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ECOS DO REGIME
Três servidores da Comissão de Direitos Humanos da Casa fizeram a catalogação; retratos devem passar por perícia
Em 97, Câmara identificou padre em fotos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
identificou, em 1997, as três fotos
de um homem nu, sob custódia
do Exército, como sendo do padre canadense Leopoldo d'Astous. A identificação foi feita por
três funcionários da comissão,
que receberam as fotos e outros
documentos do ex-cabo do Exército José Alves Firmino.
As fotos foram divulgadas nesta
semana como imagens do jornalista Vladimir Herzog, morto em
1975 em uma cela do Doi-Codi
(SP). Clarice, mulher do jornalista, diz que uma das fotos é dele.
As três imagens foram encaminhadas, identificadas como fotos
do padre, para a Presidência da
República, Ministério da Justiça,
Secretaria de Direitos Humanos,
Ministério do Exército e UnB.
A Folha teve acesso ao relatório
do extinto SNI (Serviço Nacional
de Informações) sobre o padre
Leopoldo d'Astous e a freira Terezinha de Sales. Há cópias dele na
Abin, na Polícia Federal, no extinto Dops (Departamento de Ordem e Política Social) e no setor
de Inteligência do Exército. No relatório estão cópias das três fotos
guardadas na Comissão, que foram divulgadas nesta semana.
O material foi catalogado em
1997 pelo advogado Augustino
Voigt, o atual diretor de Comunicação da Câmara, Márcio Araújo,
e uma servidora não identificada.
À Folha, Araújo e Voigt disseram não se lembrar por que as fotos foram catalogadas como retratos de d'Astous. "Não sei como
foi a identificação, se já estava no
envelope que recebemos, se foi o
cabo Firmino que falou. Sei que
nenhum de nós colocaria o nome
do padre se não tivéssemos sido
informados disso por alguém",
disse Augustino Voigt ontem. O
relatório de 97, feito a pedido da
comissão, não cita Herzog.
O atual presidente da comissão,
deputado Mário Heringer (PDT-MG), solicitou à Câmara autorização para fazer perícia das fotos:
"Elas nunca foram identificadas.
Se alguém fez isso, não tenho como saber. Quando foram publicadas, ninguém imaginava que pudesse ser o padre. Não digo ainda
que é ele, preciso esperar a perícia".
(IURI DANTAS)
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