São Paulo, Quinta-feira, 23 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Índice

MISTÉRIO EM ALAGOAS

Augusto Farias pedirá embargo de livro de "vidente" e afirma que não sabe de dinheiro no exterior

"Nada há contra mim", diz irmão de PC

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

O deputado federal Augusto Farias (PPB-AL), irmão de Paulo César Farias, desafia quem quer que seja a comprovar que ele tenha matado PC. "Quero que consigam apenas um indício de prova contra mim", disse por telefone.
Depois de negar as suspeitas de que teria sido o autor da morte ocorrida em 1996 para controlar os negócios da família, o deputado declarou que não sabe de nenhum negócio de PC fora do Brasil. "Se tiver dinheiro fora, será doado para creches do país."
Revelou que vai tentar embargar a venda do livro "72 Horas com PC", que a "vidente" Amira Lépore pretende lançar no próximo dia 7. No livro, Lépore relata diálogos que teria tido com PC e sua namorada, Suzana Marcolino, e que abrem a suposição de o deputado ter matado o próprio irmão por questões financeiras.
Na entrevista, Augusto Farias diz que faz objeções ao desejo de Élia Pereira Bezerra, cunhada de PC , de obter a guarda dos sobrinhos. Élia afirmou à Agência Folha, na segunda-feira, desconfiar que Augusto seja o responsável pelas mortes do cunhado e de sua irmã Elma (vítima de insuficiência cardíaca em 1994), além de estar "roubando" os tutelados.
O deputado disse que abre mão da tutela dos sobrinhos Ingrid, 19, e Paulo, 17, filhos do irmão morto. "A decisão sobre a tutela é deles. Se decidirem pela tia Eônia (promotora que mora com os sobrinhos), concordo. Quanto a Élia, faço objeções", declarou.
Disse que os sobrinhos não passam necessidades financeiras como disse Élia. "Eu diria que não tem dinheiro para nadar nele. Mas não falta dinheiro para a manutenção dos meninos." Leia os principais trechos da entrevista:

Agência Folha - Élia Pereira Bezerra, cunhada de Paulo César Farias, suspeita que o sr. tenha matado seu próprio irmão e a irmã dela (Elma) e que estaria se apropriando da herança deixada para seus sobrinhos, de quem o sr. é tutor.
Augusto Farias
- Paulo e Ingrid escolheram o deputado Augusto Farias para ser o tutor. Foi em um processo na Justiça, por meio do juiz Ivan Brito e com o testemunho da promotora Eônia (irmã de Élia e de Elma Farias). Os meninos que escolhem. Se decidirem que a tutora será a tia Eônia, darei a tutela na maior boa vontade. Se decidirem pela tia Élia, eu teria objeções.

Agência Folha - O sr. foi acusado por Élia de deixar seus sobrinhos em má situação financeira.
Augusto
- É um absurdo dizer que falta dinheiro para comprar sabão, como disse a Élia. Eu diria que não tem dinheiro para nadar nele. Mas não falta dinheiro para a manutenção dos meninos. Orientei-os, por exemplo, para que eles alugassem a casa e fossem morar em um apartamento na beira-mar para reduzir gastos. Foi uma sugestão de tutor.

Agência Folha - Por que o sr. decidiu assumir a tutela?
Augusto
- A decisão foi escolha espontânea dos meninos. Ser tutor só me trouxe problemas. A Élia diz que quando Elma era viva nunca teve bom relacionamento comigo, e a recíproca era verdadeira, o que sempre foi público. Ela não gostava de mim pelo ciúme exagerado que tinha do PC. Mesmo assim, me dava tão bem com PC que chegou ao ponto de ele ter um filho homem e ter colocado o nome de Paulo Augusto César, em minha homenagem. O PC era meu padrinho. E sou padrinho do Paulinho.

Agência Folha - Levantam a suspeita de o sr. ter matado seu próprio irmão.
Augusto
- Se alguma pessoa tiver a mente poluída e imaginar que eu fui capaz de matar meu próprio irmão e padrinho, essa pessoa é capaz de matar sua própria mãe. Quero que consigam apenas um indício de prova contra mim. Se eu dissesse que daria a minha vida pelo PC, poderia parecer demagogia. Mas digo que daria tudo na vida para ter o meu irmão de volta.

Agência Folha - O sr. disputava os negócios de PC com o argentino Jorge La Salvia? Em seu livro, a "vidente" Amira Lépore sugere que ele foi o pivô da briga entre o sr. e seu irmão?
Augusto
- Eu fui um cara que sempre botei a cara para defender meu irmão. Ele ia no carro da polícia, e eu estava ao seu lado. Tive minha vida investigada. Nunca estive envolvido em nenhuma coisa que imaginam. Posso dizer que uma maluca (Amira Lépore), uma macumbeira de quarta categoria, quer aproveitar o sensacionalismo para ganhar dinheiro nas minhas costas. Só a Justiça poderá julgar essa ladra. Vou embargar o livro dela na Justiça para que ela não engane os brasileiros.

Agência Folha - Mas o sr. conhecia La Salvia?
Augusto
- Conhecia. É um argentino que mora no Rio de Janeiro e que tinha negócios com o PC. A Polícia Federal sabe. La Salvia esteve na casa da praia de Guaxuma várias vezes. PC e La Salvia tinham negócios, mas não sei de que tipo.

Agência Folha - Então o dinheiro desses negócios no exterior ficou perdido?
Augusto
- Não sei de negócio fora do país com La Salvia. Não tem nada escrito que diga que há negócios. O que tem do PC é um sonho que a imagem criou. Nunca conheci nem soube de conta do PC fora do país. Seu patrimônio está no Brasil. Se tiver dinheiro fora, será doado para as creches do país.

Agência Folha - A operação "Mãos Limpas" (realizada pela Justiça italiana para apurar a corrupção em instâncias governamentais do país) chegou a pegar três contas do PC na Suíça.
Augusto
- Nunca soube disso.

Agência Folha - Há problemas no espólio de PC?
Augusto
- A família Martinez, cheia de velhacos, está com R$ 3 milhões dos meninos. Estamos executando judicialmente o José Carlos Martinez, o irmão dele, Flávio, e o pai, Oscar. Venderam a CNT (a rede de TV), da qual PC era sócio, e não pagaram os meus sobrinhos. (Martinez admitiu ontem a dívida com a família Farias, mas nega, no entanto, que PC tenha sido seu sócio na CNT. O dinheiro teria sido um empréstimo.)

Agência Folha - O sr. ainda acredita que seu irmão foi vítima de crime passional?
Augusto
- Não mudou nada para mim. Entre as pessoas que estavam e passaram pela casa, há mais de 15 envolvidos. Nunca houve uma contradição em três anos. Não admito que ninguém possa suspeitar de mim.

Agência Folha - Os peritos e legistas dos dois inquéritos afirmam que os seguranças que estavam na casa teriam de ter ouvido os tiros.
Augusto
- Acho que, se os tiros eram audíveis e não foram ouvidos, não é motivo para condenar os seguranças. Poderiam até estar dormindo.

Agência Folha - Há fitas gravadas, em poder da polícia, em que um funcionário do sr. tenta subornar os delegados que investigam a morte de seu irmão para que eles não o indiciem.
Augusto
- Isso foi armação dos delegados. Se usaram meu nome, foi sem a minha autorização. Nunca tentaria o suborno. Até porque não há nada contra mim.


Texto Anterior: Mato Grosso: Juiz acusado de irregularidade por tribunal reassume o cargo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.