São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Atentado

Reprodução
Na Globo, as imagens da agressão ao jornalista Lúcio Sturm

- Falsidade, não.
A frase, truncada, surgiu em meio ao ataque, assim noticiado no "Jornal da Globo", madrugada de ontem:
- Às dez da noite, o repórter Lúcio Sturm, o cinegrafista Gilmário Batista e o técnico Marçal Araújo foram agredidos por desconhecidos quando gravavam reportagem na frente da sede do PT, no centro.
Eram "desconhecidos", mas nem tanto. Ontem no "SPTV", mais cenas e detalhes:
- O ataque começou junto ao carro da TV Globo. Um dos três homens atacou usando o tripé da câmera. Ao fugir, os agressores ainda atiraram pedras.
E mais:
- Um dos agressores usava adesivo com a inscrição "chapa 2". A polícia investiga se pertence a uma chapa que disputa o sindicato dos bancários, que fica próximo ao local.
No "Jornal Nacional", depois, Fátima Bernardes encerrou o breve relato dizendo:
- O técnico Marçal Araújo sofreu fratura no maxilar e será submetido a cirurgia. O presidente do PT, José Genoino, manifestou solidariedade e qualificou a agressão como atentado à liberdade de imprensa.
 
Foi depois de semanas em que petistas diversos, em listas de discussão, "spams" de e-mail e outras fontes, espalharam a teoria do complô de mídia contra a democracia e o PT.
Complô que era questionado por comentaristas da Globo, já no "Bom Dia Brasil":
- De toda a reação do governo diante da crise, a pior é alimentar a idéia de que há uma conspiração em marcha.
E alimentar a violência.
 
Após apresentar Dilma Rousseff como "camarada em armas" e de espalhar o complô por semanas e novamente na sua despedida como ministro, o deputado José Dirceu levou suas armas à Câmara.
Antes, à tarde, anunciou por todo lado, nos sites e rádios, que faria um discurso contido, até "light". Mas a violência o seguiu e, após ser transmitida pelos canais de notícias, foi parar na escalada dos telejornais.
Do "Jornal da Band":
- Vaias, aplausos e agressões na volta de José Dirceu.
E da Folha Online:
- Confusão marca retorno.
 
Dos três blogueiros com "live blogging", que se concentraram ontem no discurso:
- Jair Bolsonaro grita terrorista e Severino pede respeito... Galeria chama Bolsonaro de fascista. Galerias são evacuadas... Fechou o tempo. Empurrões, berros, ofensas... A Câmara patrocina um espetáculo deprimente. Virou campo de guerra. E ainda tem deputado rindo... Chega, eu estou mais do que satisfeito por hoje.
 
Escalada do "JN" ontem, sem a agressão aos jornalistas, mas com todo o resto:
- O homem que provocou a maior crise do governo Lula depõe na CPI. Maurício Marinho pede proteção policial e põe sob suspeita uma lista de contratos. A deputado Raquel Teixeira confirma proposta de dinheiro e acusa Sandro Mabel de ter feito a proposta. O deputado nega. Depois de confirmar que dinheiro do "mensalão" saiu da empresa de Marcos Valério, a ex-secretária também pede proteção à Polícia Federal.
E por aí foi a escalada, com mais duas novas CPIs, inclusive sobre Waldomiro, o tumulto na volta de Dirceu etc.
 
Emir Sader, no site Carta Maior, próximo do governo, prosseguia com a teoria do complô, falando do "golpismo cotidiano" dos mercados "que está por trás da ação da oposição, do clima de ingovernabilidade, com acusações que a mídia monopolista multiplica".
Já Ricardo Kotscho, amigo de Lula, no Nomínimo:
- Na sexta, em busca de respostas e de amigos, criei ânimo para ir ao ato em defesa do PT... Zé Dirceu, como de costume, levantou a platéia com discurso inflamado, convocando à guerra em defesa da história do PT. Notei, porém, que estávamos mais velhos e faltavam jovens... A enxurrada de denúncias bateu fundo na alma.

EM WALL STREET

wsj.com/Reprodução

O correspondente Larry Rohter, em registro sobre a nomeação de Dilma Rousseff como chefe da Casa Civil, ontem no "New York Times", seguiu Gilberto Gil e qualificou a ministra de "Dama de Ferro", no título, e de "Joana D'Arc da Guerrilha Urbana" e "O Bulldog".
 
O "Wall Street Journal", de sua parte, tratou de destacar outra face da troca de José Dirceu por Dilma. No enunciado, à pág. A9, "Acusações de suborno rasgam o Brasil, ajudando o ministro da Fazenda".
Na abertura da reportagem, enviada do Rio e que foi editada com imagem do ministro (reproduzida acima), "Enquanto um escândalo enfraquece o governo do presidente do Brasil, Lula da Silva, um homem emerge fortalecido pela confusão: Antônio Palocci".

@ - nelsondesa@folhasp.com.br



Texto Anterior: Câmara: Reforma política é aprovada por comissão
Próximo Texto: Panorâmica - Caso Dorothy: EUA indiciam Fogoió e Eduardo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.