São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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Ex-ministro diz que seu sonho é governar São Paulo

DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

José Dirceu assumiu ontem o mandato de deputado, para o qual foi eleito com 555 mil votos, revelando outra pretensão eleitoral: "Gostaria muito de governar o Estado de São Paulo".
O ex-ministro fez a afirmação em resposta ao deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), que viu no seu discurso um tom presidencial. "Eu quis ser governador do meu Estado e não consegui, fui derrotado [em 94]. Quem sabe um dia eu possa governar o Estado."
Em seu discurso de 35 minutos, Dirceu não citou Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias contra o governo, nem fez menção específica às acusações do suposto "mensalão". Disse que as denúncias de corrupção têm de ser apuradas e se colocou à disposição do Conselho de Ética e da comissão da Câmara. Não citou a CPI dos Correios.
Sobre a razão pela qual excluiu a CPI, respondeu: "Não tenho nada a ver com a questão dos Correios".
O ex-ministro chegou à Câmara às 14h20 e foi recebido por cerca de cem petistas, munidos de bandeiras vermelhas e acompanhados por parlamentares do partido. Assim que desceu do carro, começaram as palavras de ordem: "O Zé Dirceu é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", "partido, partido, é dos trabalhadores" e "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".
Dirceu atravessou o corredor que leva à liderança do PT sob gritos da militância de seu partido, aplausos e vaias. Misturava-se a profissionais de optometria que faziam lobby pela regulamentação de sua profissão e exames de vista, produtores de maçãs e uma exposição que propagandeava o Acre.
Dirceu foi recebido com um "bem-vindo comandante" na liderança, onde ficou até as 14h58.
O clima que antecedeu a chegada de Dirceu ao Congresso era de perplexidade, provocado pelo depoimento do funcionário dos Correios Maurício Marinho na CPI. Marinho fez ataques diretos à cúpula do governo e levantou suspeita em relação a vários contratos da estatal.
O ex-ministro enfrentou a animosidade de seus colegas de oposição, especialmente os do PFL, que defendem a cassação de seu mandato. Já em plenário, afirmou que não comentaria ameaças como essa, mas ressalvou que não há acusações contra ele. "Não sou réu e não sei do que estão me acusando."
Depois do discurso e do tumulto, Dirceu participou da sessão que aprovou o salário mínimo de R$ 300. No início da noite, voltou à liderança do PT e fez um balanço positivo de sua volta. "Trabalhei, votei, falei e estive com amigos e amigas. Acho que fui muito bem recebido e quero até agradecer à oposição pelo respeito."
O deputado ressaltou a agenda legislativa à frente do Congresso e disse "ter certeza" de que as investigações não irão atrapalhar as votações. "O que o país quer é que se apurem as denúncias. Já temos uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, uma Corregedoria, um Conselho de Ética e poderemos ter outra Comissão Parlamentar de Inquérito." (CT)


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