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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/GOVERNO
Em encontro com movimentos sociais, presidente afirma que juros preocupam e diz que partido não pode entregar crise "de bandeja" para a oposição
Lula vai chamar PT para evitar "tiro no pé"
EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em encontro ontem à noite com
representantes de movimentos
sociais e sindicais no Palácio do
Planalto, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva afirmou que vai convocar a cúpula petista para uma
conversa a fim de evitar que seu
partido e o governo dêem "um tiro no pé" diante das atuais denúncias de corrupção contra eles.
Na conversa, Lula agradeceu a
amizade dos "companheiros",
defendeu o ministro Antonio Palocci (Fazenda), rotulou de "preocupantes" as altas dos juros e mais
uma vez falou em "cortar na própria carne" eventuais casos de
corrupção no governo.
"Vou chamar o partido [PT] para conversar. Neste momento não
podemos dar um tiro no pé e entregar [a crise] de bandeja para
eles [oposição]", disse o presidente, segundo relato à Folha de participantes da audiência.
O encontro, que durou duas horas e meia, ocorreu um dia depois
de os mesmos movimentos e entidades terem divulgado um texto
no qual criticam as "elites" por,
segundo eles, usar as recentes denúncias de corrupção para desestabilizar Lula e o governo.
Lula os recebeu no chamado salão oval do Planalto, usado também para reuniões ministeriais.
Cada representante de um movimento estendeu sua bandeira sobre as mesas. Ao lado esquerdo de
Lula, sentou-se o coordenador do
MST, João Pedro Stedile.
Os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Jaques Wagner (Conselhão) também participaram do encontro,
ao lado de representantes, entre
outros, da CUT (Central Única
dos Trabalhadores) e da UNE
(União Nacional dos Estudantes).
A recepção ocorreu no momento em que o governo Lula enfrenta
sua pior crise política. Há denúncias de corrupção contra diferentes esferas da administração, além
da acusação feita pelo deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ) de
que o PT pagava mesada a parlamentares da base aliada.
No início da audiência, por volta das 19h30, Lula recebeu a benção de duas mães-de-santo, Railda e Edelzita, e ensaiou umas batucadas num atabaque entregue a
ele pela sambista Leci Brandão.
Em seguida, Lula agradeceu o
apoio dos "companheiros", que
minimizam as denúncias contra o
governo e atacam a oposição por,
segundo eles, querer aproveitar a
atual turbulência política para se
fortalecer para as eleições de 2006.
"Essa é a diferença dos amigos e
dos companheiros como vocês
em relação os que apareçam no
meu caminho nos últimos anos. É
bom contar com vocês nessa hora", teria dito, segundo os presentes à reunião.
Os líderes de movimentos e entidades, porém, pressionaram o
presidente por mudanças na política econômica do governo. Segundo eles, o atual modelo segue
um "corte neoliberal" como o do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Sobre isso, o presidente propôs
um encontro dos "companheiros" com o ministro Palocci. "Isso
[política econômica] não é algo
que se discuta em meia hora", declarou o presidente aos presentes.
A seguir, porém, chamou de
preocupante as atuais taxas de juros mantidas pelo Banco Central,
em 19,75% ao ano. "Reconheço
que as taxas de juros são preocupantes", teria dito.
Lula ainda afirmou que não irá
extinguir as secretarias de Direitos Humanos, de Políticas para as
Mulheres e de Igualdade Racial.
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