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CELSO PINTO
Em defesa das reservas
O Banco Central deu mais
um passo, ontem, para tentar
melhorar as contas externas,
cortando despesas e estimulando a entrada de dólares.
Desde o primeiro aperto, em
março, o governo não parou
mais, contrariando as previsões iniciais do BC de que este
seria um ano "monótono"
na área cambial.
O corte de ontem veio pela
proibição de financiamento
em gastos externos via cartões
de crédito. Esses gastos estão
embutidos no item "viagens
internacionais" do balanço
de pagamentos. O buraco nessa rubrica passou de US$ 877
milhões, no primeiro quadrimestre do ano passado, para
US$ 1,2 bilhão neste ano, um
impressionante salto de 41%.
Neste ritmo, esse buraco, que
somou US$ 3,6 bilhões no ano
passado, poderia superar US$
5 bilhões neste ano.
O estímulo à entrada de dólares veio pela permissão para
que investidores externos em
bolsas brasileiras pudessem
voltar a operar no nosso mercado futuro, no montante das
ações que possuam. No passado, essas operações foram
proibidas, porque o mercado
havia encontrado brechas para transformá-las em operações de renda fixa (sem pagar
o imposto devido).
A forma mais fácil de fazer
isso era via operações de
"box" (operações simultâneas e inversas de compra e
venda de opções), que continuam proibidas. De todo modo, ontem o mercado esperava
ler com atenção a regulamentação para ver se haverá brechas. O BC continua a cobrar
2% de imposto (IOF) em aplicações externas em renda fixa
no Brasil.
O novo estímulo à entrada
de dólares, contudo, não quer
dizer que o BC está desesperado para atrair qualquer tipo
de aplicação externa. Se estivesse, teria eliminado o IOF
de 2% que, na prática, continua tornando pouco atraentes as aplicações em renda fixa.
Um cálculo feito pelo Citibank no início do mês (e que
continua, grosso modo, válido), indica que o retorno, líquido de Imposto de Renda,
de uma aplicação externa
num título de curto prazo (56
dias) do BC, chegaria ao equivalente a 9,5% ao ano sem o
IOF. Pagando os 2% de IOF,
contudo, haveria perda de
0,64%. Para um título (LTN)
de prazo maior (183 dias), o
retorno sem IOF seria de 8,8%
e com o IOF, de 4,5%.
Qual a conclusão? Em primeiro lugar, considerada a taxa de juros praticada hoje, a
expectativa de desvalorização
cambial e o pagamento do
IOF de 2%, o investidor externo só pode esperar algum retorno positivo se deixar o dinheiro no mínimo por seis
meses.
Mesmo assim, o retorno é
pouco competitivo em relação
a outros países em desenvolvimento. O Citi dá alguns exemplos para títulos com prazo ao
redor de seis meses: 6,7% na
Argentina, 10,1% no México,
5,6% na Venezuela, 12,4% na
Malásia. Fica claro que, pagando o IOF, o investidor no
Brasil ganhará menos do que
em qualquer desses países,
com um risco possivelmente
maior.
É claro que, se o investidor
encontrar uma forma de evitar o pagamento do IOF, a
remuneração fica mais interessante. Mas não será espetacular, como já foi. O chamado
"cupom cambial", o retorno
de um investidor em dólares
no Brasil, continua perto do
piso possível para um país
preocupado com suas contas
externas.
Tanto isso é verdade que as
saídas de dinheiro via câmbio
flutuante, onde estão operações de renda fixa, continuaram muito altas mesmo depois do corte do IOF de 7%
para 2%. Em abril, havia saído US$ 1,8 bilhão via flutuante. Até o dia 21 deste mês, saíram US$ 792 milhões, projetando um buraco de US$ 1,2
bilhão em maio. No quadrimestre, saíram US$ 6,3 bilhões
via flutuante (que também
engloba despesas com cartões
de crédito no exterior, afetadas ontem).
Nesse ano, o Brasil já perdeu
US$ 3,7 bilhões em reservas
cambiais. O BC, contudo, claramente conta com a entrada
do dinheiro de privatizações e
vendas de ações no exterior
para contrabalançar essa perda de aplicações em outras
áreas. O dinheiro da venda da
Vale (US$ 1,2 bilhão), das
ações do Unibanco em poder
do BC no exterior (US$ 1 bilhão) e talvez da Cemig (mais
de US$ 1 bilhão) deve garantir
um ganho de reserva neste
mês, apesar da saída no flutuante.
O nome do jogo, contudo, é
manter as reservas e, para isso, pode-se esperar mais medidas futuras. Inclusive, se necessário, aumento dos juros
internos e eliminação do IOF
de 2%.
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