São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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Centro guarda documentos sobre Araguaia

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao contrário do que afirmou o ministro José Viegas, nem todos os documentos oficiais sobre a guerrilha do Araguaia (1972-75) foram queimados.
O ministro poderia consultar, por exemplo, o CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação) da Fundação Getúlio Vargas, no Rio.
A informação sobre a guerrilha está numa "Apreciação do SNI", avaliação semanal sobre os movimentos de oposição ao regime militar que o Serviço Nacional de Informações produzia para a Presidência da República.
A "Apreciação" é de março de 1974 e foi remetida a Ernesto Geisel, que assumira a presidência no dia 15 daquele mês. O tópico 4, intitulado "Atividades subversivas", abre com "a. Atuações", cujo primeiro item são três parágrafos sobre a situação no Araguaia.
O relatório cita a Operação Marajoara -terceira fase da repressão à guerrilha, realizada entre setembro de 73 e março de 75- e fala em "destruição dos elementos que ainda se encontram na região", indicando que a ordem era matar os guerrilheiros, e não prendê-los.
O texto na íntegra é o seguinte:
"As operações que se desenvolvem na área a SE [Sudeste] do Estado do Pará tiveram seu ritmo diminuído em conseqüência das fortes chuvas que vêm caindo sobre toda a região, estando, no momento, praticamente paralisadas. Contudo, os resultados obtidos até agora pela "Operação Marajoara" são bastante animadores. De um efetivo inicial levantado da ordem de 90 terroristas, restam na área somente cerca de 20, tendo sido destruídos 54 depósitos de suprimentos de vários tipos e neutralizada ou destruída a rede de apoio que utilizavam.
"Sem contar, agora, com o apoio dos habitantes locais, os remanescentes permanecem espalhados pela área; segundo os últimos dados colhidos, sua moral é baixa, e sofrem, ressentindo-se bastante da falta de suprimentos e equipamentos.
"Aguarda-se a melhoria das condições meteorológicas para reinício das operações visando à destruição dos elementos que ainda se encontram na região."
Segundo mostra Elio Gaspari no livro "A Ditadura Escancarada", em 1972 o regime militar ainda prendia militantes do PCdoB envolvidos na guerrilha -entre eles o atual presidente do PT, José Genoino- mas a fase final da repressão não fez prisioneiros. Os 20 a que se refere o relatório do SNI nunca foram encontrados.
A "Apreciação" faz parte, no CPDOC, do Arquivo Ernesto Geisel. Está no rolo 01 da série pr (Presidência) dos microfilmes.


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