São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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CONVENÇÃO PL

Convenção do PL deve confirmar José Alencar, senador mineiro e empresário, como vice na chapa de Lula

Partido ratifica hoje casamento com PT

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao aprovar oficialmente hoje a coligação com o PT e indicar o senador José Alencar (MG) para vice de Luiz Inácio Lula da Silva, a convenção nacional do PL transformará em casamento um namoro de cerca de um ano.
O casamento será por interesse eleitoral. Lula quer Alencar em sua chapa para sinalizar que o PT abandonou o radicalismo político e para abrir um canal de negociações com o empresariado.
Dono do grupo Coteminas, do ramo da indústria têxtil, o senador mineiro foi vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais. Alencar também deverá atrair contribuições de grandes empresas para o PT.
Esses atrativos fizeram o PT desconsiderar as características de partido conservador próprias do PL. Seis dos 22 deputados do PL são membros da Igreja Universal. O deputado Luiz Antonio Medeiros (PL-SP) criou a Força Sindical, central que faz oposição à CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT.
A direção nacional do PL vê na aliança o caminho mais rápido para chegar ao poder e consolidar o partido. O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto (SP), principal articulador da coligação, também deseja uma desforra com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que alijou o partido do seu governo.
Costa Neto, que tem o controle da máquina partidária, jogou tudo na aliança. Mas deixou uma porta aberta. A reunião de hoje vai delegar poderes à Executiva Nacional, que poderá fazer alterações no acordo até o dia 30, quando termina o prazo legal para a realização das convenções.
A Executiva poderá, por exemplo, retirar a indicação de Alencar para vice. Isso viabilizaria a indicação de um vice do PSB, no caso de retirada da candidatura de Anthony Garotinho. Mas o que Costa Neto mais teme é que a direção do PT não cumpra o acordo de pressionar o partido para fechar acordos que acomodem deputados do PL nos Estados.
Até sexta-feira, o presidente do PL ainda encontrava dificuldades para fechar acordos regionais em 13 Estados. Em outros sete está decidido que não haverá coligação entre os dois partidos, mas isso não será problema. Cada um terá a sua própria chapa.
Em São Paulo, o PL se coligou com o PPB e apoiará Paulo Maluf na eleição para o governo do Estado. No Distrito Federal, mesmo sem fechar coligação formal, o PL vai apoiar o governador Joaquim Roriz (PMDB), inimigo do PT.

Namoro
O assédio do PL ao PT começou no dia 12 de junho do ano passado. Costa Neto pediu para o então líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), agendar uma reunião de Lula com a bancada do PL. "Se o Lula não topar, não divulga, porque vai ficar mal para o PL", recomendou Costa Neto.
Uma semana depois, Pinheiro deu a resposta: "O Lula topou a parada". Lula se reuniu com a bancada do PL no dia 27 de junho. Encantou a todos.
No mesmo dia, líderes do PT e do PL participaram da "marcha contra o apagão" em Brasília. Vaiado pelos 50 mil manifestantes, Costa Neto teve o apoio do presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), que ficou ao seu lado no palanque. As negociações prosseguiram. Em setembro, o PL passou a assediar José Alencar, que decidira deixar o PMDB. Após três reuniões, o senador se mantinha indeciso.
Na semana que antecedeu o prazo final de filiação partidária (6 de outubro), Costa Neto soube que Lula, Dirceu e o deputado José Genoino (PT-SP) teriam um encontro com José Alencar. O presidente do PL argumentou que o senador não ingressaria no PT, mas poderia ser um aliado se fosse para o PL.
"Peçam para o Lula incentivar o senador a entrar no PL. Ele não vai para um partido de esquerda. Mas, se ele for para o PL, poderá apoiar o Lula para presidente", recomendou Costa Neto.
No dia seguinte, o presidente do PL tomou café da manhã com José Alencar no Hotel Nacional, onde acontece a convenção do partido hoje, acompanhado dos deputados Luiz Antônio de Medeiros (SP) e Bispo Rodrigues (RJ). "O Lula falou muito bem de vocês. Estou indo para Minas. Vou consultar o meu pessoal e dou uma resposta no sábado", comentou o senador. Costa Neto comentou com os colegas. "Bispo, você não bebe. Mas eu e o Medeiros vamos tomar um champanhe no sábado." Alencar ingressou no PL.

Verticalização
As negociações entre o PT e o PL avançaram e geraram críticas a Lula. "Apoio e voto não se rejeitam", respondeu Pinheiro, evangélico ligado à Igreja Batista. Dirceu também bancou a aliança.
O namoro quase foi rompido em fevereiro deste ano, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aprovou a verticalização das coligações, impedindo que os partidos fechassem nos Estados alianças deferentes daquelas para a eleição presidencial.
Mas as relações entre os dois partidos foram retomadas em março, apesar das dificuldades que encontravam para fechar alianças regionais.
Em abril, o namoro virou noivado. Alencar posava cada vez mais como vice de Lula. Costa Neto intensificou os encontros com a bancada, mas descobriu obstáculos intransponíveis à aliança. Na última terça-feira, os presidentes do PL e do PT chegaram a desistir da coligação formal, mas a intervenção de Lula e Alencar impôs aos dois partidos um casamento forçado. A cerimônia será hoje, às 10h30, no Hotel Nacional, em Brasília.



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