São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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Debates da tarde abordam nova ordem mundial

LUÍS NASSIF
COLUNISTA DA FOLHA

Os debates da parte da tarde, no lançamento do Instituto Fernando Henrique Cardoso, juntou 70 pessoas para falar sobre a nova ordem mundial. Estavam presentes economistas, ex-membros do governo, como José Serra, e intelectuais, como José Arthur Gianotti.
A primeira mesa de debates foi composta por Antonio Gutierrez, Rubens Ricupero, Lionel Jospin, Celso Lafer e FHC.
O ponto central do raciocínio foi esboçado por Ricupero, num debate entre o multilateralismo e o unilateralismo de George W. Bush. O Iraque marcou o rompimento do multilateralismo. O fracasso dos EUA significou o golpe quase mortal no unilateralismo norte-americano.
O novo multilateralismo teria que ser com desenvolvimento sustentado e coesão social, segundo Gutierrez. As sugestões passam pela reforma da ONU e pela recomposição do conceito de segurança.
A visão de Ricupero vai nessa direção. Inicialmente, rebateu as alegações do governo Bush acerca da falência do multilateralismo para o combate ao terrorismo e às novas crises internacionais. A ONU atuou rapidamente, os Bancos Centrais dos principais países agiram para evitar que a crise se propagasse. O modelo foi atropelado pela pressão norte-americana, que não deu o prazo necessário para os inspetores da ONU.
O fracasso do Iraque demonstrou não apenas a falta de legitimidade da coalização, mas a incompetência da operação. E trouxe de volta o reconhecimento da indispensabilidade do multilateralismo.
Foi a idéia do "eixo do mal" que agravou o dissenso, com Bush passando a defender a idéia do ataque preventivo.
Hoje em dia, a expressão maior dos males do unilateralismo, segundo Ricupero, é a questão do Oriente Médio e o conflito Israel-Palestina.
A questão central, diz ele, é que a montagem de todas as novas ordens internacionais conhecidas se seguiu a guerras, nas quais o inimigo era destruído, e o vencedor, responsável pela reconstrução. A crise atual não tem essas características. O fim da URSS não veio com a destruição dos perdedores nem das instituições. Por isso o processo de reconstrução é muito mais imprevisível.
Nesse quadro, o que se está ao alcance é retomar as reconstruções das instituições, de maneira a adaptá-las para enfrentar os problemas de 2003.
Ricupero propõe que se circunscreva os problemas aos três maiores: genocídio, internacionalização do terrorismo e risco de proliferação de armas de destruição.
A dúvida de Jospin é se o unilateralismo é característica do governo Bush ou da própria América. A maneira mais fácil de saber seria vencer o governo Bush, diz ele. O único meio seria convencer os norte-americanos de que é de seu interesse participar de uma ordem multilateral. A posição de Ricupero é que o problema do unilateralismo é da própria sociedade norte-americana.


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