São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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Nordeste ainda concentra números ruins

DA SUCURSAL DO RIO

Para o demógrafo Celso Simões, a chance de abater a mortalidade infantil para 20 por mil exige um esforço concentrado no Nordeste -é a mesma visão de alvo principal do ministro da Saúde, Barjas Negri.
Nacionalmente, são necessárias mudanças estruturais, como ampliar o acesso à renda e amenizar o desemprego, afirma Simões. "Houve avanços nos últimos anos, mas os níveis ainda são altos", diz o demógrafo.
A mortalidade de crianças até 5 anos de idade também baixou mais vagarosamente de 1995 a 2000 do que nos cinco anos anteriores. A esperança de vida ao nascer, outro indicador fundamental da qualidade de vida, cresceu na década de 90: de 65,9 anos em 1991 para 68,55 em 2000.
O recrudescimento da violência entre homens de 15 a 39 anos de idade provocou o estacionamento da esperança de vida no Estado do Rio. "O que se ganhou na década de 90 na mortalidade infantil se perdeu depois", diz Simões. Para os homens, a esperança de vida no Rio está na casa de 62 anos. Não fossem as "causas externas" das mortes de homens jovens, deveria ficar entre 64 e 65 anos.
Mesmo com a manutenção da quase secular linha declinante da mortalidade infantil, o Brasil ainda se mantém longe do padrão de 5 a 7 por mil nascidos vivos, faixa considerada como "parâmetro de civilidade" por Celso Simões.
Muitos países americanos têm taxas mais baixas que o Brasil, segundo estimativa para 2000 do Population Reference Bureau com base em dados da ONU. Exemplos: Cuba (7), Porto Rico (11,3), Argentina (19,1), Venezuela e Panamá (21), Trinidad e Tobago (24), Paraguai (27) e Colômbia (28). O Brasil está melhor que, entre outros, Haiti (103), Bolívia (67) e Nicarágua (40).
Em países como Japão, Canadá e Portugal não chegam a morrer antes de 1 ano de idade nem 5 bebês de cada mil que nascem vivos.
Os números brasileiros, maiores do que os de vários países latino-americanos, se devem a motivos históricos, diz Barjas Negri: "As razões são históricas e têm a ver com o processo de desenvolvimento econômico que beneficiou as regiões do Centro-Sul em detrimento, principalmente, do Nordeste. Esse processo provocou grandes desigualdades regionais, afetando os grupos mais vulneráveis, como as crianças".
"A população nordestina historicamente teve muito menos acesso à educação, saneamento básico, mercado de trabalho e renda. Obviamente todos estes fatores têm relação direta com a mortalidade infantil." (MM)



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