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Centro guarda documentos sobre Araguaia
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Ao contrário do que afirmou o
ministro José Viegas, nem todos
os documentos oficiais sobre a
guerrilha do Araguaia (1972-75)
foram queimados.
O ministro poderia consultar,
por exemplo, o CPDOC (Centro
de Pesquisa e Documentação) da
Fundação Getúlio Vargas, no Rio.
A informação sobre a guerrilha
está numa "Apreciação do SNI",
avaliação semanal sobre os movimentos de oposição ao regime
militar que o Serviço Nacional de
Informações produzia para a Presidência da República.
A "Apreciação" é de março de
1974 e foi remetida a Ernesto Geisel, que assumira a presidência no
dia 15 daquele mês. O tópico 4, intitulado "Atividades subversivas", abre com "a. Atuações", cujo
primeiro item são três parágrafos
sobre a situação no Araguaia.
O relatório cita a Operação Marajoara -terceira fase da repressão à guerrilha, realizada entre setembro de 73 e março de 75- e
fala em "destruição dos elementos que ainda se encontram na região", indicando que a ordem era
matar os guerrilheiros, e não
prendê-los.
O texto na íntegra é o seguinte:
"As operações que se desenvolvem na área a SE [Sudeste] do Estado do Pará tiveram seu ritmo
diminuído em conseqüência das
fortes chuvas que vêm caindo sobre toda a região, estando, no momento, praticamente paralisadas.
Contudo, os resultados obtidos
até agora pela "Operação Marajoara" são bastante animadores.
De um efetivo inicial levantado da
ordem de 90 terroristas, restam
na área somente cerca de 20, tendo sido destruídos 54 depósitos
de suprimentos de vários tipos e
neutralizada ou destruída a rede
de apoio que utilizavam.
"Sem contar, agora, com o
apoio dos habitantes locais, os remanescentes permanecem espalhados pela área; segundo os últimos dados colhidos, sua moral é
baixa, e sofrem, ressentindo-se
bastante da falta de suprimentos e
equipamentos.
"Aguarda-se a melhoria das
condições meteorológicas para
reinício das operações visando à
destruição dos elementos que ainda se encontram na região."
Segundo mostra Elio Gaspari
no livro "A Ditadura Escancarada", em 1972 o regime militar ainda prendia militantes do PCdoB
envolvidos na guerrilha -entre
eles o atual presidente do PT, José
Genoino- mas a fase final da repressão não fez prisioneiros. Os
20 a que se refere o relatório do
SNI nunca foram encontrados.
A "Apreciação" faz parte, no
CPDOC, do Arquivo Ernesto Geisel. Está no rolo 01 da série pr
(Presidência) dos microfilmes.
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