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CONFLITO AGRÁRIO
Presidente Epitácio (SP) é sitiada por acampamentos; movimentos agrários recebem 130 cadastros diários
Desemprego leva "novos sem-terra" ao Pontal
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE EPITÁCIO (SP)
Presidente Epitácio, cidade de
40 mil habitantes do Pontal do Paranapanema (SP), foi sitiada por
seis acampamentos de sem-terra,
que já têm 4.000 famílias inscritas.
Os acampamentos têm o mesmo porte de outros espalhados
pelo país, mas seu perfil e ritmo de
crescimento são diferentes.
Conforme relatos à Agência Folha, os acampamentos têm atraído pessoas depois da promessa de
"reforma agrária pacífica" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Muitas delas nunca participaram
de movimentos agrários.
Os novos sem-terra dizem querer trocar o desemprego e a falta
de perspectivas na cidade por um
espaço no campo para trabalhar
(leia texto nesta página).
Na última semana, os dois movimentos que organizam os
acampamentos, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) e a recém-criada Uniterra (União dos Movimentos Sociais pela Terra e Fome Zero),
contabilizavam, juntos, média de
130 novos cadastros diários.
A cidade de Presidente Epitácio
foi a escolhida pelos sem-terra, segundo eles, porque o município
teria 36 mil hectares de terras devolutas (terras do Estado que teriam sido griladas) a serem recuperadas pelo governo paulista.
Essa área assentaria no máximo
1.800 famílias no município.
Segundo o MST e a Uniterra, na
região do Pontal há 1,2 milhão de
hectares de terras devolutas. O Estado de São Paulo entrou na Justiça com ações de discriminações
(para analisar se a terra é devoluta) em 400 mil hectares. Destes,
100 mil já teriam sido recuperados
em primeira instância e 36 mil estariam no município.
O Itesp (Fundação Instituto de
Terras do Estado de São Paulo)
tem números diferentes: o Estado
possui ações para recuperação de
240 mil hectares e 102 mil são objeto de ações que serão julgadas
até o final do ano. O governo estadual se comprometeu a destinar
as áreas a assentamentos.
Estratégias
Os dois movimentos adotam estratégias diferentes de organização. O acampamento do MST, organizado por José Rainha Jr. na
SPV- 35, tinha, na última quinta-feira, 2.100 famílias cadastradas e
1.700 barracos. Rainha Jr. e os
coordenadores regionais do MST
planejam juntar 5.000 famílias até
julho, totalizando uma população
acampada de 20 mil pessoas.
A decisão de montar o que chamou de "megaacampamento"
acabou provocando um bate-boca entre Rainha Jr. e Gilmar Mauro, da direção nacional do MST,
nos jornais da região (leia texto
nesta página). Mauro afirmou
que o acampamento não era novidade nem "mega". Depois do
episódio, o irrequieto líder do
MST no Pontal recebeu nova
proibição de falar à imprensa em
nome do movimento. O MST, no
entanto, não impediu que Rainha
continue comandando o acampamento e aglutinando famílias.
O acampamento na SPV -35 tinha 152 famílias do movimento
Central do Brasil, coordenado por
Edir Ronan. Em 25 de maio, Ronan e Rainha hastearam a bandeira do MST no acampamento, que
absorveu o Central do Brasil.
Criado em 15 de maio numa fusão de cinco movimentos independentes do MST, a Uniterra colocou, em duas semanas, 507 pessoas no acampamento montado
no anel viário de Presidente Epitácio, conhecido como "acampamento do prefeito". A Uniterra
tem ainda cerca de 1.500 famílias
em outras áreas do município.
Segundo a auxiliar de enfermagem Valdirene Gomes da Silva,
presidente da Uniterra, o movimento é independente do prefeito
Adhemar Dassie (PSDB). "Ele
ajuda, mas o movimento é autônomo", afirma. Segundo ela, a
união dos cinco movimentos foi
uma necessidade "para criar um
movimento forte, que dê prioridade nos assentamentos ao povo
do município".
A Uniterra surgiu da união do
Mast (Movimento dos Agricultores Sem Terra), do MNF (Movimento Sem-Terra Nova Força),
do TV (Movimento Terra Viva),
do ARST (Movimento Associação Renovadora Sem-Terra) e do
MTRSTB (Movimento Trabalhadores Sem Terra Brasil).
Dassie disse temer que Presidente Epitácio, com 40 mil habitantes, viva um caos caso a promessa de Rainha de colocar 20 mil
pessoas em seu acampamento até
julho seja cumprida. "Não teremos como satisfazer as demandas
por escola, saúde e alimentação
dessa gente", afirma Dassie.
Colaborou SÍLVIA FREIRE, da Agência
Folha
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