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GOVERNO SOB PRESSÃO
Polícia vai apurar suposto pedido de mesada para o PTB ao Instituto de Resseguros do Brasil
Lula manda PF investigar nova denúncia de corrupção
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Momentos antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcar para a viagem de sete dias
ao Japão e à Coréia do Sul, o ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) anunciou ontem a abertura de um inquérito na Polícia
Federal para investigar denúncias
de corrupção no IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil).
Segundo reportagem da revista
"Veja" desta semana, o deputado
e presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), havia pedido R$ 400
mil por mês a Lídio Duarte, então
presidente do IRB. Duarte pediu
demissão há dois meses, de acordo com a revista, por não suportar a pressão dos petebistas.
O anúncio do inquérito faz parte da estratégia do governo de esvaziar a criação da CPI dos Correios e se encaixa no discurso de
que a investigação pelo Legislativo só seria necessária se não houvesse empenho na investigação
das suspeitas de irregularidade.
A estratégia não é nova. O governo fez o mesmo para derrubar
a instalação da CPI do Banestado,
mas acabou derrotado.
O novo inquérito seria uma espécie de desmembramento de outra investigação já em andamento: a que apura supostos casos de
corrupção nos Correios. Os dois
casos envolvem acusações de que
o PTB comanda esquemas de corrupção na máquina pública.
O ministro da Justiça rotulou o
atual momento do inquérito dos
Correios, aberto há uma semana,
de "delicado" e "agudo", admitindo ainda a possibilidade de ligação do atual caso com a Operação
Vampiro, que apurou fraudes no
Ministério da Saúde.
"Eu tomei conhecimento dessa
notícia do IRB e já determinei ao
Paulo Lacerda [diretor-geral da
PF] que abrisse inquérito policial
a respeito", afirmou.
A crise política que se criou devido às acusações sobre corrupção nos Correios pode levar o
Congresso a criar, na quarta-feira,
uma CPI para apurar o suposto
esquema nos Correios.
O Palácio do Planalto tentará
até o último instante evitar a criação da comissão, que conta hoje
com apoio mais do que suficiente,
forçando aliados a retirarem suas
assinaturas do requerimento de
criação. Hoje, são 217 deputados e
49 senadores que subscrevem o
documento. São necessários 171
nomes na Câmara e 27 no Senado.
Nesta semana, os três principais
alvos da investigação sobre um
suposto esquema de corrupção
nos Correios deverão ser ouvidos
pela PF. Serão convocados para
depor o ex-diretor do Decam (Departamento de Contratação e Administração de Material) Maurício Marinho, o ex-diretor de Administração Antônio Osório Batista, filiado ao PTB, e seu ex-assessor-executivo Fernando Leite
de Godoy.
Bastos falou à imprensa no início da manhã de ontem na Base
Aérea de Brasília, onde, por cerca
de 20 minutos, conversou com o
presidente Lula, que embarcou
em seguida para Coréia do Sul e
para o Japão. Em férias, o ministro da Justiça foi convocado por
Lula e chegou anteontem a Brasília apenas para a reunião, embarcando de volta para São Paulo
imediatamente após o encontro.
Visibilidade estratégia
A convocação do ministro
quando novas denúncias no IRB
surgiram e a coletiva em um domingo pela manhã revelam que o
governo decidiu dar visibilidade
para o seu empenho via PF e que
está preocupado com a instalação
da CPI. Bem diferente do que o
próprio Lula disse na semana passada. Questionado sobre a CPI,
ele foi irônico: "Olha para a minha
cara pra você ver se eu estou preocupado com isso."
Ontem, na entrevista organizada pela Secretaria de Imprensa da
Presidência, Bastos citou a possibilidade de ligações entre o caso
dos Correios e a Operação Vampiro, que no ano passado apurou
esquemas de arrecadação de propina no Ministério da Saúde em
licitações para compra de hemoderivados para a pasta.
"Isso está sendo investigado.
Pode ser que algumas empresas
investigadas naquele caso do Ministério da Saúde estejam envolvidas nesta questão [Correios]."
Reportagem de anteontem da
Folha mostrou que a empresa
ABC Data Saúde, consultada pelos Correios para licitação suspensa na semana passada por indícios de fraude, também foi investigada no caso dos Vampiros.
Pedido de Lula
Na conversa de ontem, Bastos
disse ter ouvido de Lula o pedido
de não olhar partidos nem ministérios durante as investigações do
caso dos Correios.
"O presidente ainda me reiterou
hoje que nós vamos fazer uma investigação sem olhar para os partidos, sem olhar para os ministérios e sem olhar para quem quer
que seja."
Sobre o andamento das investigações, prosseguiu: "E passei ao
presidente aquilo que eu podia dizer, porque esse inquérito corre
em segredo de Justiça. Esse é um
inquérito que está numa fase delicada e aguda de planejamento".
Colaboraram RANIER BRAGON e
ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de
Brasília
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