São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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ECOS DO REGIME

Três servidores da Comissão de Direitos Humanos da Casa fizeram a catalogação; retratos devem passar por perícia

Em 97, Câmara identificou padre em fotos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados identificou, em 1997, as três fotos de um homem nu, sob custódia do Exército, como sendo do padre canadense Leopoldo d'Astous. A identificação foi feita por três funcionários da comissão, que receberam as fotos e outros documentos do ex-cabo do Exército José Alves Firmino.
As fotos foram divulgadas nesta semana como imagens do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 em uma cela do Doi-Codi (SP). Clarice, mulher do jornalista, diz que uma das fotos é dele.
As três imagens foram encaminhadas, identificadas como fotos do padre, para a Presidência da República, Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos, Ministério do Exército e UnB.
A Folha teve acesso ao relatório do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações) sobre o padre Leopoldo d'Astous e a freira Terezinha de Sales. Há cópias dele na Abin, na Polícia Federal, no extinto Dops (Departamento de Ordem e Política Social) e no setor de Inteligência do Exército. No relatório estão cópias das três fotos guardadas na Comissão, que foram divulgadas nesta semana.
O material foi catalogado em 1997 pelo advogado Augustino Voigt, o atual diretor de Comunicação da Câmara, Márcio Araújo, e uma servidora não identificada.
À Folha, Araújo e Voigt disseram não se lembrar por que as fotos foram catalogadas como retratos de d'Astous. "Não sei como foi a identificação, se já estava no envelope que recebemos, se foi o cabo Firmino que falou. Sei que nenhum de nós colocaria o nome do padre se não tivéssemos sido informados disso por alguém", disse Augustino Voigt ontem. O relatório de 97, feito a pedido da comissão, não cita Herzog.
O atual presidente da comissão, deputado Mário Heringer (PDT-MG), solicitou à Câmara autorização para fazer perícia das fotos: "Elas nunca foram identificadas. Se alguém fez isso, não tenho como saber. Quando foram publicadas, ninguém imaginava que pudesse ser o padre. Não digo ainda que é ele, preciso esperar a perícia". (IURI DANTAS)


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