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JANIO DE FREITAS
Os dias do
trabalhador
Os mais otimistas, entre os
observadores da política,
acham que as avaliações pessoais, colhidas pelo Datafolha,
não podem ter deixado de doer
no presidente. Sobretudo a reversão progressiva entre os que
o consideraram pessoa inteligente. Talvez, ainda, o conceito
de pessoa falsa, que lhe é conferido por 62% do povo, opinião
que não precisaria nem de 1%
para infelicitar um ser direito.
Contrariar os otimistas acarreta muitas antipatias, e mais
ainda se a própria realidade
por fim os contraria. Muito
pior seria contrariar a voz do
povo, que, dizem, é o som de
outra voz. Mas certas injustiças
não se há de deixar que passem
em branco. Pelo menos, não
aqui.
É o caso da convicção de que
o nosso presidente não é de trabalhar, sustentada por 64% da
opinião pública. A pesquisa
ainda era assunto de comentário dentro e fora do governo, e
o presidente oferecia, com um
dos seus dias típicos, uma demonstração cabal da injustiça
sobre seu alheamento, ou
omissão, ou descaso, ou preguiça ou lá o que seja.
Não pôde fazê-lo já na segunda-feira, que esse, em Brasília,
não é propriamente dia útil. Os
ministros, em geral, ainda estão chegando do fim-de-semana fora, que começou na manhã de sexta, se não na quinta-feira. Muitos dos assessores,
idem, e dos parlamentares nem
se fale.
A terça-feira, sim, foi para
valer, um dia de trabalhador.
O presidente assinou a regulamentação da Lei dos Crimes
Ambientais, e para tanto quis
uma solenidade com um improviso seu, no estilo Stanislaw. Compareceu à solenidade
de um suposto seminário no
Itamaraty, onde fez um discurso, porém, por precaução, escrito por um assessor com aquelas
citações que melhoram a imagem cultural de certos oradores
e articulistas. E, ao saber que ia
ser anunciada nova descoberta
de petróleo, o presidente quis
que isso se fizesse, não na Petrobras ou no ministério, mas
em uma solenidade palaciana
com um discurso seu. Uff, enfim estava conquistado o direito ao bate-papo repousante e
costumeiro nas noites do Alvorada.
O que mais se quereria do
presidente de um país em que
nada requer a criação de
idéias, a discussão de problemas e soluções, reuniões técnicas, consultas a sugestões de fora do governo, decisões que a
realidade exija com premência? É preciso ver direitinho o
que é um dia típico do nosso
presidente, ou da maneira como quer exercer a Presidência,
para dizer se ele não é de trabalhar mesmo, por alheamento, ou omissão, ou descaso, ou
preguiça ou lá o que seja.
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