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ROMBO TRANSAMAZÔNICO
Parecer desaconselha acordo com ONGs ligadas a ex-ministro, assinado na véspera da extinção
Sudene fez convênio considerado irregular
ERILENE ARAÚJO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
No momento em que o presidente Fernando Henrique Cardoso assinava a medida provisória
2.145, extinguindo a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), a equipe técnica da Diretoria de Desenvolvimento Social do órgão corria para
apressar a assinatura de três convênios considerados irregulares
pela procuradoria da autarquia.
Era 2 de abril deste ano. Os contratos previam liberação de R$ 1,4
milhão do Projeto Alvorada para
cidades com baixo IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano).
Os convênios foram assinados
pelo superintendente Wagner
Bittencourt. Beneficiaram ONGs
ligadas ao então ministro da Integração Nacional, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), na época
chefe de Bittencourt, e duas entidades que prestam serviço para o
Comunidade Solidária.
Por intermédio da diretora de
Desenvolvimento Social da Sudene, Eleonora Barreto, a ACT (Associação Comunitária de Desenvolvimento do Trairy) recebeu R$
725 mil para monitorar a implantação de rádios comunitárias e
treinar mão-de-obra em 36 cidades do Nordeste. Eleonora hoje é
gerente de projetos da Secretaria
Especial que substitui a Sudene.
A entidade funciona no município de Santa Cruz (115 km de Natal, na região do Borborema Potiguar), cidade natal do ex-ministro
-que caiu devido à revelação de
que uma empresa ligada a ele se
envolveu em financiamentos suspeitos da Sudene.
A ONG paulista AAPCS (Associação de Apoio ao Programa de
Capacitação Solidária), que treina
pessoal para atuar no Comunidade Solidária, recebeu R$ 450 mil.
Outros R$ 251,5 mil foram disponibilizados para o Cieds (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento),
ONG carioca que também trabalha para o programa federal.
Razões dos pareceres
No parecer técnico, a Procuradoria da Sudene informou que
não recomendava o convênio
com a ACT, pois "a instalação de
rádios comunitárias fere a Constituição Federal e o Código Brasileiro de Telecomunicações. Elas somente poderão ser instaladas
com autorização dos Estados".
Essas autorizações não foram
anexadas ao projeto.
Sobre as entidades de São Paulo
e do Rio, os pareceres dizem que a
Sudene só poderia "despender recursos com serviços de consultoria após comprovar que em toda a
administração federal não há servidor ou empregado capazes de
fazer tais atividades".
A Lei de Licitações exige que
convênios que envolvem recursos
públicos tenham parecer do corpo jurídico do órgão envolvido.
Verbas
No período em que ficou à frente do ministério (de 19 de julho de
1999 a 15 de maio de 2001), o senador Fernando Bezerra viu a Sudene depositar R$ 1,981 milhão para
duas ONGs de sua cidade natal,
cujo patrono é o deputado federal
Iberê Ferreira (PTB-RN), afilhado
político do senador.
Bezerra diz que a Sudene tinha
autonomia para firmar contratos,
e os convênios têm aval do governo estadual.
Outros R$ 715 mil chegaram aos
cofres da Secretaria de Ação Social potiguar no período em que o
irmão do senador, Lauro Bezerra,
respondia pela pasta.
Até o momento, esse dinheiro
não foi aplicado, pois as tarefas
previstas nos convênios não são
atribuição da secretaria, segundo
informações do próprio governo
estadual. Pelo convênio, a secretaria do Rio Grande do Norte deveria executar projetos de infra-estrutura hídrica no Estado e ainda
levar água para escolas do Piauí.
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