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CELSO PINTO
Os riscos da economia mundial
Washington - O mundo vai
crescer mais, embora seja recomendável um novo aumento dos
juros americanos este ano e, talvez, entre março e maio do próximo ano e o preço das matérias-primas vai subir, o que são duas
boas notícias para o Brasil. Mesmo no melhor cenário, contudo, o
dinheiro vai ficar mais escasso e
mais caro para países emergentes
do que foi durante a primeira
metade dos anos 90.
Essas são algumas das conclusões do relatório "Perspectivas da
Economia Mundial", divulgado
ontem pelo FMI, e das observações do diretor do fundo responsável pela pesquisa, Michael
Mussa. Tudo ponderado, o cenário é mais positivo do que negativo para o Brasil, embora esteja
recheado de advertências sobre o
que pode dar errado.
A previsão é que a economia
mundial suba de 2,5% em 98 para 3% este ano (0,75% a mais do
que o previsto em maio) e 3,5%
no próximo. Supõe que a economia americana desaqueça de
3,9% em 98 para 3,7% neste ano
e 2,6% em 2000. Seria compensado por um aumento da Europa
de 2,1% este ano para 2,8% no
próximo e uma expansão do Japão de 1% este ano e 1,5% no próximo. No caso do Japão, a previsão é 2,4% melhor para este ano e
1,2% para o próximo, se comparadas com as previsões de maio.
Quais são os riscos? Como o desaquecimento americano é desejável e inevitável, se não vier de
forma natural, terá que ser induzido por aumento de juros, segundo Mussa. Ele gostaria de ver
um aumento este ano (nada dramático) e uma reavaliação, de
março a maio do próximo ano,
para, se for o caso, aumentar outra vez.
São quatro os riscos nos Estados
Unidos: haver pressão inflacionária, uma queda forte e brusca do
dólar, um colapso na Bolsa e o
uso do superávit fiscal para aumentar o consumo. Mussa é a favor de intervenções para evitar
uma valorização adicional do iene japonês em relação ao dólar
(que poderia prejudicar a recuperação japonesa), mas diz que só
funcionarão se vierem acompanhadas por políticas de juros coerentes.
Os riscos de a recuperação européia ser abortada são relativamente menores. O FMI prevê,
também, uma forte recuperação
na Ásia e menor risco de desvalorização na China. Uma boa notícia para as exportações brasileiras é a previsão de que os preços
das commodities, exceto petróleo,
que caíram 14,8% em 98 e devem
cair 7,2% este ano, podem aumentar em 3,4% no próximo.
O panorama para a América
Latina é melhor do que se supunha, mas ainda frágil. O crescimento ficaria em 0,1% este ano e
3,9% no próximo. O Brasil está
indo melhor do que o FMI esperava, Mussa acha que há espaço
para os juros caírem para 10% ou
menos e diz que o resultado fiscal
será melhor do que prometido ao
fundo.
A situação para a Argentina,
Colômbia, Venezuela e Equador,
contudo, é de uma recessão
maior do que se imaginava e cujo
fundo do poço ainda não está visível. Mussa espera que seja o final deste ano. O México, ao contrário, passou quase incólume pela crise, graças às exportações para os EUA.
Está claro, contudo, que, mesmo no melhor cenário, os fluxos
de capitais para os países emergentes, que no início dos anos 90
foram os maiores desde a Segunda Guerra Mundial, não devem
voltar a esses níveis. O fluxo líquido, que ficou numa média de US$
160,8 bilhões de 91 a 96, caiu para
US$ 67,2 bilhões em 98/99, 41%
do que foram e um terço do recorde de US$ 213,8 bilhões em 96.
O FMI admite que o exagero no
fluxo, em parte ajudado pelos
câmbios controlados e pelo menor crescimento no Japão e na
Europa, criou instabilidades nesses países. Hoje, com a recuperação do Japão e da Europa, uma
forte reavaliação do risco depois
das crises do México (94), Ásia
(97) e Rússia (98), e a adoção generalizada de câmbios flutuantes, o fluxo de capitais para os
emergentes deve ser bem mais
moderado.
A rapidez na recuperação dos
países asiáticos, na avaliação do
FMI, se deve aos melhores fundamentos econômicos e resultados
mais expressivos no ajuste das
contas externas. Por vir de situações fiscais controladas, esses países puderam gerar déficits fiscais
e juros baixos para ajudar na recuperação. Na maioria dos países
latino-americanos, ao contrário,
tanto o ajuste das contas externas
quanto a situação fiscal não
abrem espaço para políticas contracíclicas mais fortes.
O documento faz uma avaliação crítica desta década. O crescimento médio mundial será de
3%, comparado a 3,5% nos anos
80 e 4,5% nos anos 70. A inflação
despencou, a situação fiscal melhorou, como sempre quis o FMI,
mas a instabilidade cresceu e o
crescimento foi decepcionante. A
liberdade de fluxo de capitais foram "desestabilizadores" para alguns países emergentes.
Outra conclusão polêmica é
que os bancos centrais não devem
se preocupar apenas com a inflação. Quando mercados de ativos,
como as Bolsas, atingem níveis
altos demais, uma correção futura de preços pode ter impacto desestabilizador sobre a economia e
o sistema financeiro. Portanto,
cabe ao BC agir de forma preventiva para evitar isso. O FMI não
diz, mas isso implicaria, eventualmente, aumentar os juros
americanos para desaquecer a
Bolsa.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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