São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO
Governador vai a projeto agrícola da Igreja Universal

Garotinho visita 3 Estados em 48 h

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Nem os flagrantes de pagamentos de propina a policiais militares do Rio, divulgados ao longo da semana, nem as denúncias sobre seu suposto envolvimento em fraudes em sorteios de prêmios, em 1995, fizeram o governador do Rio, Anthony Garotinho, arrefecer o ritmo de sua campanha rumo à eleição presidencial.
Em menos de 48 horas, neste final de semana, fez discursos em Teresina (Piauí), Irecê e Juazeiro (Bahia) e ainda encontrou tempo para visitar instalações da Embrapa, na cidade pernambucana de Petrolina, na divisa com a Bahia. Foram mais de 5.000 km de viagem, percorridos em jato fretado.
Pastores e bispos de várias denominações religiosas recepcionaram o governador na viagem. Em Irecê, ele foi recebido pela maior estrela da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil, o bispo Marcelo Crivella -sobrinho de Edir Macedo, o fundador da igreja, que hoje vive nos EUA.
O governador iniciou a viagem por Teresina. Chegou à cidade na sexta-feira à tarde, a propósito de participar de eventos evangélicos, e se submeteu a uma verdadeira maratona. Garotinho discursou no 1º Fórum de Combate à Violência sob a Perspectiva Evangélica, realizado no Centro de Convenções de Teresina; foi condecorado com medalha pelo governo do Estado; falou para 300 pastores da Assembléia de Deus na convenção regional da igreja e fechou a noite com um show gospel.
O deputado estadual Elias Pereira Lopes, o Irmão Elias, líder do PTB na Assembléia Legislativa do Piauí, disse que os evangélicos não acreditam nas acusações contra a Garotinho e as atribuem à determinação do governador de concorrer à Presidência.
""Os vitupérios não vão parar por aí. Coisa grossa ainda virá. Os evangélicos estão preparados e de sobreaviso. Sabem que isso acontece por conta da projeção dele. Árvore que não produz frutos não recebe pedradas", disse. Elias disse que vai percorrer o Piauí fazendo campanha para Garotinho.
O governador chegou no sábado de manhã a Irecê, no sertão baiano, acompanhado pelo bispo Marcelo Crivella, pela ex-prefeita de Salvador Lídice da Mata e por deputados estaduais evangélicos e da bancada do PSB.

Igreja Universal
A visita teve duplo propósito: inaugurar a nova sede do PSB no município e visitar a Fundação Nova Canaã, uma vila agrícola com 300 hectares irrigados que a Universal do Reino de Deus construiu na região, inspirada nos kibutzim israelenses. O prefeito de Irecê, Beto Lélis (PSB), que é membro da Igreja Batista, disse que a prefeitura não gastou ""um centavo sequer" com a visita. O almoço da comitiva, segundo ele, foi oferecido pelo bispo Crivella.
O prefeito, assim como os pastores, minimiza as acusações contra Garotinho: "Estão tentando atingi-lo com um episódio de seis anos atrás", respondeu, ao ser questionado sobre o suposto envolvimento do governador do Rio com fraudes em sorteios.
Garotinho chegou a Juazeiro no sábado à tarde. O pretexto da viagem foi a comemoração dos 123 anos da cidade com um evento evangélico no estádio Adauto Moraes. Segundo o pastor batista José Kenaity, que recepcionou o governador, várias igrejas participaram do evento. A presença de Garotinho foi precedida por anúncios nas emissoras de televisão de Juazeiro e de Petrolina. Foram organizadas também caravanas para levar fiéis para o estádio.
Kenaity disse que os gastos com o evento devem chegar a R$ 5.000 e serão pagos pelos pastores locais. Segundo ele, Garotinho voltou para o Rio às 22h de sábado para poder participar do culto com a família no domingo.
A última pesquisa nacional do Datafolha indicou que Garotinho, que tinha 11% das intenções de voto no país em um dos cenários (situação A), alcançava o dobro dessa média (22%) entre os evangélicos pentecostais. Desde novembro de 1999, Garotinho vem fazendo viagens religiosas para se tornar conhecido nacionalmente.
Segundo a chefe de gabinete do governador, Ana Paula Costa, as viagens de cunho religioso são pagas pela Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno, enquanto as de cunho partidário seriam pagas pelo PSB.


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