem mesmo um grande discurso em rede nacional de TV. E um grande discurso não dispensa o momento culminante de uma afirmação grandiosa do presidente para o seu povo. Lula não faltou com o discurso nem com a frase, antes de embarcar para a China: "Fui eleito para fazer mudanças. Essa é minha missão e dela não abro mão".
Está confirmada, portanto, a mudança de Lula para a Granja do Torto, enquanto o Palácio da Alvorada estiver em reforma.

Eleição
Um lado atacou com a corrupção no Ministério da Saúde "dos governos anteriores", o outro respondeu em 24 horas com o envolvimento de um deputado petista no assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André. Pronto, estão estabelecidos o tom e a grandeza temática da disputa eleitoral que Marta Suplicy e José Serra projetarão de São Paulo para o restante do país.
É uma disputa que impressiona já a partir dos seus termos mais pessoais.
Com mais de três anos no comando da prefeitura, estar apoiada para a reeleição por apenas 17% dos eleitores, nem dois em cada dez concidadãos, é um atestado tão contundente de fracasso que só a ausência total de autocrítica, ou seja do que for, faz insistir em reeleição. Em tais condições, está claro que a possibilidade de reeleição de Marta Suplicy depende de dois fatores alheios ao seu pouco aprovado desempenho na prefeitura.
Um deles é o grau de eficácia que a propaganda de sua campanha alcance. O outro é a participação do governo Lula, mais do que em eventos promocionais, nas transações para adquirir apoios à sua candidata. Com um pouco mais de disposição da mídia, isso já estaria em nível de escândalo: até cargos importantes no Ministério da Saúde, este mesmo que treme sob um caso de corrupção talvez bilionária, foram ofertados a malufistas como aperitivo para o apoio do PP a Marta Suplicy.
A lucidez da candidatura de José Serra a prefeito é pelo menos discutível. Em mais dois anos, estaria em situação privilegiada para escolher entre duas possibilidades expressivas: a candidatura ao governo paulista, como representante do bem cotado governo Alckmin, ou a candidatura de oposição à Presidência. Neste caso, com perspectivas que o governo Lula vai tornando cada vez mais promissoras, e nada sugere que o cenário passe por alteração radical até 2006.
Serra fez a escolha menor. Se vencer, dificilmente teria condições políticas para abandonar a prefeitura com apenas um ano de mandato e concorrer à Presidência. Se perder, terá esvaziado muito, talvez sem remédio, a posição excepcional de provável pólo dos eleitores de Lula que se sentem ludibriados, aos quais se somariam os naturalmente seus. Uma senhora massa de votos.

Vitória
Vasto noticiário informou que o Rio perdeu a disputa pela Olimpíada de 2012. Não, o Rio ganhou, o Rio simbolizado pelos seus cofres públicos. Quem perdeu foram os que esperavam as comissões provenientes dos bilhões em obras gigantescas, para construção de estádios e infra-estrutura, e a TV Globo, que faturaria fortunas com a transmissão nacional e internacional dos jogos.
É um engodo negocista a história de que Copas e Olimpíadas compensam, até com lucro, o investimento que exigem nos países sem prévias condições para realizá-las. A foto de uma favela carioca basta para provar onde o Rio deveria investir, e só o faz na mínima medida para não dizer que não o faz.
Com a exclusão do Rio, a TV recebeu uma retribuição pelo sensacionalismo com que engrandece e projeta os males cariocas. O pessoal do superfaturamento e respectivas comissões logo produzirá novas idéias.



Texto Anterior: Datafolha: Eleitor diz que apoio de Lula não vale muito na escolha
Próximo Texto: Datafolha: Maluf tem rejeição de 50%, Marta, de 43%, e Serra, de 11%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.