São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Em meio à crise, Genoino diz que é preciso unir parlamentares em torno da agenda do partido; esquerda petista ataca neo-aliados

Governo deve "requalificar" base aliada, diz PT

Daniel Guimarães/Folha Imagem
Sílvio Pereira, Genoino, Marta Suplicy e os candidatos à presidência do PT Maria do Rosário, Raul Pont, Plínio de Arruda e Valter Pomar


CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova palavra de ordem no PT é "requalificar" a base. O emprego do verbo surgiu ontem, no Diretório Nacional, depois de o partido "orientar" seus parlamentares a não assinarem o pedido de CPI dos Correios.
"Temos que requalificar nossa maioria política no Congresso", defendeu José Genoino, presidente nacional do PT, para quem o termo significa "ter uma agenda de unidade".
Na noite de sábado, o Diretório Nacional se adiantou e enumerou em sua resolução o que seria essa agenda. Entre as propostas petistas para construir um caminho comum com os aliados há desde a "consolidação do crescimento econômico" e a garantia das metas da reforma agrária (que até agora não foram cumpridas pela União) à conclusão da votação da reforma tributária e redefinição das agências reguladoras.
A busca pela "requalificação" da base surge depois de sucessivas derrotas do governo no Congresso, começando pela eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara, e concentrando-se agora no escândalo dos Correios, onde um funcionário indicado pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ), foi flagrado num suposto esquema de corrupção.
Segundo o servidor, o esquema teria como beneficiário maior o próprio Jefferson, aliado do governo, defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última semana. Após a publicação da reportagem, Marinho foi afastado do cargo na estatal.
Ciente das dificuldades que o governo enfrenta em agregar e manter partidos em torno de seu projeto, Genoino disse que é necessário "fazer uma maioria que não precisa mais ser de três quintos, mas uma maioria basicamente em relação ao dia-a-dia do Legislativo".
No entanto, o presidente nacional do PT apressa-se em dizer que "não se trata de reduzir [a base], mas requalificar dentro das necessidades da governabilidade". Ele observa que a relação do PT com os aliados "não está boa". "O PT tem de dialogar com a base aliada", afirma.
Os concorrentes à presidência do PT na eleição de setembro, quase todos da esquerda do partido, criticaram o atual arco de alianças do governo federal. Raul Pont, deputado estadual pelo Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Porto Alegre, afirmou que "a política de alianças que se pratica hoje é equivocada e nos leva a esse pântano, a esse atoleiro de corrupção, onde temos de assumir responsabilidades que não são nossas". Pont é candidato a presidência do PT pela corrente Democracia Socialista.
Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda, disse que alguns partidos aliados ao governo federal "não têm compromisso pragmático" com o PT. Ele usou um ditado popular para expressar o que pensa dos neo-aliados petistas: "Quem anda com cachorro pega pulgas", atacou.

Vivandeiras
Genoino voltou a querer polemizar com o PSDB ontem. Ele criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, no sábado, em encontro estadual do PSDB em São Paulo, dissera que o governo "perdeu o rumo" e "parece um peru bêbado em dia de Carnaval".
Para Genoino, "ele [FHC] e os tucanos estão tão nervosos, preocupados e apressados, que estão virando vivandeiras da crise".
Genoino disse que o PSDB, que defende a instalação da CPI dos Correios no Congresso, "está fazendo da CPI uma oportunidade para ficar como agourentos: quanto pior, melhor".
A frase "quanto pior, melhor", que agora troca de lado, foi usada diversas vezes por tucanos para definir a atuação do PT na oposição durante os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidência em 2006, contestou as declarações de Genoino. "Isso se chama tergiversação", definiu. "Ao invés de prestar contas à sociedade de denúncias graves que estão ocorrendo, o governo Lula, acuado, sai atacando os outros para mudar de assunto", afirmou ele. O governador tucano acredita que os petistas "estão querendo mudar o foco" da situação agora.


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