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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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Bolsas são "insuficientes", diz Wagner

Felipe Varanda/Folha Imagem
O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, e o presidente do BNDES, Carlos Lessa, durante seminário


CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

No momento em que o governo aposta no projeto de unificação dos programas de transferência de renda para decolar na área social, o ministro do Trabalho, Jaques Wagner (PT-BA), e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, destacaram, em seminário promovido pelo banco, as limitações desse tipo de estratégia como instrumento de inclusão.
Wagner disse que "inclusão se faz via geração de emprego, renda e salário". Ao falar sobre os setores de tecnologia de ponta que buscam agregar o máximo de valor aos seus produtos, o ministro disse que não estava fazendo "palanque" contra esses setores, mas alfinetou: "O problema é como combinar isso com um desenvolvimento que seja inclusivo e não um desenvolvimento que aprofunde o processo de exclusão e que reste, como política social, apenas a política de combate à exclusão via programas de transferência de renda, que na minha opinião são não só insuficientes, mas profundamente pobres para aqueles que querem pensar uma civilização do terceiro milênio".
Wagner disse que "são insistentes as tentativas de afirmar que só é possível atrair investimentos, só é possível crescer admitindo-se uma precarização, uma absoluta desregulamentação do chamado mercado de trabalho". Para ele, "o desafio é produzir uma política econômica na qual o viés do trabalho, do emprego e da renda seja encarado como uma política mais inteligente de inclusão social".
Lessa falou em "exorcizar o recurso a políticas puramente compensatórias para combater a exclusão social". Mais tarde, disse que "a inclusão social é basicamente gerada pelo emprego" e que "as políticas compensatórias representam um substituto parcial e imperfeito da questão do emprego". Questionado se estava se referindo ao Fome Zero, Lessa disse que não estava "avaliando" esse programa. "O ministro [da Segurança Alimentar] José Graziano diz sempre que o seu programa tem um pedaço emergencial e outro estrutural". Ao ser indagado se achava que o governo estava dando enfoque excessivo às políticas compensatórias, Lessa respondeu: "Espero que não".
Ele acrescentou que, ao priorizar investimentos em infra-estrutura e lançar o PPA [Plano Plurianual de Investimentos] para o período 2004-2007, o governo está "colocando em primeiro plano a idéia da retomada do crescimento e da geração de empregos".
As declarações de Lessa e de Wagner foram feitas no seminário "A Inclusão Social pelo Trabalho Decente e o Sistema de Fomento", promovido pelo BNDES e realizado na sede do banco.
A maior parte dos palestrantes era formada por economistas defensores de políticas econômicas mais ativas por parte do Estado, como Ignacy Sachs. João Pedro Stedile, coordenador do MST, também participou do encontro.
Questionado se o seminário era uma crítica ao governo, Lessa disse: "Não representa nem uma crítica nem um apoio". Segundo ele, o BNDES estava desempenhando seu papel de "construir pautas para que a sociedade discuta".


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