São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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VIDA DE EX

Em palestra de inauguração do Instituto FHC, ex-presidente dos EUA defende mais cooperação internacional

Clinton critica unilateralismo de Bush

DA REDAÇÃO

"Outro dia estava me barbeando em Nova York, olhei para o espelho e pensei: "Meu Deus, agora eu sou uma ONG'", disse ontem o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton (1993-2001), ao iniciar sua palestra na inauguração do Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. "E você, presidente Cardoso, com seu instituto, também torna-se uma ONG."
Durante sua fala, que durou cerca de 30 minutos e foi seguida de perguntas e respostas, Clinton disse discordar da política de unilateralismo do atual presidente dos EUA, George W. Bush: "Se vivemos num mundo interdependente, precisamos de mais parceiros e menos inimigos".
"[A Guerra do] Iraque não era sobre petróleo ou imperialismo, mas sobre unilateralidade versus cooperação", disse o ex-presidente americano. Sua fundação é o Centro Presidencial Clinton.
Segundo ele, há hoje na sociedade norte-americana intenso debate entre uma corrente que defende que os EUA, como a única superpotência militar, econômica e política, deve aproveitar este momento para "resolver problemas e nos livrarmos de pessoas e forças ruins do mundo", e outra favorável a uma maior cooperação internacional.
"É mais importante aproveitarmos esse momento para ajudar a construir estruturas de cooperação internacional de forma que, quando não formos mais a única superpotência, teremos um mundo melhor onde viver", disse Clinton ao auditório lotado do hotel Renaissance, nos Jardins. Defendeu a adesão americana a iniciativas como o Protocolo de Kyoto e o Tribunal Penal Internacional.
Segundo Clinton, o avanço da democracia no mundo é motivo para otimismo, mas não é suficiente. "A democracia é mais do que eleições e governo da maioria. É um lugar onde há respeito aos direitos das minorias e às liberdades individuais", disse.
Clinton defendeu o papel das organizações não-governamentais, pois apenas os Estados não teriam como resolver os problemas e precisam ser fiscalizados.
Ele listou o que considera as três prioridades do mundo hoje: educação, saúde e democratização de organismos internacionais como a ONU, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OMC (Organização Mundial do Comércio).
Também defendeu o fortalecimento da classe média ao redor do mundo. No caso da saúde, citou o Brasil como exemplo devido à política de combate à Aids: "O Brasil é o único país do mundo em desenvolvimento a oferecer tratamento gratuito a todos os portadores de HIV que necessitam. Isso é extraordinário".
Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso governaram durante boa parte dos anos 90 e, juntos, integraram a Terceira Via, grupo de líderes mundiais que defendia um caminho alternativo à tradicional polarização esquerda e direita.


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