DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao comentar as fotos que a princípio foram identificadas como sendo do jornalista Vladimir Herzog, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Edson Vidigal, disse ontem que o país tem de "olhar para a frente" e que essas questões estão "sepultadas" e "superadas".
Para embasar os seus argumentos, o presidente do STJ evocou o Antigo Testamento e o cantor baiano Raul Seixas, morto em 89.
"A anistia se fez, e a anistia apaga, anistia é o esquecimento. Não ajuda o país remexer nessas fissuras. Tentam mexer nessas feridas que já cicatrizaram", disse Vidigal ontem em cerimônia de entrega da ordem do mérito aeronáutico. "É importante que o país olhe para a frente. Ao olharmos para trás, podemos ficar condenados [assim como] aquelas mulheres do Velho Testamento que olharam para trás e viraram pedras de sal."
A passagem bíblica a que Vidigal se referiu fala sobre a mulher de Ló que, em desobediência a Deus, vira uma estátua de sal ao olhar para atrás quando deixava a cidade em que vivia (Sodoma).
Vidigal disse que "não ajuda o país" mexer nos papéis sobre o período em que Herzog foi morto. "Vamos ver o que diz o pensador", afirmou antes de ler trecho de música de Raul Seixas que dizia: "E agora eu me pergunto, e daí? Eu tenho uma porção de coisas grandes para conquistar, e eu não posso ficar aí parado".
Segundo Vidigal, o tema é "incabível em qualquer agenda do país porque essa questão já foi sepultada, já foi superada pela anistia". O presidente do STJ disse que a "anistia ampla, geral e irrestrita valeu para todo mundo".
O presidente do STJ disse ainda que a própria família de Herzog, pelo que viu nos jornais, não queria remexer no passado. No entanto, disse ser um direito das famílias "saber por onde andam seus desaparecidos".
(JULIA DUAILIBI E EDUARDO SCOLESE)


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