São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/VOLTA À PLANÍCIE

Deputados do PP e do PSOL fizeram provocações a petistas que lotavam galerias

Retorno de Dirceu à Câmara é tumultuado por radicais

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O retorno do ex-ministro José Dirceu à Câmara dos Deputados foi marcado por tumulto, brigas entre deputados e troca de ofensas entre parlamentares e militantes petistas que estavam nas galerias do plenário.
Interrompido por aplausos, gritos de protesto e apartes de seus colegas, Dirceu discursou por 35 minutos, nos quais atacou o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e exaltou as realizações do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
A tensão começou a aumentar quando o ex-ministro defendeu a liberdade de imprensa, lembrando ter sido vítima da censura durante a ditadura militar. No plenário, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva e de extrema-direita, gritou "terrorista, terrorista", provocando reação de outros parlamentares e das galerias, lotadas de simpatizantes do PT que entoavam o refrão: "Partido, partido, é dos trabalhadores".
Dirceu retomou a palavra, afirmou que manifestações como as de Bolsonaro fazem parte da democracia e que os parlamentares do governo estão em busca de consenso. "Quando o consenso não existir, vamos ao voto", declarou, para ouvir Bolsonaro replicar: "Compra voto!", em uma referência às acusações de pagamento de "mensalão" em troca de apoio no Congresso.
Bolsonaro voltou à carga e começou a fazer para as galerias o gesto com as mãos que simboliza roubo. Em meio a vaias dos petistas e protestos de outros parlamentares, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), irritado, pedia silêncio e ameaçava mandar a segurança esvaziar as galerias, que estavam lotadas.

Ataque a FHC
Alberto Goldman (SP), líder do PSDB, contestou os ataques ao governo anterior e lembrou a Dirceu que agora ele é um deputado igual aos outros. O ex-ministro voltou a falar no mesmo tom, com ataques à gestão FHC e aos governos estaduais do PSDB.
"Alberto Goldman fala como se não fosse verdade que acabamos com cinco programas eleitoreiros em cinco ministérios, com cinco cartões e substituímos por um programa que levamos para 8,5 milhões de famílias."
Ao final, Dirceu disse que havia prometido não fazer um discurso que provocasse embate político -tentação à qual não resistiu- e pediu desculpas a Goldman por eventuais "excessos". Concluiu afirmando que é de esquerda e foi saudado das galerias com o bordão: "O Zé Dirceu é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo".
Nesse ponto, começou o tumulto. Bolsonaro e Onyx Lorenzoni (PFL-RS) repetiam os gestos das mãos que simbolizam roubo, acompanhados do ex-petista e radical de esquerda Babá. O deputado Alberto Fraga (sem partido-DF) mostrava notas de dinheiro, enquanto os petistas das galerias gritavam "fascista, fascista".
Em segundos, deputados estavam se agredindo. Os deputados radicais de esquerda Luciana Genro (PSOL-RS) e Babá (PSOL-PA), expulsos do PT, e os de direita Bolsonaro e Fraga formaram uma frente contra os petistas. Carlito Merss (PT-SC) diz ter levado um soco do ex-aliado João Fontes (PDT-SE), que nega. Testemunhas viram a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) estourar um saco que Bolsonaro levava com as inscrições "mensalão do Lullão", com as duas letras "L" em verde e amarelo, símbolo do ex-presidente Fernando Collor de Melo (1990-1992).
Merss e Almeida afirmaram que vão processar Bolsonaro e João Fontes na Corregedoria da Câmara por quebra de decoro parlamentar. Uma pessoa foi presa por ter se recusado a sair das galerias quando Severino determinou a evacuação do local.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília


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