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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/VOLTA À PLANÍCIE
Deputados do PP e do PSOL fizeram provocações a petistas que lotavam galerias
Retorno de Dirceu à Câmara é tumultuado por radicais
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O retorno do ex-ministro José
Dirceu à Câmara dos Deputados
foi marcado por tumulto, brigas
entre deputados e troca de ofensas entre parlamentares e militantes petistas que estavam nas galerias do plenário.
Interrompido por aplausos, gritos de protesto e apartes de seus
colegas, Dirceu discursou por 35
minutos, nos quais atacou o legado do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) e
exaltou as realizações do governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
A tensão começou a aumentar
quando o ex-ministro defendeu a
liberdade de imprensa, lembrando ter sido vítima da censura durante a ditadura militar. No plenário, o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ), militar da reserva e de
extrema-direita, gritou "terrorista, terrorista", provocando reação
de outros parlamentares e das galerias, lotadas de simpatizantes do
PT que entoavam o refrão: "Partido, partido, é dos trabalhadores".
Dirceu retomou a palavra, afirmou que manifestações como as
de Bolsonaro fazem parte da democracia e que os parlamentares
do governo estão em busca de
consenso. "Quando o consenso
não existir, vamos ao voto", declarou, para ouvir Bolsonaro replicar: "Compra voto!", em uma
referência às acusações de pagamento de "mensalão" em troca de
apoio no Congresso.
Bolsonaro voltou à carga e começou a fazer para as galerias o
gesto com as mãos que simboliza
roubo. Em meio a vaias dos petistas e protestos de outros parlamentares, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE),
irritado, pedia silêncio e ameaçava mandar a segurança esvaziar as
galerias, que estavam lotadas.
Ataque a FHC
Alberto Goldman (SP), líder do
PSDB, contestou os ataques ao
governo anterior e lembrou a Dirceu que agora ele é um deputado
igual aos outros. O ex-ministro
voltou a falar no mesmo tom,
com ataques à gestão FHC e aos
governos estaduais do PSDB.
"Alberto Goldman fala como se
não fosse verdade que acabamos
com cinco programas eleitoreiros
em cinco ministérios, com cinco
cartões e substituímos por um
programa que levamos para 8,5
milhões de famílias."
Ao final, Dirceu disse que havia
prometido não fazer um discurso
que provocasse embate político
-tentação à qual não resistiu- e
pediu desculpas a Goldman por
eventuais "excessos". Concluiu
afirmando que é de esquerda e foi
saudado das galerias com o bordão: "O Zé Dirceu é meu amigo,
mexeu com ele, mexeu comigo".
Nesse ponto, começou o tumulto. Bolsonaro e Onyx Lorenzoni
(PFL-RS) repetiam os gestos das
mãos que simbolizam roubo,
acompanhados do ex-petista e radical de esquerda Babá. O deputado Alberto Fraga (sem partido-DF) mostrava notas de dinheiro,
enquanto os petistas das galerias
gritavam "fascista, fascista".
Em segundos, deputados estavam se agredindo. Os deputados
radicais de esquerda Luciana
Genro (PSOL-RS) e Babá (PSOL-PA), expulsos do PT, e os de direita Bolsonaro e Fraga formaram
uma frente contra os petistas.
Carlito Merss (PT-SC) diz ter levado um soco do ex-aliado João
Fontes (PDT-SE), que nega. Testemunhas viram a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC) estourar um saco que Bolsonaro levava com as inscrições "mensalão
do Lullão", com as duas letras "L"
em verde e amarelo, símbolo do
ex-presidente Fernando Collor de
Melo (1990-1992).
Merss e Almeida afirmaram que
vão processar Bolsonaro e João
Fontes na Corregedoria da Câmara por quebra de decoro parlamentar. Uma pessoa foi presa por
ter se recusado a sair das galerias
quando Severino determinou a
evacuação do local.
Colaborou RANIER BRAGON,
da Sucursal de Brasília
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