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ARTIGO
Brizola
OSCAR NIEMEYER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sinto-me emocionado ao falar deste grande brasileiro que
foi Leonel Brizola.
Um contato que começou 50
anos atrás, quando, governador
do Estado do Rio Grande do Sul,
veio ao Rio me procurar para um
projeto que pretendia realizar naquele Estado.
Éramos jovens ainda. Ele, mais
do que eu. Lembro-me que tinha
um bigodinho, um ar fraternal e a
fala fluente e entusiasmada que
sempre o caracterizou.
Do projeto que desejava, me recordo apenas ser qualquer coisa
ligada ao urbanismo, que infelizmente ficou no papel.
Depois foi o tempo a correr, cada um de nós preso às suas atividades particulares. Brizola, na luta política que o absorveu a vida
inteira, sempre corajoso, sempre
pronto a reagir (como aconteceu
com o problema de Jango, que,
mais sereno, recusou a posição
radical que Brizola defendia).
Governador do Estado do Rio
de Janeiro, Brizola me convocou
novamente: queria construir os
Cieps e o Sambódromo, o que,
apesar do ambiente desfavorável
em que vivíamos, juntamente
com Darcy Ribeiro e José Carlos
Sussekind, acabou concluindo
com o maior êxito.
Como foi difícil para ele essa tarefa! Contra a realização do Sambódromo tudo foi tentado. Diziam que o tempo era curto demais, que a época das chuvas chegava e até para um riacho, que
afirmavam correr por baixo das
arquibancadas projetadas, apelavam. Nada o demoveu.
Inflexível, Brizola tudo fez no
curto prazo que tinha pela frente.
O Sambódromo está construído
-a grande festa popular que os
nossos irmãos mais pobres lhe
devem e de que os mais ricos, inclusive os que o criticavam, usufruem até hoje.
Quanto aos Cieps, são mais de
500 espalhados pelo Estado. Muitos deles -o que muito o entristecia- sabotados pela reação.
Ah, como funcionavam bem os
Cieps junto às favelas! Como a garotada dos morros neles entrava
com orgulho, como se começassem a usufruir daquilo que antes
só às crianças ricas era oferecido!
Nosso amigo foi embora. A última vez que o vi foi num almoço
em meu escritório, a falar de Getúlio, da vida brasileira, desta luta
por um mundo melhor da qual
ele sempre participou.
Recordo que, quando vieram as
eleições e me perguntaram qual
seria o meu candidato, respondi:
"Brizola ou Stedile. São guerreiros. E muitas vezes isso é fundamental."
Mas veio Lula. É um operário,
honesto, e dele só podemos esperar tempos melhores.
Oscar Niemeyer, 96, arquiteto, é um
dos criadores de Brasília e autor dos projetos do Sambódromo do Rio e dos Cieps
(Centros Integrados de Educação Pública) construídos nos governos de Brizola
no Rio. Tem obras edificadas na Alemanha, Argélia, EUA, França, Israel, Itália,
Líbano e Portugal, entre outros países.
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