São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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ECOS DO REGIME

Presidente quer que chefe do Gabinete de Segurança Institucional espere até reforma ministerial no fim do ano

Desprestigiado, Félix pede demissão a Lula

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Armando Félix, 65, pediu demissão nesta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lhe fez um pedido: esperasse até a reforma ministerial do fim do ano.
Conforme a Folha apurou, Félix alegou que estava se sentindo desprestigiado e atropelado pelo chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), delegado Mauro Marcelo. Apesar de funcionalmente subordinado a Félix, Marcelo tem despachos diretos com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e com o próprio Lula.
A insatisfação de Félix vem desde maio, quando Lula decidiu mudar a direção da Abin, tirando Marisa Del'Isola Diniz e nomeando Marcelo. Em vez de deixar a escolha a critério do general, Lula escolheu Marcelo, que é delegado da Polícia Civil, e destacou Félix para ir a São Paulo conhecê-lo e formalizar o convite.
Amigo de Lula há muitos anos, Marcelo costuma conversar com o presidente inclusive nos finais de semana. Félix se queixou disso a interlocutores, considerando quebra de hierarquia.
Na avaliação do Planalto e de outros setores do governo, Marcelo está adaptando a estrutura e os quadros da Abin aos "novos tempos", ou seja, promovendo mudanças operacionais e substituindo antigos agentes e militares.
A função do GSI -antiga Casa Militar- é cuidar da segurança da Presidência. Subordinados à pasta estão a Abin, a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) e a Seae (Secretaria de Estudos e Acompanhamento Estratégico), o gabinete de crises do governo.
A Abin tem a função de manter o presidente informado sobre assuntos estratégicos e mantém arquivos oriundos da época da ditadura militar, por exemplo.
Segundo apurou a Folha, a idéia do governo é fortalecer a Abin, vinculando-a diretamente à Presidência. Marcelo assumiu a agência se comprometendo a "modernizá-la": retirar a imagem de "arapongagem" que o órgão tem desde a época do SNI (Serviço Nacional de Informações).
Em razão da crise desta semana por conta de uma nota do Exército enaltecendo a ditadura militar, ontem havia rumores de que um dos cotados para substituir Félix seria o comandante da Força, general Francisco Albuquerque.
Assumindo o GSI, ele deixaria de ser subordinado ao Ministério da Defesa e passaria a responder diretamente ao presidente da República. Esses rumores, porém, não se confirmaram.


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