São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Polícia vai apurar suposto pedido de mesada para o PTB ao Instituto de Resseguros do Brasil

Lula manda PF investigar nova denúncia de corrupção

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Momentos antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcar para a viagem de sete dias ao Japão e à Coréia do Sul, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) anunciou ontem a abertura de um inquérito na Polícia Federal para investigar denúncias de corrupção no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).
Segundo reportagem da revista "Veja" desta semana, o deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), havia pedido R$ 400 mil por mês a Lídio Duarte, então presidente do IRB. Duarte pediu demissão há dois meses, de acordo com a revista, por não suportar a pressão dos petebistas.
O anúncio do inquérito faz parte da estratégia do governo de esvaziar a criação da CPI dos Correios e se encaixa no discurso de que a investigação pelo Legislativo só seria necessária se não houvesse empenho na investigação das suspeitas de irregularidade.
A estratégia não é nova. O governo fez o mesmo para derrubar a instalação da CPI do Banestado, mas acabou derrotado.
O novo inquérito seria uma espécie de desmembramento de outra investigação já em andamento: a que apura supostos casos de corrupção nos Correios. Os dois casos envolvem acusações de que o PTB comanda esquemas de corrupção na máquina pública.
O ministro da Justiça rotulou o atual momento do inquérito dos Correios, aberto há uma semana, de "delicado" e "agudo", admitindo ainda a possibilidade de ligação do atual caso com a Operação Vampiro, que apurou fraudes no Ministério da Saúde.
"Eu tomei conhecimento dessa notícia do IRB e já determinei ao Paulo Lacerda [diretor-geral da PF] que abrisse inquérito policial a respeito", afirmou.
A crise política que se criou devido às acusações sobre corrupção nos Correios pode levar o Congresso a criar, na quarta-feira, uma CPI para apurar o suposto esquema nos Correios.
O Palácio do Planalto tentará até o último instante evitar a criação da comissão, que conta hoje com apoio mais do que suficiente, forçando aliados a retirarem suas assinaturas do requerimento de criação. Hoje, são 217 deputados e 49 senadores que subscrevem o documento. São necessários 171 nomes na Câmara e 27 no Senado.
Nesta semana, os três principais alvos da investigação sobre um suposto esquema de corrupção nos Correios deverão ser ouvidos pela PF. Serão convocados para depor o ex-diretor do Decam (Departamento de Contratação e Administração de Material) Maurício Marinho, o ex-diretor de Administração Antônio Osório Batista, filiado ao PTB, e seu ex-assessor-executivo Fernando Leite de Godoy.
Bastos falou à imprensa no início da manhã de ontem na Base Aérea de Brasília, onde, por cerca de 20 minutos, conversou com o presidente Lula, que embarcou em seguida para Coréia do Sul e para o Japão. Em férias, o ministro da Justiça foi convocado por Lula e chegou anteontem a Brasília apenas para a reunião, embarcando de volta para São Paulo imediatamente após o encontro.

Visibilidade estratégia
A convocação do ministro quando novas denúncias no IRB surgiram e a coletiva em um domingo pela manhã revelam que o governo decidiu dar visibilidade para o seu empenho via PF e que está preocupado com a instalação da CPI. Bem diferente do que o próprio Lula disse na semana passada. Questionado sobre a CPI, ele foi irônico: "Olha para a minha cara pra você ver se eu estou preocupado com isso."
Ontem, na entrevista organizada pela Secretaria de Imprensa da Presidência, Bastos citou a possibilidade de ligações entre o caso dos Correios e a Operação Vampiro, que no ano passado apurou esquemas de arrecadação de propina no Ministério da Saúde em licitações para compra de hemoderivados para a pasta.
"Isso está sendo investigado. Pode ser que algumas empresas investigadas naquele caso do Ministério da Saúde estejam envolvidas nesta questão [Correios]."
Reportagem de anteontem da Folha mostrou que a empresa ABC Data Saúde, consultada pelos Correios para licitação suspensa na semana passada por indícios de fraude, também foi investigada no caso dos Vampiros.

Pedido de Lula
Na conversa de ontem, Bastos disse ter ouvido de Lula o pedido de não olhar partidos nem ministérios durante as investigações do caso dos Correios.
"O presidente ainda me reiterou hoje que nós vamos fazer uma investigação sem olhar para os partidos, sem olhar para os ministérios e sem olhar para quem quer que seja."
Sobre o andamento das investigações, prosseguiu: "E passei ao presidente aquilo que eu podia dizer, porque esse inquérito corre em segredo de Justiça. Esse é um inquérito que está numa fase delicada e aguda de planejamento".


Colaboraram RANIER BRAGON e ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília


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