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PREFEITURA DE SP
Empresas não tinham funcionários suficientes para realizar todos os serviços pelos quais foram remuneradas
Pitta pagou R$ 147 mi por varrição ilegal
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito de São Paulo, Celso
Pitta (PTN), pagou, entre janeiro
de 1997 e junho de 1999, R$
147.198.510 pela varrição das calçadas da cidade, sem que as empresas responsáveis tivessem funcionários suficientes para o serviço, que pode não ter sido feito. A
contratação foi ilegal, segundo
advogados ouvidos pela Folha.
Os contratos de limpeza pública
de São Paulo foram assinados em
abril de 1995, na gestão do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB). As empresas foram contratadas, por
meio de concorrência pública, só
para varrer as sarjetas da cidade.
Em dezembro de 1995, foi feito
um aditamento aos contratos, no
qual a prefeitura insere mais três
novos serviços: varrição de feiras,
de calçadas e de calçadões.
Com o aditamento, o faturamento das empresas com a varrição dobrou. Em 1997, por exemplo, elas receberam R$ 63,642 milhões pela varrição de sarjetas,
prevista pelo contrato original.
Mas elas também faturaram mais
R$ 65,670 milhões pelos outros
serviços criados pelo aditamento.
A lei municipal nº 10.315, de 30
de abril de 1987, não permite à
prefeitura realizar a varrição de
calçadas, que é de atribuição exclusiva dos responsáveis pelos
imóveis. A prefeitura deve aplicar
multas em quem não limpar a calçada. Isso poderia gerar aumento
de arrecadação, em vez de despesa com o pagamento dos serviços.
Além disso, o aditamento insere
nos contratos novos serviços que
não estavam previstos no edital
da licitação. Os novos serviços ultrapassam o valor dos contratos.
Essas são algumas das razões
apontadas por três advogados ouvidos pela Folha, para considerar
os aditamentos ilegais. São eles:
Dalmo de Abreu Dallari, professor da USP, Lúcia Valle Figueiredo, professora da PUC/SP, e Ives
Gandra Martins, professor-emérito da Universidade Mackenzie.
Em junho de 1999, depois de ter
pago R$ 147,198 milhões às empresas por 30 meses de varrição
de calçadas, Pitta acabou com esse tipo de serviço.
De acordo com o geólogo Antonio Fernando Gimenez, diretor
do Limpurb (Departamento de
Limpeza Urbana, órgão da prefeitura responsável pelo gerenciamento do lixo na cidade), a varrição das calçadas da cidade foi paralisada "por falta de fundamentação legal".
Falta de garis
Ainda que o aditamento fosse
legal, as empresas não teriam funcionários suficientes para realizar
a varrição de calçadas, que foi paga pela prefeitura e consumiu R$
147,198 milhões do erário.
Apenas para realizar a varrição
de sarjetas são necessários 4.367
garis. De acordo com o Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza
Urbana no Estado de São Paulo),
havia, em 1998, entre 4.000 e 4.500
garis empregados na varrição.
As empresas, porém, também
receberam para varrer as calçadas
de 134.478 quilômetros de ruas,
por mês, em média, no mesmo
período. Seriam necessários mais
3.551 garis para realizar esse serviço.
A soma das extensões médias
mensais de sarjetas e de calçadas
pagas pela prefeitura para as empresas limparem resulta em 300
mil quilômetros de ruas por mês.
A distância é suficiente para percorrer 7,5 vezes o globo terrestre.
Além de varrer as sarjetas e as
calçadas, para cumprir os contratos, as empresas ainda precisariam ter garis para varrer 53,679
milhões de metros quadrados de
calçadões, em média, por mês. O
serviço consumiria o trabalho de
cerca de 2.835 pessoas.
As empresas não realizaram
grande número de contratações
quando o aditamento da varrição
de calçadas foi assinado, em dezembro de 1995. O número de
varredores de ruas se manteve estável na vigência do aditamento.
O secretário-geral do Siemaco,
Gilmar Argenta, afirma que não
há garis suficientes para realizar
todos os serviços estabelecidos
pelas empresas (leia entrevista na
pág. 1-13). Ele não soube informar
o número atual de varredores de
ruas contratados em São Paulo.
O diretor-executivo do Selur,
Ariovaldo Caodaglio, afirma que
as empresas demitiram cerca de
1.300 funcionários após o encerramento dos serviços de varrição
de calçadas. Ele não soube dizer o
número de garis que trabalham
na varrição das ruas da cidade.
Os contratos de varrição foram
assinados em 95 com sete empresas: Pavter Serviços Ambientais
Ltda, CBPO, Construtora OAS
Ltda., Vega Sopave S.A., Cavo,
Construtora Norberto Odebrecht
S.A. e Enterpa Engenharia Ltda.
Em 1996, a CBPO e a Pavter fizeram doações à campanha de Pitta
à prefeitura -R$ 510 mil e R$ 300
mil, respectivamente. A Enterpa
foi acusada de fazer doações ilegais para a campanha de Paulo
Maluf, em 1990. Hoje os serviços
são prestados por quatro empresas: Vega Ambiental, Enterpa
Ambiental, Cliba e Marquise.
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