São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2000


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PÚBLICO X PRIVADO
Segundo ex-ministra, ex-assessor também se empenhava na indicação de dirigentes para fundos de pensão
EJ foi contra Previ profissional, diz Costin

Alan Marques - 29.out.98/Folha Imagem
A ex-ministra da Administração Cláudia Costin, que está nos EUA



WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-secretário Eduardo Jorge Caldas Pereira trabalhou nos bastidores para impedir que fossem recrutados dirigentes profissionais para a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil -o maior do país. A afirmação é da ex-ministra da Administração Cláudia Costin.
A proposta de escolha de executivos para comandar o fundo de pensão foi feita pela própria Previ, declara a ex-ministra. A intenção era dar mais segurança ao dinheiro investido pelos associados. Novas regras de recrutamento acabariam com as indicações políticas, o que EJ não queria, disse ela.
De Washington, onde trabalha como consultora do Banco Mundial, Costin relatou à Folha, por telefone, episódio ocorrido um mês antes da posse do presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda em dezembro de 1994.
"Ele (EJ) me ligou, sim, para falar sobre o estatuto da Previ. Falou para segurar até o Fernando Henrique assumir", contou a ex-ministra, acrescentando que não atendeu ao pedido. Na ocasião, Costin era secretária-adjunta de Previdência Complementar.
"A sorte dele é que a coisa tinha uma tramitação (lenta) que levou mais um mês e acabou o governo (Itamar Franco)", disse. Com EJ já no Planalto, a posição do fundo mudou. No ano seguinte, "a própria Previ pediu para tirar" a proposta, relatou Costin.
Segundo ela, EJ também se empenhava na indicação de dirigentes para os fundos. "Eu sei que houve um certo empenho do Eduardo Jorge para indicar nomes, mas eu não tive uma relação direta com ele ligada a isso", explicou a ex-ministra, que deixou o Ministério da Previdência e passou à pasta da Administração no governo FHC.
A relação de EJ com os fundos é um dos pontos centrais das investigações do Ministério Público. No Senado, o ex-assessor de FHC disse serem "uma completa fantasia" as informações de que ele controlava os fundos de pensão de empresas estatais.
Na semana passada, a afirmação foi contrariada por depoimento do ex-presidente da Previ Jair Bilachi. Aos procuradores, Bilachi disse que, "se algum político pedisse alguma coisa, Eduardo Jorge queria ficar sabendo".
A pedido dele, Bilachi comentava "alguns pleitos que políticos pediam visando o interesse de algumas empresas", de acordo com o depoimento ao Ministério Público. Segundo o ex-dirigente, EJ sugeria a ele que recebesse políticos e empresários na Previ.
Nos últimos cinco anos e meio, a proposta de profissionalização dos dirigentes de fundos de pensão rondou vários gabinetes do governo em Brasília. A idéia vingou para as fundações de empresas privadas. Mas não deu certo para os fundos de estatais. "A discussão que parou foi só para as estatais", confirmou Costin.
Segundo José Valdir Ribeiro dos Reis, presidente da Previ em 1994, a direção do fundo de pensão discutia com o governo uma mudança no estatuto para que os funcionários do BB tivessem mais poderes. Mas a proposta, disse Reis, não foi adiante.
Sobre a profissionalização dos dirigentes da Previ, Reis disse não se lembrar dessa discussão com o Ministério da Previdência.
Procurado pela Folha, Eduardo Jorge não quis comentar o assunto. Em carta à Folha, na semana passada, o advogado dele, José Gerardo Grossi, disse que seu cliente manteve com a Previ "relações institucionais, regulares, próprias do cargo que ocupava".


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