|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ex-ministro diz
que seu sonho é
governar São Paulo
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
José Dirceu assumiu ontem o mandato de deputado,
para o qual foi eleito com
555 mil votos, revelando outra pretensão eleitoral: "Gostaria muito de governar o
Estado de São Paulo".
O ex-ministro fez a afirmação em resposta ao deputado Alberto Goldman
(PSDB-SP), que viu no seu
discurso um tom presidencial. "Eu quis ser governador
do meu Estado e não consegui, fui derrotado [em 94].
Quem sabe um dia eu possa
governar o Estado."
Em seu discurso de 35 minutos, Dirceu não citou Roberto Jefferson (PTB-RJ),
autor das denúncias contra o
governo, nem fez menção
específica às acusações do
suposto "mensalão". Disse
que as denúncias de corrupção têm de ser apuradas e se
colocou à disposição do
Conselho de Ética e da comissão da Câmara. Não citou a CPI dos Correios.
Sobre a razão pela qual excluiu a CPI, respondeu:
"Não tenho nada a ver com a
questão dos Correios".
O ex-ministro chegou à
Câmara às 14h20 e foi recebido por cerca de cem petistas,
munidos de bandeiras vermelhas e acompanhados por
parlamentares do partido.
Assim que desceu do carro,
começaram as palavras de
ordem: "O Zé Dirceu é meu
amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", "partido, partido, é dos trabalhadores" e
"olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".
Dirceu atravessou o corredor que leva à liderança do
PT sob gritos da militância
de seu partido, aplausos e
vaias. Misturava-se a profissionais de optometria que
faziam lobby pela regulamentação de sua profissão e
exames de vista, produtores
de maçãs e uma exposição
que propagandeava o Acre.
Dirceu foi recebido com
um "bem-vindo comandante" na liderança, onde ficou
até as 14h58.
O clima que antecedeu a
chegada de Dirceu ao Congresso era de perplexidade,
provocado pelo depoimento
do funcionário dos Correios
Maurício Marinho na CPI.
Marinho fez ataques diretos
à cúpula do governo e levantou suspeita em relação a vários contratos da estatal.
O ex-ministro enfrentou a
animosidade de seus colegas
de oposição, especialmente
os do PFL, que defendem a
cassação de seu mandato. Já
em plenário, afirmou que
não comentaria ameaças como essa, mas ressalvou que
não há acusações contra ele.
"Não sou réu e não sei do
que estão me acusando."
Depois do discurso e do
tumulto, Dirceu participou
da sessão que aprovou o salário mínimo de R$ 300. No
início da noite, voltou à liderança do PT e fez um balanço positivo de sua volta.
"Trabalhei, votei, falei e estive com amigos e amigas.
Acho que fui muito bem recebido e quero até agradecer
à oposição pelo respeito."
O deputado ressaltou a
agenda legislativa à frente do
Congresso e disse "ter certeza" de que as investigações
não irão atrapalhar as votações. "O que o país quer é
que se apurem as denúncias.
Já temos uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito,
uma Corregedoria, um Conselho de Ética e poderemos
ter outra Comissão Parlamentar de Inquérito."
(CT)
Texto Anterior: Retorno de Dirceu à Câmara é tumultuado por radicais Próximo Texto: Janio de Freitas: Palavras em falta Índice
|