São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/GOVERNO

Em encontro com movimentos sociais, presidente afirma que juros preocupam e diz que partido não pode entregar crise "de bandeja" para a oposição

Lula vai chamar PT para evitar "tiro no pé"

EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em encontro ontem à noite com representantes de movimentos sociais e sindicais no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que vai convocar a cúpula petista para uma conversa a fim de evitar que seu partido e o governo dêem "um tiro no pé" diante das atuais denúncias de corrupção contra eles.
Na conversa, Lula agradeceu a amizade dos "companheiros", defendeu o ministro Antonio Palocci (Fazenda), rotulou de "preocupantes" as altas dos juros e mais uma vez falou em "cortar na própria carne" eventuais casos de corrupção no governo.
"Vou chamar o partido [PT] para conversar. Neste momento não podemos dar um tiro no pé e entregar [a crise] de bandeja para eles [oposição]", disse o presidente, segundo relato à Folha de participantes da audiência.
O encontro, que durou duas horas e meia, ocorreu um dia depois de os mesmos movimentos e entidades terem divulgado um texto no qual criticam as "elites" por, segundo eles, usar as recentes denúncias de corrupção para desestabilizar Lula e o governo.
Lula os recebeu no chamado salão oval do Planalto, usado também para reuniões ministeriais. Cada representante de um movimento estendeu sua bandeira sobre as mesas. Ao lado esquerdo de Lula, sentou-se o coordenador do MST, João Pedro Stedile.
Os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Jaques Wagner (Conselhão) também participaram do encontro, ao lado de representantes, entre outros, da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da UNE (União Nacional dos Estudantes).
A recepção ocorreu no momento em que o governo Lula enfrenta sua pior crise política. Há denúncias de corrupção contra diferentes esferas da administração, além da acusação feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que o PT pagava mesada a parlamentares da base aliada.
No início da audiência, por volta das 19h30, Lula recebeu a benção de duas mães-de-santo, Railda e Edelzita, e ensaiou umas batucadas num atabaque entregue a ele pela sambista Leci Brandão.
Em seguida, Lula agradeceu o apoio dos "companheiros", que minimizam as denúncias contra o governo e atacam a oposição por, segundo eles, querer aproveitar a atual turbulência política para se fortalecer para as eleições de 2006.
"Essa é a diferença dos amigos e dos companheiros como vocês em relação os que apareçam no meu caminho nos últimos anos. É bom contar com vocês nessa hora", teria dito, segundo os presentes à reunião.
Os líderes de movimentos e entidades, porém, pressionaram o presidente por mudanças na política econômica do governo. Segundo eles, o atual modelo segue um "corte neoliberal" como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Sobre isso, o presidente propôs um encontro dos "companheiros" com o ministro Palocci. "Isso [política econômica] não é algo que se discuta em meia hora", declarou o presidente aos presentes. A seguir, porém, chamou de preocupante as atuais taxas de juros mantidas pelo Banco Central, em 19,75% ao ano. "Reconheço que as taxas de juros são preocupantes", teria dito.
Lula ainda afirmou que não irá extinguir as secretarias de Direitos Humanos, de Políticas para as Mulheres e de Igualdade Racial.


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