São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2004

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TODA MÍDIA

Mancha de sangue

NELSON DE SÁ

Prosseguiam ontem, pelo quarto dia seguido, tanto as mortes como a disputa eleitoral em torno dos assassinatos de mendigos.
De um lado, o site de Marta Suplicy destacava que a prefeita-candidata, além de participar de um ato ecumênico, decretou "luto oficial".
De sua parte, o governador Geraldo Alckmin dizia no site da Agência Estado que "a questão policial está bem encaminhada. Agora, o que deveria ser feito é tirar as milhares de pessoas que dormem nas ruas".
Secretários de ambos também saíram falando, sempre uns contra os outros.
Ao fundo distinguiam-se a vergonha e a responsabilidade, não de petistas ou tucanos, mas de São Paulo e do país.
Em meio a críticas à falta de proteção da polícia, o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, dizia na Globo:
- Esse crime manchou nossa cidade. A nossa cidade está suja de sangue.
A Reuters e outras agências distribuíram despachos, que ocuparam jornais e sites no fim de semana, comparando o caso com o massacre da Candelária e amontoando dados:
- Cerca de 45 mil brasileiros são assassinados a cada ano, um a cada 12 minutos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Muitas das vítimas são pobres das favelas do Rio e de São Paulo. A Anistia Internacional diz que esquadrões da morte operam em muitos Estados, praticando "limpeza social".
E por aí vai, pelo mundo.

LULA, BUSH E O FUTEBOL

georgewbush.com
Comercial de Bush explora presença do Iraque nos Jogos


A "Economist" desta semana destaca "o exemplo da diplomacia do futebol" de Lula que ocorreu no Haiti, com "todas as estrelas, inclusive Ronaldo". Apesar dos 6 a 0, os haitianos "fizeram festa até muito depois de terem ido embora as estrelas sul-americanas".
Nos EUA, é George W. Bush quem apela à "diplomacia do futebol", também lá um golpe de marketing eleitoral. Segundo o site Drudge Report, está sendo "planejada uma viagem aos Jogos Olímpicos" e o presidente "pode assistir ao jogo de futebol do Iraque". A rede NBC ouviu a Casa Branca, que negou qualquer plano.
Bush pode não ir, mas já trata de usar a participação do Iraque num comercial de campanha que afirma, diante da bandeira do país, que nesta Olimpíada há mais uma democracia -e um regime terrorista a menos. Ouvido pela revista "Sports Illustrated", o meia Salih Sadir disse que o time não quer ser usado por Bush na campanha:
- Ele pode achar um outro jeito de fazer propaganda.

Compañero
Lula deu entrevista, afinal, mas foi ao chileno "La Tercera" e por e-mail. Medindo suas palavras, na edição de ontem, falou das "relações com os EUA":
- Tenho me esforçado por manter um diálogo produtivo e respeitoso com o presidente Bush, porque nós entendemos que esse país é um companheiro indispensável para o Brasil e a América do Sul. Reconheço que Bush reconhece o Brasil como um fator de estabilidade e de equilíbrio na região.

Evolução
Lula, no "La Tercera":
- O PT nunca se congelou no tempo. Sabemos evoluir.

Bem-vindo
No mesmo jornal, o peruano Alvaro Vargas Llosa, que é filho do escritor e um colunista de centro-direita que escreve dos EUA, comentou:
- O Lula que visita o Chile é um homem renascido. Hoje, a economia recuperou ímpeto, Lula moderou o voluntarismo no exterior sem renunciar à sua estratégia global e começou a obter alguns resultados.
E encerrou, depois de uma ou outra ressalva:
- Bem-vindo, Lula.

Até as PPPs
A semana foi de boa vontade com Lula também no "Financial Times". Reportagem na sexta destacou que, após 20 meses, "ele comemora a recuperação econômica que seus críticos não acreditavam possível".
O jornal chegou a afirmar que "os empresários estão querendo investir", mas que "a legislação de Parcerias Público-Privadas, em projetos de infra-estrutura, está parada no Congresso há quase um ano".

Confiança
Um dia antes, o "FT" destacou que "as empresas de petróleo deram um voto de confiança à indústria do Brasil" ao comprar licenças e "prometer bilhões de dólares em investimentos".

Saúde
Mas Lula, internamente, não faz questão do voto da Shell -cujos elogios abertos foram citados no "FT". Quer os votos dos eleitores e vai fazer o que for preciso. Até dar "gotinha", no Jornal Nacional.
A começar de um discurso em rede nacional do ministro da Saúde, na sexta, a campanha de vacinação, como quase tudo mais, ganhou ares de um outro tipo de campanha.


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